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Não há política sem dinheiro
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Não há política sem dinheiro

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Não se faz política sem dinheiro. Para suavizar, digamos que não se faz política sem orçamento. Isso pode parecer óbvio, mas não o é. A começar pela relação eleitor-representante, o que se espera deste é o "cumprimento de promessas". E como isso pode ser feito? No mais das vezes, dentro do orçamento. Cumprir com o prometido, para a classe política, é executar orçamento.

No Brasil, por conta dos inúmeros escândalos de corrupção envolvendo exatamente o "orçamento" ou seu desvio da função esperada, as relações entre política e dinheiro são problemáticas, e assumem uma imagem nada abonadora no imaginário.

Mas, o mais importante desse fluxo orçamentário no interior da política é, sem dúvida, a histórica forma que esta relação assumiu nas trocas entre Executivo e Legislativo, instâncias de representação política por excelência. Montar e manter um governo significou, por muito tempo, distribuir parte do orçamento entre parlamentares que lucravam, sob diversos modos, com o fato de serem governo. Ser de oposição, assim, implicava em não fazer parte de tais relações, trazendo alguns prejuízos nas localidades.

A ideia de um "orçamento impositivo" constituiu-se, na Nova República, como bandeira-mor de diversos grupos parlamentares, que por meio desta mobilizam visavam enfraquecer o que era nossa marca: o presidencialismo de coalizão. Assim, com o fortalecimento progressivo da cadeira de presidente da Câmara desde Eduardo Cunha, assistimos agora, durante e pós-Lira, os efeitos do caráter impositivo das emendas parlamentares sobre o governo federal.

Ao passo que deputados e senadores, com o massivo envio de recursos para suas bases sob a rubrica da famigerada "emenda de relator", podem constar na memória eleitoral de suas bases como cumpridores fiéis de suas promessas e alavancadores de recursos financeiros para suas bases; o governo federal tem esvaziada sua capacidade de implementar políticas nacionais que o possibilitem inscrever-se como cumpridor de promessas.

Várias têm sido as denúncias do uso das emendas parlamentares executadas com serviços ou obras que não dialogam em nada com os interesses locais onde elas foram aplicadas. Há mesmo fatos inusitados, como a extração de todos os dentes de cada um dos moradores de uma cidade por mais de uma vez. É que, além da imposição há também a falta de transparência, fazendo com que cada parlamentar possa se comportar como um mini-presidente.

Ante o dilema entre fortalecerem-se, orçamentariamente, em suas bases ou dar condições políticas do governo federal cumprir promessas, não restam dúvidas da escolha a ser feita, especialmente pela oposição. É que em nossa cultura política não há reeleição sem materialidade ("obras"), e esta só é possível com a execução de recursos.

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