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Do Barra Pesada a braço direito de 3 governadores
Politica

Do Barra Pesada a braço direito de 3 governadores

Jornalista e um dos principais estrategistas do grupo governista, responsável por batizar projetos como o "Pé-de-Meia" e o "Meu Celular", Chagas Vieira retornou ao Abolição após dois anos. Ela conta como se aproximou de Camilo, principalmente nas crises
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 17.12.2024: Chagas Vieira, Secretário-chefe da Casa Civil. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 17.12.2024: Chagas Vieira, Secretário-chefe da Casa Civil. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Assim como um time vencedor precisa de um bom técnico, um bom governo precisa de uma Casa Civil competente. No esporte, o treinador tem a percepção mais clara, orienta e enxerga o próprio time com visão estratégica. No governo, o titular da Casa Civil tem o papel de gerenciar e articular as ações, Trabalha na coordenação, integração e avaliação. Assim como o treinador, o secretário da Casa Civil também precisa fazer rearranjos quando algo não sai como o esperado.

É nessa perspectiva que o jornalista Francisco das Chagas Cipriano Vieira, 53 anos, natural de Paracuru, município distante 90,61 km de Fortaleza, retorna ao governo do Ceará para reassumir a secretaria da Casa Civil, desta vez na gestão do governador Elmano de Freitas (PT). Chagas acumula passagens pela pasta com três governadores: Camilo Santana (2018-2022), Izolda Cela (abr-dez 2022) e o próprio Elmano de Freitas (2023-2026).

O comunicador tem relação profissional e de amizade com Camilo desde 2014, na primeira campanha do petista para o governo, à época da sucessão de Cid Gomes. A trajetória anterior perante o público é no jornalismo. Inclusive como um dos rostos do Barra Pesada, famoso programa policial da TV Jangadeiro.

Em conversa com O POVO, Chagas Vieira falou sobre passado, presente e futuro. Lembrou da trajetória na comunicação e no governo; explicou os detalhes do retorno à vida pública e da relação com políticos que comandam o Ceará; além de traçar metas e explicar como migrou da área do jornalismo para uma das principais pastas do Palácio da Abolição.

Comunicação

Na comunicação, Chagas atuou na reportagem, como apresentador e em cargos de gestão. Além do Ceará, esteve na Bahia, onde foi superintendente de outro sistema de comunicação, o SBT da Bahia. Nesse meio tempo também prestou consultoria para empresa de comunicação em Pernambuco.

“Entrei na Jangadeiro no 3° semestre da Comunicação. Eu comecei no rádio, no Interior, com 15 anos e na Jangadeiro estagiei com 18 anos de idade. Aos 23 anos eu já estava praticamente comandando o Barra, como diretor e também fazia reportagem. Teve um momento em que eu dirigia, era repórter, apresentava, fazia tudo. Depois fui diretor de Jornalismo. Na verdade, me ajudou muito, porque eu estava muito perto das comunidades. E mesmo na época do Barra, que tinha um certo preconceito por ser um programa de natureza policial, eu busquei fazer algo diferente. Tentei tirar só da linha policial e levar para a coisa da prestação de serviço e de fazer um trabalho de comunidade”, lembra.

Chagas conta que, à época em que atuou no programa, poucas pessoas formadas em Comunicação entravam na área policial, por ser considerada de menor prestígio. “Isso nunca foi empecilho para nada, me orgulho da minha trajetória, fez parte da minha vida, foi um momento em que estive muito próximo das comunidades, conversando com as pessoas e lideranças. Pude sentir o drama das pessoas”.

O secretário conta que essa passagem o ajudou, inclusive, na atuação dentro do governo. “Quando tive que me deparar com determinadas situações, consegui enxergar soluções porque estive lá, na rua, conversei com as pessoas, vi a realidade delas. Eu não cresci em gabinete. É o último lugar em que gosto de estar. Vou porque tenho de estar”, comenta o jornalista, que diz que poucos enxergavam alguém da comunicação indo para a Casa Civil.

“Muitas vezes, enxergam a pessoa da comunicação como um sonhador, alguém cheio de ideias, mas pouco efetivo. Eu sinto um pouco de preconceito nesse sentido, das pessoas que achavam que quem esteve na área da comunicação não poderia avançar, ser um grande gestor, ter planejamento e minha ida para lá quebrou isso”, explica.

Para Chagas, o comunicador tem, por natureza, uma visão macro e vê as coisas de uma forma holística, sistêmica e interligada. Ele revela ainda que essa veia de planejamento já pulsava mesmo antes de entrar no governo pela primeira vez. “Quando estava na comunicação, criei o núcleo de estatística, contratei cinco pessoas para analisar audiência e comportamento do telespectador. Qualquer modificação na grade, só fazia com base em números. Eu não fazia TV para mim, fazia para as pessoas. Eu tinha números”, diz.

