As pesquisas de popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viraram motivo de preocupação entre integrantes da administração e da base aliada. O levantamento Datafolha mais recente, divulgado em 14 de fevereiro, foi um soco no estômago do Planalto, dando à gestão Lula 3 o pior nível de aprovação de todas as passagens do petista pelo poder. Além disso, serviu como alerta para a gestão, que deverá acelerar ações e mudanças antes da eleição que se projeta no horizonte político.
O Datafolha apontou a mesma tendência que outras pesquisas já mostravam: desaprovação superando a aprovação. Entretanto, mostrou uma realidade mais dura, indicando que a aprovação desabou para 24%, enquanto a desaprovação chegou a 41% (ver gráfico). Em dezembro do ano passado, o mesmo instituto mostrava que o governo era aprovado por 35% da população e desaprovado por 34%. A margem de erro geral do último levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Quando analisado por segmentos, o cenário também preocupa. Considerando os gêneros, o governo viu uma queda de 14 pontos percentuais no público feminino. 38% das mulheres aprovavam a gestão em dezembro, número que caiu para 24% e empatou com a aprovação do público masculino, que em dezembro registrava 33%.
No Nordeste, região onde tradicionalmente Lula mostra mais força, houve queda de 16 pontos percentuais na aprovação. 33% dos entrevistados consideram o governo ótimo ou bom (eram 49% antes). A margem de erro para a região é de 4 pontos. Apesar disso, o Nordeste é a única região em que a aprovação supera numericamente a desaprovação (33% vs 30%)
Um dos diagnósticos apontados nos bastidores do Planalto é de que a queda acentuada tem a ver com a alta no preço dos alimentos e que as primeiras ações devem ser tomadas no intuito de mitigar o problema. Uma reunião de Lula com empresários do setor alimentício já estaria prevista e cobranças a ministros de pastas dessas áreas e de outras correlacionadas devem ocorrer com urgência.
O POVO ouviu especialistas sobre os motivos que podem ter levado o governo Lula a chegar ao terceiro ano de mandato assim e a viabilidade de reverter o quadro atual. A cientista política Juliana Fratini considera que a má avaliação do governo passa por uma composição de pastas enfraquecidas que estão sob a tutela de um único líder forte, o que prejudica o andamento da máquina como um todo.
“É um governo com ministérios enfraquecidos, que lida toda hora com teto de gastos e uma única liderança forte (Lula). O presidente não consegue e não pode dar conta de tudo. A ausência de coesão, por sua vez, enfraquece o próprio presidente. Ademais, existe falta de criatividade e uma baixa capacidade de resposta para o público”, destaca.
A especialista considera que a alta no preço dos alimentos tem papel relevante no desempenho. “Pesa muito, as pessoas precisam sobreviver. A sensação é de que a infraestrutura básica da vida não funciona. Este seria um bom momento de o Governo valorizar o setor, do Agro aos pequenos produtores, mas falta essa criatividade”, diz.
Fratini cita ainda que a percepção negativa da população e que ela não se resume apenas ao aspecto econômico. “É mais profunda. É cultural. Exemplo são os setores evangélicos que não dialogam com o governo. É preciso entender a necessidade de haver um choque de valores e isso é bastante improvável pelo histórico do Governo desde a sua concepção”.
Paula Vieira, pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), projeta que o terceiro ano do governo Lula será decisivo para o desenrolar da gestão e eventuais pretensões de reeleição do presidente ou a eleição de um sucessor.
“Será o ano em que se conseguirá dar uma cara ao governo Lula 3. É importante também observar a relação com as novas presidências no Congresso. Chamo atenção para o Congresso porque o diálogo entre Executivo e Legislativo, de maneira mais equilibrada, faz com que seja possível dar respostas mais direcionadas às populações locais”, pontua.
