Passada a eleição e conhecido o resultado final, alguns questionamentos surgem: quem se fortaleceu? Quem saiu menor do que entrou na disputa eleitoral? O POVO analisa caso a caso e traz uma levantamento sobre como importantes figuras políticas terminam a eleição municipal mais disputada em décadas em Fortaleza.
Começamos com os nomes que saíram mais fortes da eleição na Capital, aqueles que tiveram ganhos políticos e terminam tão ou mais fortes do que entraram na campanha eleitoral de 2024.
Camilo Santana: mesmo quando venceu eleições anteriores, o ex-governador e agora ministro Camilo Santana não tinha vencido na Capital. Em 2024, mesmo com derrotas em alguns municípios, saiu vitorioso em Fortaleza com um candidato que praticamente foi colocado por ele para a disputa. Se o peso de uma possível derrota cairia em suas costas, os louros da vitória certamente estão intrinsecamente ligados a Santana. O choro ao lado de Evandro após a confirmação da vitória mostra o tamanho do peso nas costas que carregava.
Elmano de Freitas: governando o Estado e sem contar com a popularidade de seus correligionários Lula e Camilo, Elmano participou ativamente da campanha e viu a base fazer mais de 150 dos 184 municípios cearenses, em uma clara demonstração de força. A comemoração do fim das brigas com a prefeitura da Capital, após o resultado, demonstra o quão desgastante têm sido os embates com Sarto desde 2022.
Domingos Filho: o ex-vice governador emplacou a filha como vice na chapa petista e reforçou a presença do seu PSD na base governista, além de fazer um bom número de prefeituras. De quebra, viu a esposa Patrícia Aguiar (PSD) reeleger-se prefeita de Tauá, além de conquistar Caucaia, segundo município mais populoso do Ceará, que será mais uma vez comandada por Naumi Amorim.
Guilherme Sampaio: coordenador da campanha de Evandro Leitão, o deputado estadual foi figura forte durante toda a eleição, seja pela presença nos atos de campanha, como também nos bastidores. Cresce como um nome forte na busca do PT local por novas lideranças.
André Fernandes: mesmo tendo sido derrotado, o deputado federal tem muito a comemorar. Ampliou a base de eleitores, fugindo do núcleo-duro do bolsonarismo, viabilizou-se para disputas maiores e mostrou uma faceta de moderador e conciliador que a ainda curta carreira como parlamentar ainda não havia demonstrado. Sai como grande nome da oposição no Ceará, que deve fazer muito barulho nos próximos anos.
Cid Gomes: após a briga com o irmão Ciro e a saída para o PSB, mesmo amargando a derrota em Sobral, liderou sua nova sigla para a conquista de 65 prefeituras no Ceará, sendo assim o partido que mais venceu no Estado. Com a chegada do segundo turno, abraçou a campanha petista - que o PSB já abraçara antes - e conclamou com sucesso os correligionários a invadirem a Capital para 'avermelhar' a cidade. Evandro não cansa de lembrar que foi na gestão Cid que foi secretário e a quem muito deve na vida política.
Jade Romero: a vice-governadora esteve presente fortemente na campanha de Leitão. Liderou a campanha do 'vira-voto' o segundo turno, dirigiu Kombi, bateu na porta de eleitores e ficou vermelha de tanto sol que pegou. Termina a campanha mais reconhecida pela militância e certamente mais forte do que entrou.
Gabriel Biologia: vereador mais votado do campo da esquerda, Gabriel teve uma campanha que repercutiu nacionalmente por não utilizar papéis. Mesmo sem os tradicionais 'santinhos', conseguiu uma das maiores votações na Capital, triplicando a votação de quatro anos atrás. No segundo turno, esteve muito engajado na vitoriosa virada de Evandro Leitão, atuando nas ruas e nas redes.
Priscila Costa: vereadora mais votada de Fortaleza, Priscila cresce como nome forte da direita no Estado. Teve papel central no 2º turno, sendo uma das coordenadoras da campanha de André Fernandes. Sua voz ganhou ainda mais força do que já tinha.
Júnior Mano: o deputado federal ganhou repercussão pelo apoio a Evandro Leitão logo que se definiu a disputa para o segundo turno. A movimentação rendeu reação e pedido de expulsão do PL, mas o fez ganhar força na base aliada do governo cearense. A força com prefeitos eleitos, entrando de cabeça na eleição da Capital, também reforçaram a importância do parlamentar no pleito.
Acilon Gonçalves: o prefeito do Eusébio demonstrou mais uma vez a enorme força que tem na Região Metropolitana de Fortaleza. Elegeu seu sucessor, viu o filho reeleger-se na vizinha Aquiraz, a nora vereadora eleita na Capital, além de uma série de outros prefeitos eleitos em municípios que o circunvizinham. No segundo turno, engajou-se com a família na campanha vitoriosa do candidato do PT, ao tempo que se desfiliou oficialmente do PL.
