Tinha que ser assim. A história do terceiro entrevistado dessa temporada do Legados, Maurício Filizola, fundador do Grupo Santa Branca, começa quando seu pai, Francisco Filizola de Carvalho, prometido a uma prima, como era costume à época, se apaixona por sua mãe, Maria Cavalcante Filizola.
Desse encontro, um fruto é gerado e o casal foge para o Piauí para viver esse amor. Maurício nasce.
Poucos meses depois os pais voltam ao Ceará, para São Benedito (a 332,4 km de Fortaleza), onde sua família paterna, de descendência italiana, se instalou.
A partir daquele momento, Maurício nunca mais deixou as terras cearenses, fincou raiz e criou a própria história, seguindo os passos dos familiares e prosperou.
Primeiro neto da família, desde pequeno seu olhar atento e curioso viu nos ancestrais as referências que cultiva até hoje: o amor ao trabalho, a paixão por servir, o alicerce na família, a casa cheia e a mesa farta, comum entre os originários da Itália.
E foi observando os cuidados de um farmacêutico que trabalhava perto de casa, onde corria sempre que a mãe pedia para socorrer os irmãos, que veio a inspiração e o desejo de cursar Farmácia, já em Fortaleza. Concluiu, mas o lado empreendedor, que via no pai e no avô, falou mais alto.
Assim, conseguiu unir as duas coisas e um ano depois que saiu da faculdade abriu a primeira farmácia, ainda com nome Filizola, que anos depois se tornaria Farmácias Santa Branca.
Passados 38 anos, os negócios se expandiram, e hoje são 20 unidades. Filizola preside o Grupo, ao lado da esposa Laura Paiva e da filha primogênita, Lora.
Para o futuro? Deseja ampliar o modelo recém-lançado de franquias e dobrar o números de lojas até o fim de 2025 e aguarda de forma natural a chegada das filhas gêmeas caçulas nos negócios, Sarah e Sophia.
Confira o bate-papo do O POVO com o empresário que superou dificuldades, inclusive financeira, mas persistiu e hoje agrega no currículo três gestões na Presidência do Sindicato do Comércio Varejista dos Produtos Farmacêuticos do Estado do Ceará (Sincofarma) e, atualmente, o cargo de diretor na Confederação Nacional do Comércio (CNC).
O POVO - Nasceu no Piauí e mudou-se com a família para São Benedito, onde passou a primeira infância. Quais as recordações dessa fase da vida?
Maurício Filizola – Meus antepassados, meus bisavós, são italianos e vieram da região de Torraca (comuna italiana da região da Campania, província de Salerno) para São Benedito porque toda aquela região serrana tem o clima parecido com a origem deles.
Meu bisavô foi o primeiro a chegar, em 1860, depois foi a minha bisavó. Na cidade tem a rua Italiano Júlio Filizola em homenagem a ele. O meu pai com a minha mãe foram "como que fugidos" para o Piauí para ele trabalhar com cobre.
Ele estava noivo, prometido para uma prima, mas se engraçou com a minha mãe e a engravidou. Eles foram para lá e acabou que, nessa viagem, nasci em Barras (Piauí). Digo que tenho duas casas, pois nasci lá, mas a infância toda e a adolescência foram em São Benedito.
Já recebi o título de cidadão de São Benedito, cidadão cearense, ou seja, meu coração é todo cearense.
O POVO - O que seu pai fazia à época?
Maurício - Ele estava fazendo alguns trabalhos temporários em Barras. Fazendo alambique e tachos, que herdou o aprendizado do bisavô e do pai dele. Aí nasci lá e fui batizado em Piripiri (PI) e logo em seguida, com dois meses, eles me trouxeram para me apresentar à família em São Benedito.
Eu sou o primogênito dos netos e todos os outros meus irmãos nasceram em São Benedito. Somos nove no total.
O POVO - E sua relação com o Piauí permaneceu?
