Na próxima terça-feira, 5, Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata, vão disputar o endereço de número 1600 da Pennsylvania Avenue, em Washington (DC), onde está localizada a Casa Branca. Os Estados Unidos escolherá um novo presidente, numa eleição que naturalmente atrai a atenção de outras nações, inclusive do Brasil, pela influência política e econômica que o país exerce mundo afora.
Trump tenta voltar ao poder após ser derrotado por Joe Biden em 2020, presidente que cedeu a vaga na disputa para Kamala, atual vice-presidente, devido a problemas relacionados a questões de saúde. Trump é o mesmo de quatro anos antes, defende pautas anti-imigração, ultranacionalistas e tem postura mais liberal na economia. Já Kamala, de perfil mais progressista, tem uma missão mais árdua que a de Biden. Teve menos tempo para se preparar e compõe gestão que enfrenta desgastes naturais de quem já é governo.
Analistas ouvidos pela reportagem entendem que Kamala seria um cenário mais estável, enquanto Trump pode significar mudanças mais radicais na condução do País. Dito isso, a eleição americana pode influenciar o Brasil em alguns quesitos, como a economia, parcerias ambientais e até mesmo na relação política entre Brasília e Washington.
Trump tem em seu plano econômico a previsão de aumento de tarifas sobre importações e se coloca contrário a incentivos para transição energética. Nesse contexto, o presidente Lula (PT) chegou a sinalizar torcida pela vitória de Kamala. "Como sou amante da democracia, acho que a democracia é a coisa mais sagrada que conseguimos construir, obviamente fico torcendo para a Kamala ganhar as eleições", disse à rádio francesa TF1.
Do outro lado, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não escondem a preferência por uma vitória de Trump, que é visto como precursor de uma nova direita, mais radical. Uma vitória do campo mais à direita nos EUA é interpretada por esse grupo como fôlego para eleições em outros países, guardadas as devidas proporções e os devidos contextos locais.
Iago Caubi, mestre em relações internacionais e pesquisador ligado ao Núcleo de Pesquisa de Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial (GIS-UFRJ), destaca diferenças de perfil da política externa de gestões Democratas e Republicanas. "A política externa democrata tende a ser mais presente em regiões onde os EUA exercem influência mas são consideradas 'periferias', como a América Latina. Enquanto os Republicanos buscam, geralmente, reduzir essa presença quase universal e focam nos grandes parceiros e rivais, como a Europa, a China e a Rússia", pontua, comparando as gestões mais recentes.
A partir da conclusão, Caubi entende que uma vitória de Kamala, para o Brasil, representaria "maiores possibilidades de reforçar a política externa brasileira de mediação de conflitos, uma vez que temos laços fortes com os BRICS, mas também com os EUA". No entanto, ele ressalta que os americanos, independentemente de partido, "são guiados por seus próprios interesses, que nem sempre convergem com os do Brasil", conclui.
Já para a direita, Caubi reforça que, trumpismo e bolsonarismo "são claramente aliados" e usam táticas eleitorais e de retórica similares. "A vitória e fortalecimento de Trump fortalece o bolsonarismo e a retórica anti-imigrante, contra direitos-humanos e de minorias".
Caubi emenda que nem o Brasil nem qualquer país está imune aos efeitos de uma eleição na superpotência ocidental, que influencia de diversas maneiras o seu entorno. "Não estamos blindados a nada que acontece na política internacional, afinal ela e a economia política são fortemente influenciadas por eleições nas grandes potências", pondera.