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Protesto, elogio de filho do Lampião e "aquilo roxo"; como foi a visita de Collor ao Ceará
Politica

Protesto, elogio de filho do Lampião e "aquilo roxo"; como foi a visita de Collor ao Ceará

Em agenda na terra do Padre Cícero, o ex-presidente recebeu diversos protestos de organizações e reagiu dizendo ter nascido com "aquilo roxo"
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O então presidente Fernando Collor de Melo em visita a Juazeiro do Norte, município do Ceará
 (Foto: Jorge Henrique/Arquivo O POVO)
Foto: Jorge Henrique/Arquivo O POVO O então presidente Fernando Collor de Melo em visita a Juazeiro do Norte, município do Ceará

O ex-presidente da República, Fernando Collor, está preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi o vitorioso na primeira eleição direta após o período da Ditadura Militar e em meio a um governo marcado por diversas polêmicas como o confisco da poupança, acusações e impeachment.

Em um dos momentos marcantes durante a sua passagem na presidência, está a visita ao Estado do Ceará onde sofreu diversas manifestações de sindicatos, lideranças partidárias e movimentos estudantis, ocasião onde disse ter "aquilo roxo" em ato de macheza, rendendo elogios do filho do maior cangaceiro do país, e de início dos protestos organizados que levaram a sua queda.

Relembre a tumultuada visita de Collor ao Ceará

No dia 2 de abril de 1991, no segundo ano de seu mandato, o então presidente Fernando Collor viajou até Juazeiro do Norte, distante 527,57 km de Fortaleza, para anunciar a liberação de 22,9 bilhões de cruzeiros para obras de saneamento e o custeio agrícola na região.

Desde a sua chegada, a movimentação de grupos foi intensa. Collor se reuniu com cerca de 20 prefeitos do Cariri, que precisou ser interrompida depois de perceber que partidos de esquerda, sindicados e estudantes estavam distribuindo panfletos convocando para o ato que aconteceria às 9h40 do dia seguinte no Memorial Padre Cícero, praça que ficou tomada por cerca de mil seguranças do Exército, Policia Militar, Federal e Civil.

Collor no Ceará: organizações marcam protesto

A assessoria presidencial esperava que a presença de Frei Damião no palanque com Collor impediria manifestações mais assíduas. Porém, as vozes não foram barradas e o panfleto assinado por Assinado pelo PT, PCdoB, PDT, PSB, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato dos Bancários, professores e entidades estudantis convocava:

"Quem não está satisfeito com o arrocho salarial, o desemprego, fim dos subsídios agrícolas, falta de moradia, fim do programa do leite e da aposentadoria por tempo de serviço e privatização do ensino a protestar contra o pior presidente que o Brasil já teve”.

No dia seguinte no Memorial Padre Cícero, Collor discursava ao lado do governador cearense, Ciro Gomes e do prefeito de Juazeiro do Norte, Carlos Cruz, para uma multidão de cerca de 30 mil pessoas que levantaram cartazes que diziam "em defesa das estatais e do patrimônio público", "pela derrubada do Governo Collor".

Collor diz ter nascido "com aquilo roxo"

Em meio aos protestos, o presidente esbravejou a plenos pulmões não ter medo do movimento e exaltou sua macheza dizendo ter "aquilo roxo", expressão que designa virilidade.

“Não nasci com medo de afobação, nem tenho medo de cara feia. O meu pai já me dizia desde pequeno que eu havia nascido com aquilo roxo. E tenho mesmo, para enfrentar todos aqueles que querem conspirar contra o processo democrático”, declarou em alto tom.

Tal demonstração de confiança foi elogiada por João Ferreira da Silva, filho do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Ele chamou Collor de "cabra macho" e que daria um bom cangaceiro.

"Cem anos pra trás e mil anos pra frente não vai aparecer um cabra macho igual a esse (..) Se o presidente tivesse nascido no tempo do cangaço, ele seria uma excelente cangaceiro", disse.

Repressão policial em meio a manifestação

Após a fala de Collor, sua segurança começou a reprimir os manifestantes violentamente. Entre figuras que ali protestavam, estava o presidente do sindicato dos metalúrgicos do Ceará, De Assis Diniz (PT), que hoje é deputado estadual, que chegou a ser agredido por Dário Cavalcante, segurança do presidente da República, em uma imagem que rodou o país.

"Nós estavamos lá, eu presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, em uma manifestação denunciando o conjunto de recessão, desemprego, queda da massa salarial, desemprego em massa e já fruto de todas as denúncias de corrupção dos desmandos, do autoritários, de tudo o que o Collor patrocinava", contou o deputado ao O POVO.

"Fomos e organizamos a manifestação com outros atores do movimento sindical social e a central única dos trabalhadores (cut) e levantamos uma faixa pela derrubada do Governo Collor. Naquele momento ele proferiu aquela frase. De forma que houve uma repressão muito violenta". relembrou.

Tal acontecimento foi em uma quarta-feira e quatro dias depois o presidente testou a sua popularidade em meio a onda de críticas convocando a população a usar as cores da bandeira ao sair nas ruas, mas ao invés de verde e amarelo, as pessoas vestiram preto e nasceu o movimento "Fora Collor" que ocasionou a criação dos "caras-pintadas", resultando no impeachment do presidente um ano depois.

De Assis, inclusive, disse ter reencontrado Collor e o seu segurança cerca de uma década depois em Brasília. O momento aconteceu em um ato social na casa de um político.

"Eu me dirigi ao Collor e disse: 'Collor, eu sou aquele sindicalista', aí ele disse, 'O Dário (segurança), tá ali fora, trabalha comigo'. Quando você olha depois com o passar do tempo tem um outro significado", declarou.

 

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