Maurício – Sim, tenho terras em Piripiri, que costumo ir, e chamo de meu paraíso. Tendo uma folga, vou para lá. Assim mantenho a relação com a terra que nasci. Também guardo a forte ligação com São Benedito, onde passei a infância.
O POVO - Como era a relação com seus pais, o que de mais marcante aprendeu com eles e o que trouxe para as três filhas?
Maurício – A gente sempre se espelha nos aprendizados, principalmente dos mais velhos, que nos trazem crenças e comunicação. Com os meus pais, despertei para o trabalho muito cedo e isso também me fez ser empreendedor.
Ao mesmo tempo, na família, tem a questão do receber que é muito forte, descendência italiana, mesa farta, gosta de receber amigos e familiares. Lembro que meu pai plantava num sítio que tínhamos e fazia rapadura, cachaça e colhia café.
Tudo isso foi muito presente na infância, ou seja, esse contato com a natureza. Muitas frutas eram colhidas no pé. A gente vivia disso, ele pegava e levava num caminhão para vender na região de Crateús. Minha mãe cuidava da casa e dos meninos, que eram muitos. A diferença é de um ano entre cada um de nós.
O POVO – Como foi a infância em São Benedito?
Maurício - São muitas recordações da época de colégio, jogando bola, bila na rua, andando de bicicleta. Eram muitas colheitas de frutas nos sítios da cidade, é por isso que hoje também gosto de morar em um sítio, gosto do contato com a natureza.
Andar descalço na grama e na areia, porque nos traz um contato com nossa mãe terra. Isso é muito importante para mim, porque renova as energias. Toda a convivência com os primos, que eram muitos, foi muito forte na minha infância. Também me lembro ainda adolescente, em São Benedito.
Quando eu tinha entre 10 e 12 anos, juntava com meus primos e ia vender alimentos na feira. A professora de matemática, Valdenora (não se recorda o sobrenome), tinha um armazém e a gente comprava na sexta e pagava ela no sábado depois da feira.
A gente pegava sacos de arroz de 60 quilos e ensacava em sacos de um quilo para vender e ganhar um dinheiro. Ou seja, já veio na veia, porque via meu pai fazer e meu avô com esse mesmo dom de comprar e vender.
Aprendi ali na prática com alguns produtos e isso gerou também aquela coisa da comunicação com o cliente, de agradar e de negociar.
O POVO – Na adolescência uma nova mudança para estudar em Fortaleza...
Maurício – À época em São Benedito não tinha segundo grau e eu era muito incentivado pela família, por eu ser o mais velho, sobre a importância de estudar e de ter mais aprendizado para me destacar e suprir melhor as demandas da família. Então vim morar em Fortaleza, aos 14 anos.
Minha avó veio também com uma filha dela. Tinha a interação com outros primos que moravam aqui, mas tinha saudades dos meus pais. Tive ajuda de um familiar, Walfrido Salmito, que conseguiu uma bolsa de estudos. A família supria as minhas despesas, mas tinha suas dificuldades.
Meus pais mandavam pouco dinheiro e eu era meio "liso" e pensava: “Mas rapaz... Eu vou ganhar o meu dinheiro!”. Lembro de cenas, até no próprio colégio, que eu via os colegas com os lanches no intervalo e pensava: “Puxa vida! Hoje eu estou sem dinheiro, dá não”.
Mas assim, era muito tranquilo. Se não dava, não dava. Mas ia buscar por onde conseguir trabalhando.
Nessa época eu estudava e fazia bolsas de couro, com um primo, e vendia no Mercado Central.
O POVO – De onde veio a inspiração para ser farmacêutico?
Maurício – A minha inspiração para empreender e ser farmacêutico veio do Interior. Eu morava em frente a uma farmácia, do senhor José Inácio de Aguiar, e a família sempre que buscava um atendimento mais simples, ao invés de ir ao médico ou ao hospital, buscava a farmácia.