Sobre a má avaliação, Paula destaca que a alta dos preços não só dos alimentos, mas de modo geral, é um critério definidor. “As classes sociais se veem com menos mobilidade e menos poder de compra, esse parâmetro acaba sendo um critério importante para a população. A alta de preços dos alimentos e serviços sufoca, nessa perspectiva de ascensão social, porque o dinheiro não está mais rendendo”, explica.
Um contraponto citado por especialistas é a promessa de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, que deve passar a valer em 2026 (ano da eleição). Entretanto, eles apontam que apenas isso não deve ser capaz de reverter o quadro político, que é mais grave.
Paula chama a atenção ainda para a dificuldade que o governo tem de construir uma nova liderança, e aponta este como um caminho possível de recuperação a longo prazo.
“Não há uma clareza sobre quem seria o candidato sucessor do Lula, a gente não vislumbra ainda a construção de uma liderança que possa garantir a sucessão. Isso também deixa dúvidas para algumas parcelas da população sobre o desempenho do governo”, termina.
Pesquisa Ipec divulgada no último dia 15, mostrou que 62% dos entrevistados entendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deveria se candidatar à reeleição em 2026, na tentativa de chegar a o quarto mandato como presidente brasileiro. Já 35% apontam que Lula deveria tentar um novo mandato presidencial, enquanto 3% não souberam ou não responderam.
A pesquisa mostra oscilação dentro da margem de erro (2 pontos percentuais para mais ou para menos) se comparada com o levantamento anterior, realizado em setembro de 2024. Na última pesquisa, 58% se disseram contra uma nova candidatura de Lula, enquanto 39% eram a favor.
O Ipec entrevistou, pessoalmente, duas mil pessoas aptas a votar entre os dias 6 e 10 de fevereiro de 2025, em 131 municípios brasileiros. A pesquisa tem nível de confiança de 95%.
Os que disseram ter votado em Lula, no pleito de 2022, e que acreditam que ele não deve concorrer somam 32% dos entrevistados. Já entre os que declararam ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os que não apoiam uma eventual tentativa de reeleição de Lula somam 95%.
Aprovação de Lula entre católicos caiu de 42% para 28%, segundo Datafolha
A queda da aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve maior queda entre os católicos. Nesse campo religioso, o governo Lula foi considerado "ótimo ou bom" por 28% - em dezembro de 2024, eram 42%.
A aprovação dele entre evangélicos também diminuiu no período: passou de 26% para 21%. O levantamento entrevistou 2.007 eleitores em 113 municípios do Brasil nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2025.
A margem de erro é de três pontos percentuais para católicos e de seis pontos porcentuais para evangélicos, para mais ou para menos.
A pesquisa Genial/Quaest divulgada no dia 27 de janeiro indicou rejeição mais expressiva dos evangélicos ao presidente, com o grupo entre os que menos aprovam seu desempenho na gestão atual. Nesse recorte, 37% avaliaram Lula positivamente, e 59% rejeitaram o petista.
O crescimento desse grupo demográfico pode representar uma ameaça a uma eventual reeleição de Lula. É o que aponta levantamento da empresa de gestão de ativos Mar Asset Management, que projeta que os evangélicos devem representar 35,8% da população brasileira em 2026, quando ocorre o próximo pleito.
A curva representaria um aumento de 3,7 pontos porcentuais desde as eleições presidenciais de 2022. Já a correlação com o desempenho em uma possível reeleição foi estimada utilizando, além da projeção de aumento da população evangélica, os índices de votação entre o segmento religioso nas eleições passadas dos presidentes eleitos e a popularidade atual de Lula.
O reverendo Luis Alberto Sabanay, pastor presbiteriano e assessor de políticas da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, já declarou que o governo precisa promover ajustes na estratégia de comunicação para atuar de forma mais direta com os evangélicos.
Desde o ano passado, Lula vem sancionando leis de caráter simbólico numa tentativa de aproximação ao eleitorado cristão. É o caso da criação do Dia Nacional da Música Gospel; do Dia do Pastor Evangélico e do reconhecimento do cristianismo e do Círio de Nazaré como manifestações da cultura nacional. (Agência Estado)