Algumas figuras políticas tiveram derrotas importantes nas urnas, saindo menores das eleições 2024 do que entraram. Vamos a algumas delas:
Capitão Wagner: derrotado mais uma vez em uma eleição majoritária em que partiu na frente nas pesquisas, o ex-deputado viu ainda a perda do protagonismo da oposição à direita no Estado para André Fernandes, com quem divide a derrota também no segundo turno. Terá o difícil desafio de se manter relevante entre os eleitores de direita e tentar retomar o protagonismo.
Roberto Claudio: ex-prefeito com boa avaliação no público geral, RC já havia tido um duro golpe há dois anos, quando concorreu ao Governo do Estado. Em 2024, as coisas pioraram. Não conseguiu fazer seu aliado, José Sarto (PDT), que estava sentado na cadeira de prefeito, chegar sequer ao segundo turno, na busca pela reeleição. No 2º turno, partiu para uma jogada arriscada, aliando-se à candidatura de André Fernandes, que acabou também derrotada. A grande migração de votos de Sarto para Evandro, somadas às muitas críticas que recebeu pelo posicionamento tomado, deram à vitória de Evandro um sinônimo de superação ante RC. Diante desses pontos, é considerado o maior derrotado dessas eleições. Apostou alto na aliança com a direita bolsonarista, perdendo, assim, respaldo dentro do campo progressista, setor onde alcançou o auge na carreira política. Um capital eleitoral que se esvai ainda mais após essa forte e surpreendente guinada ideológica.
José Sarto: primeiro prefeito da história de Fortaleza a não conseguir reeleição, o pedetista sequer chegou ao segundo turno. Para piorar, embora tenha assumido postura oficial de neutralidade, viu grandes aliados e parlamentares mais próximos da base aliando-se à campanha que acabou derrotada em segundo turno. O tom da campanha e o recado das urnas mostram que dificilmente conseguirá apagar a pecha de 'prefeito da Taxa do Lixo'.
Ciro Gomes: o ex-presidenciável acumulou derrotas direta e indiretamente na eleição. Em Fortaleza, mesmo tendo participado ativamente da campanha de Sarto, recebeu derrota acachapante nas urnas. No segundo turno, a suposta neutralidade proferida não colou e a aproximação com André Fernandes repercutiu nacionalmente, o que pode inclusive custar a permanência no PDT. Os discursos duros e cheios de ódio têm minado a popularidade do ex-governador, e não é algo apenas de 2024.
Eduardo Girão: senador no sexto ano de mandato, insistiu em manter uma campanha onde, além de pouco aporte financeiro, concorria com outras candidaturas que integravam o mesmo campo político. Seguiu quase irrelevante durante todo o processo eleitoral e, em momentos que teve para falar da cidade, insistiu muitas vezes em pautas nacionais e muito além dos problemas de Fortaleza. A baixíssima votação acaba como reflexo desse contexto.
Inspetor Alberto: apesar da reeleição na CMFor, teve dois vídeos viralizados ao final da campanha que muito repercutiram negativamente para a campanha de André Fernandes. Em uma disputa tão acirrada, não faltarão pessoa que atribuam aos exageros do vereador um dos motivos para a derrota do candidato do PL.
Gardel Rolim: como presidente da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), Gardel conseguiu reeleger-se vereador, mas esteve muito ligado à derrota de Sarto nas urnas. No segundo turno, liderou boa parte da bancada do PDT no apoio a André Fernandes, amargando nova derrota.
Élcio Batista: o vice-prefeito saiu de aliado e muito próximo de Eudoro e Camilo Santana, para oposicionista ferrenho, após a cisão PT/PDT, em 2022. Teve protagonismo na gestão pedetista, mas com o fracasso nas urnas, ficará desamparado politicamente a curto prazo.
Luizianne Lins: com seu partido vencendo em Fortaleza após mais de uma década, o normal era associar a uma vitória também da ex-prefeita da Capital. No entanto, não é algo tão simples. Pré-candidata a disputar mais uma vez o cargo, foi preterida pelo próprio partido por alguém que acabara de chegar no PT. As mágoas ficaram evidentes na discretíssima participação na campanha petista em Fortaleza, mesmo com constantes convocações de correligionários. O oposto ocorreu em Caucaia, onde o colega petista Waldemir Catanho contou com a presença constante da ex-prefeita durante o período eleitoral e, apesar de conseguir chegar ao segundo turno, acabou derrotado por grande margem para o ex-prefeito Naumi.