Isso foi muito forte para a época que eu era criança. Ao mesmo tempo que empreender já veio com a família, observando meus pais, e a vontade de ganhar um dinheiro extra, indo vender produtos juntamente com os primos lá na feira de São Benedito.
Experiência que veio também me ajudar anos depois, quando fui empreender no setor farmacêutico. Até cheguei a pensar em agronomia, por gostar muito da terra, engenharia e de matemática. Mas sou grato por ter escolhido a saúde.
O POVO – Seu primeiro negócio sozinho foi a Farmácia Filizola, em 1986, que depois de alguns anos veio a se chamar Santa Branca, que permanece até hoje. Como foi esse processo?
Maurício – A ideia de ter a farmácia veio desde o primeiro semestre do curso de Farmácia na UFC (Universidade Federal do Ceará).
Eu queria me destacar e já tinha a veia empreendedora. Quando eu passei um ano no exército, em Teresina, como oficial farmacêutico, juntei um dinheiro e um pouco de conhecimento do mercado e coloquei a primeira loja.
Logo em seguida, ampliei em mais duas filiais e isso trouxe um aprendizado para seguir em frente. Só que nós tivemos a abertura inicialmente como farmácia Filizola, de 1986 até 2000.
Em 2000, tivemos que trocar a marca, porque estávamos em um processo de expansão. Era necessária uma proteção a esta nova rede e o nome Filizola, naquele momento, não foi aceito pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Aí resolvemos trocar o nome para Santa Branca.
O POVO – E por que Santa Branca?
Maurício - Santa Branca é uma santa italiana que também traz muita energia. Nós fizemos a análise e foi um nome que combinou muito com a origem da família italiana, ao mesmo tempo que é um nome leve que também leva para o cuidado, para a família, para a saúde e é isso que a gente vem praticando como nosso propósito de vida e de empresa.
O POVO – Quais os maiores desafios que passou?
Maurício - À época, a faculdade não dava um embasamento na área de gestão e na área econômica. Então você ía para dentro da farmácia ainda muito leigo nesta parte comercial. Para mim foi um aprendizado por a mão dentro, muitas vezes quebrando um pouquinho a cara, mas isso realmente nos faz muito mais fortes.
Na farmácia eu fazia de tudo. Comprava um dia a mercadoria na distribuidora e ia buscar, às vezes, até de bicicleta. Fazia entrega, eu era o farmacêutico, o balconista, o vendedor, eu era o caixa. Iniciamos somente eu e meu irmão, ele não era sócio, só trabalhava.
Depois de dois anos, abrimos a segunda unidade em frente ao Iguatemi e a terceira, logo em seguida, foi na rua Padre Valdevino.
O POVO – Já pensou em fechar em algum momento?
Maurício - Sim. Tiveram momentos, desafios e muita preocupação financeira sim e, claro, a gente vai encontrando as saídas e Deus vai abençoando. Às vezes, comprava ali um ponto comercial e tinha que vender para poder botar o dinheiro de volta no estabelecimento.
Foram muitas dificuldades, mas eu digo que foram muito mais vitórias, porque uma das coisas mais importantes é a gente atender o cliente naqueles problemas que eles nos buscam. Isso para mim é muito importante, até hoje.
E digo que é a base da nossa empresa, fazer de tudo para poder atender a clientela. Durante a covid, por exemplo, foi difícil, nós nos desdobramos demais, ou seja, nós nos destacamos como empresa porque a gente buscou de todas as formas atender as demandas e estar com o nosso cliente.
Para mim foi um momento de muito crescimento e, também, para a empresa. Sempre digo que nós não fazemos nada sozinhos e os nossos colaboradores, durante toda essa jornada, fizeram parte e fazem parte de cada momento da nossa história.
Temos um quarteto – clientes, colaboradores, parceiros e a família. Tudo tem que estar junto para que a gente possa estar entregando e fazendo o nosso melhor.
