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As ameaças aos lares dos cearenses marinhos
Reportagem

As ameaças aos lares dos cearenses marinhos

Poluição
Edição Impressa
Tipo Notícia
Peixes mortos com lixo marinho, na praia de Visakhapatnam (Índia). (Foto: Srikanth Mannepuri / Ocean Image Bank)
Foto: Srikanth Mannepuri / Ocean Image Bank Peixes mortos com lixo marinho, na praia de Visakhapatnam (Índia).

Apesar de estarem além do campo de visão humana, os recifes e pradarias são constantemente afetados pelo que (e como) produzimos. A vida marinha conhece muito bem a poluição humana: anualmente, mais de oito milhões de toneladas de plástico são descartados no Oceano, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). De todo o lixo que chega ao mar, 80% é plástico — até 2050, a estimativa é que existirá mais plástico no Oceano do que peixes.

Afinal, a poluição será uma das principais responsáveis por matar boa parte da fauna e flora marinha. Por ano, morrem por causa dos plásticos um milhão de aves marinhas, além de cem mil mamíferos e tartarugas marinhos. A mortalidade de peixes é inumerável. Mesmo os sobreviventes não conseguem fugir dos microplásticos; são ao menos 51 trilhões de partículas de microplásticos largadas no Oceano.

Nem só de lixo composto por plástico prejudica-se o Oceano. A falta de saneamento básico e o escoamento de esgoto diretamente no mar contaminam a água com químicos e excesso de nutrientes. Isso sem contar os derramamentos de óleo, como ocorreu em 2019 na costa nordestina.

Um artigo publicado com pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) em 2020 na revista Science denunciou o impacto do óleo nos recifes de rodólitos, prejudicando a biodiversidade do habitat e desequilibrando a presença de carbono no Oceano. "O óleo está no fundo do mar e se precipita junto a essas algas, prejudicando sua função de berçário da vida marinha e de captura de carbono, pois [esses bancos] podem agir como uma floresta marinha, tendo importante função no combate a mudanças climáticas", explica o professor Marcelo Soares, do Labomar, em entrevista à Universidade Federal do Ceará (UFC).Ao O POVO , o biólogo também destaca outra ameaça aos bancos de rodólitos: a mineração. "Há um conflito, porque tem gente que quer explorar esses bancos para mineração. Por serem uma fonte de carbonato de cálcio, o intuito seria minerar para a agricultura e para a nutrição de animais. E o Brasil é um grande país agrícola", comenta.

Atividades do tipo degradam diretamente o habitat de diversas espécies. Por isso, é urgente a criação e implementação de um Planejamento Espacial Marinho (PEM) brasileiro com base ecológica.

Aliado a todas essas bravatas, o aquecimento global intensifica os riscos para a vida marinha. O Oceano é o maior retentor de calor da Terra, responsável por captar mais de 90% do desequilíbrio de energia provocado pelas ações humanas. Por consequência, os mares estão aquecendo rapidamente, favorecendo ondas de calor marinhas drásticas.

Em 2023, mesmo antes do El Niño, a temperatura média global da superfície do mar bateu recordes. Em abril deste ano, ela aumentou quase 0,2ºC, chegando aos 21,1ºC e superando, em 0,1ºC, a máxima registrada em março de 2016, até então o mês mais quente para os oceanos.

 

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