Dois cearenses integram lista de 34 denunciados pela Procuradoria-geral da República (PGR) na investigação da trama golpista após derrota nas eleições de 2022. São eles os generais Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa na época, e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, então chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter).
Paulo Sérgio, diz a denúncia, integrava "o núcleo crucial da organização criminosa", de onde partiram as principais decisões e ações de impacto social. Já Estevam Theophilo "aceitou coordenar o emprego das forças terrestres conforme as diretrizes do grupo". Eles foram indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe, em novembro de 2024.
O então ministro da Defesa participou de reunião, em julho de 2022, na qual Jair Bolsonaro (PL) "concitou todos os ministros presentes a propagar seu discurso de vulnerabilidade do sistema eletrônico de votação". Paulo Sérgio endossou a narrativa de fraude e afirmou que a Comissão de Transparência Eleitoral seria "pra inglês ver".
"Aproveitando a presença dos Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica na reunião, instigou a ideia da intervenção das Forças Armadas no processo eleitoral", consta em trecho da denúncia. Mesmo após o relatório de fiscalização do Ministério da Defesa não apontar fraude no pleito, Bolsonaro exigiu de Paulo Sérgio demonstração do contrário.
Antes da divulgação do relatório, o grupo chegou a minutar um documento afirmando que a fiscalização configurava "fato novo" para o questionamento das eleições. Contudo, eles não conseguiram alterar a conclusão do relatório. Segundo Mauro Cid, a organização conseguiu apenas que a divulgação do documento fosse evasiva quanto à possibilidade de fraudes. Além disso, Paulo Sérgio participou da apresentação aos comandantes militares de duas versões da minuta.
No depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, foi confirmado convite de Estevam para participar de reunião no Palácio da Alvorada no dia 9 de dezembro de 2022. Na ocasião, Mauro Cid trocou mensagens com outros e informou que Estevam aceitaria o plano caso o então presidente assinasse o plano. Situação que, para a PGR, confirma que o chefe do Coter "se comprometera a executar as medidas necessárias para a consumação da ruptura institucional, caso o decreto fosse assinado por Jair Bolsonaro".