O POVO – A esposa e farmacêutica Laura Paiva e a filha mais velha, do primeiro casamento, Lora Filizola, também participam dos negócios. Como aconteceram esses encontros?
Maurício - A Laurinha quando a vi foi uma paixão e um amor à primeira vista. Isso me despertou, principalmente, sabendo que era farmacêutica. Pensei: “Vou trazer aqui alguém que me ajude a levar essa jornada de cuidar das pessoas”.
Ela chegou em minha vida em 1997 e está até hoje. Já são mais de 25 anos que a gente está junto e dentro da empresa. Eu digo que ela, hoje, cuida muito mais das farmácias do que propriamente eu.
Ela quem está lá no dia a dia, participando ativamente da gestão e fazendo o melhor pelos colaboradores e pelos clientes. Ela sempre diz: 'Divergências são boas e respeitamos sempre o legado dele, pois é o fundador e a palavra final será dele e trabalharemos para o melhor resultado'.
Já a Lorinha (filha da primeira esposa, Mônica, com quem foi casado por dez anos) relutou um pouquinho para chegar dentro da Santa Branca.
Ela é arquiteta (mesma profissão da mãe) e achava que não tinha muito o que fazer dentro da empresa, mas, desde que chegou, falta tempo para tanta coisa que ela desenvolve, principalmente em projetos de ESG.
Ela busca reforçar a gestão, a sustentabilidade e essa inovação que é necessária a cada dia, levando tanto para o cuidado com o planeta quanto com as pessoas.
O POVO – Além disso, ainda tem os irmãos, a irmã e o cunhado na empresa. Como fica a relação familiar e profissional?
Maurício - Digo que sempre vem com o aprendizado. Às vezes vêm os desafios, mas a gente aprende primeiro a conviver, a compreender e não só a trabalhar. Mas qualquer relacionamento exige ali o tempo a ser doado e exige compreensão e, hoje, nós temos vários familiares trabalhando.
Tudo isso eu digo que agrega à empresa. Claro que a gente tem que saber diferenciar o lado profissional do lado familiar, cobrando e também convivendo como família.
Tarcísio Filizola, que também se formou em farmácia, foi o meu primeiro irmão a entrar nos negócios comigo e está em uma loja. A outra irmã, Salete, chegou há mais de 20 anos e está no administrativo.
Filhas: Sarah, Lora e Sophia
O POVO - As filhas gêmeas do senhor e da senhora Laura já pensam em seguir os mesmos passos dos pais?
Maurício - Elas estão com 17 anos e nós vamos despertando. Porque é importante elas seguirem conhecendo os negócios. Nós vamos levando para a empresa, muitas vezes, a gente traz temas para discutir com elas.
Acho que a participação delas acho tem que ser de uma forma natural, nós costumamos levá-las no período de férias.
Há três anos elas visitam os setores e aquele gestor apresenta para que elas possam entender o mecanismo. Com a Lorinha foi assim também. Apesar de gêmeas, elas têm os temperamentos diferentes. Sophia é mais observadora e tem um senso de humor muito fino, ela tem várias tiradas.
As duas são muito inteligentes. A Sarah já faz parte das redes sociais da empresa, isso é um despertar e é como se fosse o alicerce.
Acho que quando isso vem de uma forma natural, que a gente vai dando oportunidade para que elas percebam, para que elas estejam interagindo, isso vai agregar de uma forma muito mais verdadeira. E é isso que a gente está buscando.
O POVO - Em 2006 você vai para o Interior. Qual foi a principal motivação?
Maurício - Estávamos num processo de expansão e naquele momento as redes aqui (Fortaleza) estavam em uma concorrência muito acirrada e pensamos em experimentar outros ambientes.
Porque nós temos um foco no atendimento, em resolver os problemas, não é aquela coisa de commodity, mas sim de agregar um valor muito maior.