E segue: “É necessário ter um planejamento, uma base, fazer as coisas de forma técnica. Eu me rendo muito a números. No governo, sempre investi em pesquisa, nas campanhas, a pesquisa diz isso, então é isso. Nossa capacidade é saber ler essas pesquisas, criar estratégias e ter ideias para executá-las. Não adianta só achar que sabe tudo”.

Relação com Camilo

Chagas conta que a proximidade e relação de confiança com o ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana foi construída ao longo dos anos. Até 2014, quando foi chamado para fazer a campanha do então candidato ao governo, Chagas revela que não tinha relação com Camilo. “Eu não o conhecia. Sabia que ele era secretário e deputado, mas não tinha nenhuma relação com ele. A relação começou a se criar na campanha de 2014”, conta.

Em momento posterior ao pleito, Chagas foi convidado a compor o governo, na área da comunicação, mas disse que Camilo o foi levando para outros temas. “Aos poucos, ele foi me inserido nas discussões que não diziam respeito somente a parte da comunicação, começou a me envolver mais, principalmente nos momentos de crise”, diz.

Ao O POVO, ele citou parte dos desafios que o aproximaram do governador e pavimentaram o caminho rumo à Casa Civil, pasta que assumiu em dezembro de 2020, a convite do petista. “Os ataques de facções, o motim (da Polícia), a pandemia (de Covid-19). Nesses momentos mais difíceis, ele instituia gabinetes de crise e me inseria nesses gabinetes para ajudar não apenas na parte de comunicação, mas de outras formas”.

Foram nesses momentos de crise que Chagas e Camilo estreitaram vínculos, o que culminou na participação do jornalista na campanha de 2018, quando Camilo foi reeleito com ampla margem (cerca de 80% dos votos). Chagas revela que não pretendia continuar na gestão, mas por um pedido do governador reeleito, reconsiderou.

“Ali o nível de confiança e proximidade era maior. Ele me convidou para continuar no segundo governo. Num primeiro momento eu resisti, mas ele pediu para eu ficar pelo menos parte do segundo mandato. Então iniciei o segundo governo com ele, e acabei ficando até o final. Fiquei até mais, porque ele saiu em abril e eu permaneci com Izolda”. Chagas recebeu convite de Camilo, inclusive, para assumir função no Ministério da Educação (MEC), mas recusou respeitosamente e manteve proximidade com o ministro.

Ele permaneceu no cargo até o fim de 2022, quando a governadora era Izolda Cela. Foi convidado para seguir no início da gestão Elmano, em 2023, mas recusou. Agora, dois anos depois, reconsiderou e retornou ao cargo com status de articulador.

“Estou indo para o terceiro governador. É um cargo de muita confiança. Fiquei fora esses dois últimos anos, realmente, por decisão minha. Fui convidado por Elmano para continuar, mas naquele momento foi uma decisão pessoal de voltar para a iniciativa privada. Tocando projetos. Recentemente ele voltou a me procurar, pediu para retornar e eu aceitei. Nesse intervalo, nunca perdi o vínculo com eles. Tenho uma relação muito boa com Elmano”.

Estrategista

Internamente, Chagas Vieira é apontado como um articulador e estrategista que esteve por trás das últimas grandes vitórias eleitorais dos petistas no Ceará. Ele atribui essa imagem à confiança que logrou nos últimos dez anos.

“Com o decorrer do tempo, Camilo começou a me envolver nessas discussões, inclusive nos períodos de campanha e de eleições. Assim foi com ele na campanha de reeleição (2018), quando foi o mais votado. Assim foi na campanha de Elmano, em 2022, e não só na campanha em si, mas em toda a pré-campanha, quando houve aquele rompimento do grupo político. E depois disso, também na campanha do Evandro (2024)”.

Chagas diz que a relação e as estratégias são discutidas em grupo e que o alinhamento é crucial. “A gente compartilha informações, compartilha as percepções e também as decisões. É tudo muito conversado. Eu acabo entrando nesse contexto também”, diz.

Retorno à Casa Civil

O retorno à Casa Civil é marcado por um momento em que Elmano faz uma reforma no secretariado com o intuito de acelerar processos e entregas, tendo no horizonte a eleição de 2026 e o projeto de reeleição. Chagas projetou ações e falou sobre os motivos que o levaram a aceitar o convite, dois anos após recusar a permanência no cargo.

