A vitória de Evandro Leitão (PT) na disputa pela Prefeitura de Fortaleza é, também, uma vitória do discurso do "alinhamento político". O petista bateu André Fernandes (PL), no 2° turno das eleições, com uma diferença de pouco mais de dez mil votos, configurando uma das disputas mais acirradas da história da Capital. Evandro estará à frente da gestão de janeiro de 2025 a dezembro de 2028.
Ao fim da apuração, Leitão registrou 716,1 mil votos (50,38%), enquanto Fernandes teve 705,2 mil votos (49,62%). Com isso, o PT voltará a comandar a Prefeitura de Fortaleza 12 anos após a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) terminar seu segundo mandato, dando lugar ao ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), que ficou oito anos no cargo e fez o sucessor, Sarto.
A campanha colocou Evandro e André à prova. Conhecido pela capacidade de articulação política no Legislativo, o petista precisava empolgar uma militância que resistiu a ele já nas prévias do partido e teve de lidar com os percalços naturais de uma primeira campanha para o Executivo, logrando êxito na jornada eleitoral. Do outro lado, André apresentou versão mais moderada, para conquistar outros públicos. Apesar da derrota, o bolsonarista sai mais fortalecido do que entrou na campanha de 2024, abrindo nova frente política na Capital.
Politicamente, há uma perspectiva de águas mais tranquilas para a nova gestão petista. Isto se justifica devido ao alinhamento que o Município terá com o Estado e com a União, ambos também comandados por petistas pelo menos até as eleições de 2026. Este foi um dos principais argumentos explorados pela campanha de Evandro neste ano, que usou das figuras estaduais e nacionais para se viabilizar.
O tal do alinhamento não ocorre com frequência por aqui, sendo esta a primeira vez desde 1990 em que os entes municipal, estadual e federal estarão sob o mesmo guarda-chuva partidário, com Evandro na Prefeitura, Elmano de Freitas no Abolição e Lula no Planalto. Antes disso, o alinhamento envolvia o PMDB (atual MDB) com as gestões Ciro Gomes (Fortaleza), Tasso Jereissati (Ceará) e José Sarney (Brasil).
Avaliar a vitória do petismo, em 2024, sem rememorar o contexto eleitoral de 2022 é impensável. Naquele ano, Elmano era lançado candidato a governador de última hora e venceria em primeiro turno; na esteira de um racha na aliança estadual entre PT e PDT que, embora se opusessem historicamente na Capital, teve efeitos importantes na eleição deste ano. Um dos produtos deste cálculo, inclusive, foi a filiação de Evandro ao PT, vindo justamente das fileiras da sigla trabalhista.
O resultado deve ser observado ainda sob a ótica da polarização, que persiste no País desde que o petismo e o bolsonarismo passaram a figurar como principais forças da esquerda e da direita, respectivamente. Evandro, o candidato de Lula, e Fernandes, o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disputaram voto a voto uma eleição que ganhou ares nacionais e que deu nova chance ao PT neste ano.