Porque às vezes você só entrega o produto, como muitos fazem, e isso não traz um valor para o cliente em termos de conhecimento, de cuidado consigo, de utilizar o medicamento da maneira correta.
A nossa preocupação é essa, é trazer esse conhecimento para um cuidado mais abrangente.
O POVO – No mesmo ano, a Farmácia Santa Branca entrou no Programa Farmácia Popular. O que mudou nos negócios com essa decisão?
Maurício – Isso, em 2006, nós fomos a segunda rede do estado do Ceará a implementar o programa da Farmácia Popular e estamos até hoje, com 12 das 20 lojas, porque o programa não abriu mais nas cidades que estamos situados.
É um programa que tem uma abrangência muito grande no fornecimento de medicamentos e serviços de orientação para os clientes. Ele é aberto para todos, mas atinge uma faixa da população mais necessitada e carente, que proporciona uma continuidade dos tratamentos.
Principalmente quando a gente fala de diabetes, hipertensão, asma e os anticoncepcionais que entraram agora também no hall da gratuidade. E isso tem benefícios também para quem está prestando aquele serviço à população.
O chato é que, muitas vezes, um programa como esses acaba. Começa bem divulgado, mas depois não. Porém, acho que é um dos programas de políticas públicas mais bem aceito e visto pela população, pena que ele não tem dado um retorno, eu diria, mais tranquilo para quem está exercendo isso.
O POVO - Como surgiu a ideia de entrar na linha de suplementos, higiene e beleza com a marca própria?
Maurício – São parcerias com algumas indústrias nacionais. Não fabricamos os produtos, mas a gente desenvolve a fórmula, registra a marca e, a partir dali, a gente busca uma grande indústria que possa fabricar.
Aquele suplemento com todos os controles, com todos os cuidados para que a gente possa também colocar o nosso nome em algo seguro, que vá fazer o efeito desejado lá na ponta.
Escolhemos a suplementação porque no dia a dia nem toda população tem condição de ter uma alimentação mais saudável. E, muitas vezes, não sabem o que são as vitaminas e minerais que estão na composição do suplemento.
Foi pensando nisso que criamos e desenvolvemos linhas que possam complementar esta carência que é populacional e a gente dá a nossa contribuição orientando corretamente, com uma marca protegida pela sua rede.
Começamos em 2014. Já são quase 30 suplementos dentro do nosso portfólio e complementamos também com alguns produtos de higiene e beleza.
O POVO – Há dois anos iniciaram a nova fase de expansão pelo modelo de franquias.
Maurício – Em 2022 fizemos toda a estrutura de ação do projeto. Foi contratada uma empresa paulista, que faz a estruturação de franquias das maiores empresas de franquias do País.
Depois de formulado todo esse estudo, feito os contratos, estudado toda a infraestrutura e o modelo de negócio, lançamos, no início de 2023, internamente, um projeto com três pilotos.
Depois disso, em outubro do ano passado, abrimos para o mercado, Fortaleza e interior. Já temos franqueado em processo de reforma e outros em estudo de análise e pesquisa.
O POVO – Como está dividido o portfólio atual?
Maurício - Todos esses produtos compõem o mix para que a gente possa atender o cliente em sua plenitude. Hoje a marca própria responde por cerca de 6%, a popular representa uns 3% do nosso faturamento.
Nós temos aí também a composição de higiene e beleza com a participação bem acentuada, que chega a ser mais de 30% E o restante é a composição dos medicamentos de uma maneira geral.
O POVO – Pretendem abrir quantas empresas nos próximos anos?
Maurício - A nossa previsão para os dois próximos anos é a ampliação do número de lojas, pelo menos, para dobrar a participação ou até ampliar um pouco mais, juntando aí com as franquias. Seriam entre 40 e 50 lojas até o fim de 2025.
