Para a maior parte dos eleitores, a eleição de maior visibilidade é para os cargos no Poder Executivo. No caso do município, para prefeito. Porém, poucas disputas são tão agressivas quanto a busca pelo controle dos redutos eleitorais entre candidatos a vereador nos bairros. Invasões de bases podem ser motivo de crises inclusive entre aliados.
Entre as eleições de 2020 e as de 2024, houve 38 bairros onde vereadores já haviam sido os mais votados e conseguiram manter o domínio eleitoral. Quem mais reprisou vitórias foi Adail Júnior (PDT), mais votado nas duas últimas eleições nos bairros Antônio Bezerra, Autran Nunes e Quintino Cunha, e Gabriel Aguiar (Psol), em Dionísio Torres, Bairro de Fátima e São Gerardo.
Claudia Gomes (PSDB), Didi Mangueira (PDT), Estrela Barros (PSD), Márcio Martins (União Brasil), Michel Lins (PRD), Ppcell (PDT), Raimundo Filho (PDT) e Wander Alencar (Agir) foram outros candidatos a vereador que conseguiram ser os mais votados no mesmo bairro tanto em 2020 quanto em 2024.
Porém, em 59 bairros, houve mudança no candidato a vereador mais votado entre uma eleição e outra. Quem mais saiu vitorioso nos lugares onde a hegemonia antes era de outros políticos foi Gabriel Aguiar (Psol): nove bairros. O número total de bairros nos quais ele foi o mais votado — 15 — supera a soma entre velhos e novos bairros nos quais ele venceu devido à diferença nos dados do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), que não registrava o endereço de locais de votação em determinados bairros em 2020.
Na sequência, Bruno Mesquita (PSD), atual líder do prefeito Evandro Leitão (PT) na Câmara Municipal, venceu em quatro redutos antes dominados por outros candidatos.
Avançaram sobre três bairros Paulo Martins (PDT) e Juninho Aquino (Avante) — este último, em dois deles foi o mais votado onde antes a mais votada era Enfermeira Ana Paula. Os dois travam disputa que chegou a envolver agressão física dela contra ele na Câmara Municipal. Ana Paula não foi candidata em 2024 e apoiou o marido, Márcio Cruz (PCdoB), que ficou na suplência. Assim como Juninho Aquino.
Bairros em que o mais votado não se elegeu
Há bairros em Fortaleza nos quais o candidato mais votado para vereador não foi eleito para a Câmara Municipal. O levantamento feito pelo O POVO registrou o padrão em 40 bairros da Capital.
Em locais como Bom Jardim, Parangaba, João XXIII, Maraponga, Cais do Porto, Mucuripe, Lagoa Redonda e outros, os candidatos mais votados não se elegeram diretamente. A maioria ficou na suplência. Ao todo, Fortaleza conta 121 bairros atualmente, mas a Justiça Eleitoral contabiliza a distribuição de locais de votação em 110 localidades.
Veja abaixo o nome, quantidade de votos e bairros dos candidatos mais votados que não conseguiram uma vaga direta na Câmara Municipal de Fortaleza. (Vítor Magalhães)
Bairros tiveram sucessões familiares
Em pelo menos sete bairros houve sucessões familiares — o candidato mais votado em 2024 era familiar do mais votado em 2020, e recebeu apoio do parente, que não concorreu no ano passado.
O caso de transferência de voto em família com sucesso em maior quantidade de bairros envolveu os Henrique. Jânio Henrique (PDT) herdou bases eleitorais do irmão, Antônio Henrique (PDT), hoje deputado estadual. Foi o campeão de votos em quatro bairros onde o irmão havia vencido quatro anos antes: Canindezinho, Conjunto Esperança, Parque Presidente Vargas e Parque Santa Rosa.
Outro ex-vereador que virou deputado, Carmelo Neto (PL) viu a esposa, Bella Carmelo (PL), ser a mais votada no Meireles, onde ele havia conseguido o maior número de votos em 2020.
Em Messejana, Marcel Colares (PDT) foi o mais votado, marca alcançada em 2020 pelo irmão dele, Renan Colares. Ambos são filhos do deputado estadual Fernando Hugo (PSD).
No Parque Santa Maria, a maior votação foi de Gabriel Freire (PDT), que ficou na suplência. Em 2020, o mais votado havia sido o pai dele, ex-vereador José Freire.
Canindezinho
Conjunto Esperança
Parque Presidente Vargas
Parque Santa Rosa
Meireles
Messejana
Parque Santa Maria
Psol e PL fortes nos bairros mais ricos
A polarização política nacional entre direita e esquerda encontrou a melhor expressão em Fortaleza, na eleição para vereador no ano passado, nos bairros mais ricos. Os três vereadores mais votados da Capital, em números totais, Gabriel Biologia (Psol); Bella Carmelo e Priscila Costa, ambas do PL, repetiram o "pódio" no microcosmo de alguns dos bairros onde vive a elite da Cidade.
O PL é o partido mais à direita que disputou a eleição na Capital. O Psol é o mais à esquerda entre as legendas representadas no Poder Legislativo municipal.
O eleitor da Aldeota deu a Gabriel, Priscilla e Bella as maiores votações de cada um deles em um único bairro. No caso de Gabriel, a votação foi a mais expressiva (2.243 votos). (Vítor Magalhães)
Psol e PL
André Fernandes ficou na frente em metade dos bairros nos quais mais votado foi do Psol
Gabriel Aguiar (Psol), vereador de esquerda, foi o mais votado em 15 bairros por Fortaleza. Em 7 deles, o deputado federal André Fernandes (PL), de direita, foi o mais votado tanto no primeiro quanto no segundo turno da eleição para prefeito
Na maioria dos bairros em que pedetistas venceram Evandro virou sobre André do 1º para o 2º turno
As eleições de prefeito e vereadores estão atreladas. Candidatos a vereador se engajam em apoio a quem disputa Prefeitura e vice-versa. Quem tem presença mais intensa na localidade é um apoio mais valioso.
O PDT, partido do então prefeito José Sarto e que elegeu a maior bancada, de oito vereadores, teve o candidato a vereador mais votado em 28 bairros. Em apenas 3 deles, o hoje prefeito Evandro Leitão (PT) foi o mais votado no 1º turno para prefeito. André Fernandes (PL) foi o candidato a prefeito mais votado em 25 bairros nos quais o mais votado para vereador foi pedetista.
Porém, no 2º turno, o cenário nesses bairros mudou. Em 14 deles nos quais André havia sido o mais votado no 1º turno, Evandro Leitão virou e teve maioria de votos no 2º turno. No geral, Evandro venceu, no 2º turno, em 17 bairros nos quais os candidatos a vereador do PDT tiveram maioria. André manteve vantagem em 11.
O então prefeito José Sarto foi o candidato do PDT a prefeito. No 2º turno, ele não declarou apoio, mas Roberto Cláudio e vários dos principais aliados do então prefeito aderiram a André Fernandes. Como levantamento exclusivo do O POVO já havia apontado, apesar disso, nos principais redutos do então prefeito, quem mais avançou no 2º turno fou Evandro. Outros líderes pedetistas, como o deputado federal André Figueiredo, apoiaram Evandro.