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Falta de apoio desde militares até opinião pública evitou golpe
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Falta de apoio desde militares até opinião pública evitou golpe

Conheça fatores que explicam o golpe não ter ido adiante
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Ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: TON MOLINA/ ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: TON MOLINA/ ESTADÃO CONTEÚDO Ex-presidente Jair Bolsonaro

A investigação da Polícia Federal já apontava que a não adesão ao plano por parte dos então comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, foi um fator que impediu a concretização do golpe de Estado na trama que envolveria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT). A resistência desses altos oficiais representou um obstáculo para o grupo que pretendia subverter a ordem democrática, frustrando a tentativa de ruptura institucional.

O mesmo entendimento teve o pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. "O grupo manteve a operação e aguardou até os últimos instantes a eventual confirmação da adesão do Comandante da Força Terrestre [subordinado ao Exército], o que não ocorreu, inviabilizando a ação violenta. Sem o suporte necessário, o atentado não surtiria o efeito esperado e ensejaria punição interna aos responsáveis", consta na página 222 da denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Mesmo diante da resistência dos militares de alta patente, o documento aponta que o grupo "prosseguiu nas ações de monitoramento, por alimentar a expectativa de situações socialmente anômalas que pudessem provocar a ação armada que desejavam".

Isso indica que os envolvidos apostavam na criação de um ambiente de caos que justificasse medidas autoritárias, como suposta fraude nas eleições de 2022. No entanto, isso nunca se concretizou.

A resistência de setores do alto comando das Forças Armadas e a reação das instituições republicanas também foram determinantes para evitar um cenário de maior instabilidade. Juliana Diniz, doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), aponta que a resposta "muito enfática" dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo, criaram um "flanco de resistência", que também dificultou os atos extremados de interrupção da normalidade democrática.

"Tanto durante o mês de dezembro quanto em janeiro após a posse do presidente eleito em 2022, a gente pode dizer que as instituições deram sempre respostas extremamente seguras e rápidas para as ameaças que se apresentavam", conta a professora da Universidade da Federal do Ceará (UFC).

Para Martonio Mont'Alverne, doutor em Direito pela Universidade de Frankfurt e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), a ausência de amplo apoio popular foi outro aspecto favorável ao recuo da trama golpista.

"O que tinha era apenas alguns fanáticos que passaram dois, três meses acampados em frente a quartéis, mas isso não era representativo da sociedade brasileira. Além de organizações importantes, tanto empresariais como populares, que não apoiariam essa tentativa, a própria comunidade internacional não estava disposta nesse sentido, de assistir pacificamente o que aconteceria num país como o Brasil", avalia Mont'Alverne.

Quando a estruturação da denúncia pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Diniz relembra que o documento foi produzido depois de um "trabalho bastante cuidadoso" de investigação da Polícia Federal e de uma avaliação das provas pelo Ministério Público.

"É sempre muito difícil instruir uma denúncia como essa com elementos de prova e de evidência que sejam cabais, porque muitas dessas evidências e dessas provas acabaram sendo destruídas durante o próprio processo de organização do golpe, mas a denúncia, dentro do espaço de possibilidades, parece ter sido bastante bem fundamentada".

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