“Chego pelo desafio, pelo senso de grupo e por acreditar no projeto. Acredito no Elmano, é uma pessoa com quem tenho uma relação muito boa e muito respeitosa. Acredito na figura dele como gestor e acho que posso dar minha contribuição. Você pergunta: ‘Por que eu não aceitei naquele momento e aceito agora?’ É uma boa pergunta. Porque são momentos diferentes da vida. Foi um período em que pude desenvolver outros projetos, oxigenar as ideias, eu me sinto hoje até mais preparado para contribuir”, relata.

Pretensões políticas?

A proximidade de Chagas com forças políticas relevantes no Estado e seu status dentro do governo geram, naturalmente, indagações sobre suas pretensões políticas. Ele é categórico ao falar sobre o tema e nega qualquer intenção de se candidatar a cargos eletivos.

“Zero (pretensão). Tenho como contribuir de outras formas. Em outros momentos já houve possibilidades e, definitivamente, com todo o respeito, não é nisso que eu me enxergo. Não encaro essa missão como projeto político pessoal ou de poder, mas como uma grande oportunidade de contribuir com o Estado. Já dei minha contribuição e sei que ainda posso fazer mais. Estou com disposição para fazer isso. O que quero buscar é que os resultados melhorem cada vez mais. Não tenho nenhuma, zero pretensão de me candidatar”.

Denominador comum

Chagas embarcou no governo pela proximidade com Camilo, mas hoje é um denominador comum nas campanhas petistas. Assim foi com Camilo, Elmano e Evandro. Outra função que assumiu indiretamente — talvez pela veia de comunicador —, foi a de denominar projetos que estão em curso ou entrarão em breve.

A nomenclatura do projeto “Pé-de-Meia”, uma das principais novidades no governo federal e menina dos olhos do MEC, é atribuída a Chagas, que contou ter dado a sugestão de denominar o programa assim a Camilo, via ligação telefônica. Além disso, nomeou programas na gestão Elmano (Meu Celular) e para Evandro (Ligeirinho).

“É verdade. Quando o Camilo foi para o MEC, mesmo eu não fazendo parte da pasta, nossa relação sempre existiu. Várias ações do MEC a gente bateu bola, conversamos, eu colaborava. Num desses casos, ele começou a desenvolver o Pé-de-Meia, essa poupança para jovens do ensino médio. E a gente conversando, ele disse que as agências do governo estavam, há semanas, pensando em uma denominação e não chegavam a uma decisão”.

Prosseguiu: “Como eu venho da comunicação, gosto disso. A gente conversando, ele me deu essa missão. Algumas horas depois eu liguei para ele e disse, ministro, estou com o nome na cabeça, é diferente e as pessoas podem estranhar num primeiro momento. Mas você tem que ousar. O nome vai pegar, todo mundo sabe o que é isso e é uma das lógicas do programa que é o ‘Pé de Meia’. Ele ouviu e adorou, estava numa reunião do MEC e colocou no viva voz para eu falar para outros diretores do MEC, Enfim e foi assim”, conta.

Além disso, disse ser o responsável por nomear o programa de devolução de celulares roubados ou furtados, do governo Elmano, o “Meu Celular”; e de uma promessa de campanha de Evandro, que visa acelerar processo de abertura de empresas e emissão de documentos nas regionais de Fortaleza, o “Ligeirinho”.

“Outros programas que passaram por aí que eu acabei nominando. Na campanha do Evandro tem o ‘Ligeirinho’, que é para criar núcleos de agilizar documentação nas regionais. Aí estavam com essa ideia e perguntaram, como vai ser o nome, e eu disse: é o ligeirinho. Outro exemplo, o programa do governo Elmano, da devolução de celulares”.

Futebol

Torcedor do Fortaleza, Chagas diz que, ao entrar no governo, passou a ver com outros olhos a relação com o futebol e que brinca com os líderes políticos. “Sou leão. É o laion não tem jeito, de novo na Libertadores. Eu brinco muito porque o Elmano é Ceará, o Evandro é Ceará e o Camilo é Icasa”.

Como gestor, diz que torce para o futebol cearense e pelos benefícios que clubes de futebol fortes no cenário nacional e internacional trazem ao Estado.

“Depois que entrei para o governo eu torço pelo futebol cearense. Torci agora para o Ceará subir. Porque quando a gente entra num projeto como esse, a gente enxerga além. O próprio Elmano ficou feliz do Fortaleza ir para a Libertadores. Isso tudo é muito bom para a gente, para autoestima, para a economia. A gente brinca, gosta, mas no fundo torcemos pelo melhor para o Estado”.

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