Maurício - Desde 1996 o senhor tem forte atuação na gestão do setor junto ao Sincofarma, à Confederação Nacional do Comércio... Queria que falasse um pouquinho dessas experiências.
Maurício - A minha entrada no sindicato foi um convite de um amigo, que viu como uma maneira de lidar com o coletivo e isso me despertou para ajudar. Permaneci no Sincofarma até 2010 como presidente, foram três gestões.
Como eu tenho essa questão da renovação, eu queria ter ficado somente um mandato, mas pediram. Da mesma forma que defendo com as outras instituições, natural na nossa vida.
Nesse período também passei pela Federação do Comércio, também houve um chamado para poder servir, e hoje estou com o diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), onde nós temos reuniões mensais com essa diretoria, que vai até 2026.
O POVO - Quais lições ficaram?
Maurício – Conviver com lideranças é muito importante, porque a gente verifica as práticas, a interação com a parte política e também as negociações.
Quando a gente está em uma instituição que defende os interesses empresariais do comércio, isso nos amplia a responsabilidade de buscar nessa interlocução política trazer boas práticas para que realmente o setor produtivo e de maior importância no país possa ser visto e ele possa servir a população.
Nós temos uma participação da CNC em 75% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional da área empreendedora e isso é muito importante, a gente estar lidando e se responsabilizando pelo coletivo que tem aí a defesa do Comércio de bens, serviço e turismo.
O POVO – O senhor ainda é novo, 61 anos, mas já pensou em sucessão?
Maurício - Tenho um propósito de vida e quero continuar servindo de uma forma natural. Creio que ainda tenho um bom tempo pela frente para poder exercitar e também passar aprendizados. Estar interagindo, principalmente, na área comercial e na empresa.
Formando novos líderes para que possam dar continuidade a esse trabalho que a gente vem desenvolvendo.
O POVO - E qual legado o Grupo Santa Branca traz para a economia cearense?
Maurício – Um legado de poder ser exemplo. O setor farmacêutico é um setor bastante concorrido, mas nós somos referência, inclusive, recebendo muitos alunos de universidades, faculdades do curso de farmácia e outros também na área de gestão.
A gente poder passar a nossa experiência, estimular outros a estarem aprendendo,eu acho que é o principal legado, de forma responsável, levando os bons exemplos e ao mesmo tempo contribuindo com a economia do nosso Estado.
Ao chegarmos à casa dos Filizola, nos surpreendemos com uma mesa enorme posta e farta, com muitos lugares. Além da família, sentaram à mesa amigas das filhas que estavam passando as férias, uma delas reside nos Estados Unidos e outra no Paraná, além de um sobrinho do Filizola que reside em sua casa. Ao longo da entrevista, outros jovens que estavam na casa também foram aparecendo.
Durante a entrevista fui surpreendida por Maurício Filizola, com uma obra de arte do projeto Mãos que Servem, idealizado pelo empresário. A tela é criada por meio da utilização das mãos de pessoas que servem à sociedade e tem como objetivo homenageá-las pelo que fazem pelo Ceará.
A casa que os Filizola moram é, na verdade, um sítio com muitas árvores frutíferas. A variedade de frutas é grande: laranja ponkan e kikan, tangerina, limão tahiti, goiaba, goiaba roxa, jabuticaba, graviola, caju, cajá, manga, acerola, abacaxi, jambo, açaí, ata, atemoia, tamarindo doce, figo, pitanga, amora, uva, rambutan, lichia e carambola. Além disso, a valorização da arte cearense é visível na decoração, com peças assinadas pelos artistas Mano Alencar, Almeidinha e Espedito Seleiro.
Esta entrevista exclusiva com o fundador da Farmácias Santa Branca, Maurício Filizola, para O POVO encerra a primeira semana da terceira temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
Serão seis entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
No próximo episódio, conheça a história de Oto de Sá Cavalcante, fundador do colégio Ari de Sá.