Hoje na presidência nacional do PDT, o deputado André Figueiredo não descarta Ciro Gomes como candidato a presidente mais uma vez. Em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, ele demonstrou, porém, confiança de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode conseguir mais um mandato. Todavia, num cenário em que nem Lula nem Jair Bolsonaro (PL) sejam candidatos, "eu vejo que o Ciro tem uma viabilidade que tem que ser rediscutida", afirmou. A manifestação de um importante aliado de Ciro no Ceará evidencia a percepção generalizada no meio político: a hegemonia praticamente absoluta de Bolsonaro e Lula no cenário atual.
O problema para os respectivos campos políticos é que um está inelegível e o outro sente efeitos da idade e de problemas de saúde.
Em reunião na última segunda-feira, Lula mudou o tom a respeito de ser candidato em 2026. Afirmou que dependerá da "vontade de Deus" e da saúde dele.
Petistas evitam sequer cogitar a possibilidade de não ter Lula como candidato. Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT) entende que o presidente fez "um charme". O fato é que nenhuma das opções à esquerda se aproxima da viabilidade eleitoral.
Jair Bolsonaro resiste a discutir alternativas a ele pelo campo conservador. Na última semana, ele demonstrou não considerar sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, nem mesmo para representá-lo na posse de Donald Trump. O ex-presidente afirmou função foi dada a seu filho Eduardo Bolsonaro (PL), e não a esposa.
"Eduardo que me representa, ele é meu filho, pô, é mais do que representar, a confiança é 100%". Conforme o ex-presidente, Michelle "obviamente não trata esses assuntos".
Se ele não a considera apta para representá-lo numa solenidade, iria vislumbrá-la como presidente da República? Na quinta-feira, 23, Bolsonaro comentou o desempenho dela em pesquisa e afirmou não ter resistência. Mas, com uma condição. "Não tenho problemas (em Michelle ser candidata), seria também um bom nome com chances de chegar. Obviamente, ela me colocando como ministro da Casa Civil, pode ser".
Pesquisa AtlasIntel evidencia que a dupla Lula e Bolsonaro não tem, nem de longe, nomes que se aproximem em relevância política dentro de seus respectivos espectros políticos.
No caso de Bolsonaro, há um impedimento legal para que concorra a um novo mandato presidencial. Ele foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não podendo participar de eleições até 2030.
A menos que haja uma improvável reviravolta nessa questão, a direita terá que buscar um novo candidato para representá-la em 2026. Ou mais de um.
Quanto a Lula, em termos legais, não há qualquer impedimento para que concorra em 2026 a um quarto mandato. A popularidade do presidente segue praticamente estável desde o início da gestão, com avaliação positiva do mandato equivalente à negativa, uma amostra de que a polarização da política brasileira segue com força.
O petista, porém, não é mais nenhum garoto. Aos 79 anos, chegaria à próxima eleição com 81 e, em um futuro mandato, ficaria até os 85 como presidente. Lula já venceu um câncer anos atrás e, em 2024, sofreu queda que o obrigou, alguns meses depois, a passar por uma cirurgia na cabeça.
A saúde do presidente preocupa aliados políticos e é algo apontado como problema para ele pelos adversários.
Lula foi candidato à Presidência, pela primeira vez, em 1989. Já são mais de três décadas e meia na condição de grande nome da esquerda no Brasil. O mérito de aglutinar forças mostra poder de liderança fora do comum. Por outro lado, nem Lula e nem o Partido dos Trabalhadores jamais conseguiram dar relevância parecida a outros nomes de aliados, pavimentando um caminho para que fossem reconhecidos pela população como sucessores naturais.
As opções da direita sem Bolsonaro
No campo da direita brasileira, Pablo Marçal e Nikolas Santos despontam como alternativas para o futuro, como mostra a pesquisa AtlasIntel.
"Quando a gente observa esse dado, são aqueles que têm mais visibilidade midiática. Não necessariamente de uma TV aberta, mas da mediatização da visibilidade, o alcance das redes", explica Paula Vieira, cientista política.
A pesquisadora vê no perfil de ambos semelhanças ao de Jair Bolsonaro quando se lançou exitosamente candidato em 2018.
"São os nomes que possuem mais visibilidade nas redes, a gente vê que predominam os 'outsiders' da política, porque o Jair Bolsonaro, embora sempre tenha tido mandato, ele não era necessariamente ativo como um político de direita".
Paula acredita que, em uma disputa pela sucessão de Bolsonaro no "comando" da direita, ou mesmo uma corrida presidencial, eles gerariam grande interesse logo de "cara". A professora pondera, no entanto, que diante da competitividade e do acirramento de uma disputa eleitoral, eles tenderiam a ter uma queda nas intenções de voto para candidaturas mais convencionais, como Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), governadores, respectivamente, de São Paulo e Goiás.
A cientista política lembra que Caiado tem larga experiência de militância no campo da direita, além de trajetória no Legislativo e no Executivo.
Personagem em alta na mídia, o governador de São Paulo não pode ser ignorado pelo potencial de votos que poderia aglutinar, apesar de trazer "sempre a dúvida se vai se distanciar do bolsonarismo ou se vai reforçar o bolsonarismo", como considera a cientista política.
Bolsonaro mesmo avaliou o nome da dupla. De Tarcísio, o ex-presidente disse que era preciso conversar com o povo para saber se o governador estava "maduro". De Caiado, pontuou que ele seria conhecido apenas em seu estado.
As alternativas à esquerda após Lula
A cientista política e professora universitária e pesquisadora Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Paula Vieira, vê semelhanças no resultado da pesquisa AtlasIntel sobre o melhor político para liderar a esquerda, em relação ao que se observa sobre a direita.
Por já ter sido prefeito de São Paulo, candidato ao governo de São Paulo e a presidente e, hoje, ser ministro da Economia, já se esperaria que Fernando Haddad (PT) fosse apontado como sucessor natural na esquerda.
"Mesmo assim, a intenção de voto (de Haddad) é muito baixa. E quem é que tem a intenção de voto alto, quem mobiliza? Quem está conseguindo mobilizar as redes sociais: João Campos, o (Guilherme) Boulos. E os dois, além de conseguirem mobilizar bem as redes sociais, eles já são nomes conhecidos", pontua.
"O Haddad já passou pelo processo eleitoral anterior. As medidas no ministério, que ele vem tomando em relação à economia, são bem impopulares. Isso também dificulta a adesão (ao nome dele) como possibilidade de ser a liderança que irá herdar os votos da esquerda", argumenta.
A professora lembra ainda que Boulos também já vem acumulando desgastes de outros processos eleitorais, certamente tendo hoje maior rejeição do que Campos, por exemplo.
Por falar em desgaste, outro nome bastante conhecido que aparece pouco popular na pesquisa é o do várias vezes candidato Ciro Gomes (PDT). As críticas a Lula e ao governo petista, fomentando até ataques ao campo da esquerda, parecem ter minado a popularidade que um dia já obteve com esse público.
Na análise de Paula Vieira, a presença de João Campos com relevância na pesquisa é algo a se observar. "João Campos tem uma super aprovação, mobiliza bem as redes sociais, conta com o capital político herdado da família e já tem o seu próprio capital político. Então, ele, até este momento, tem disparado como uma liderança", avalia.
Para ela, há ainda a favor do prefeito do Recife o fato de que ainda não chegou a um ápice da carreira na política, o que pode ampliar sua competitividade a longo prazo.