Segundo a pesquisadora Vládia Souza, doutora em Geografia pela Universidade Federal do Ceará e professora do campus Baturité do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE), o litígio entre Ceará e Piauí teria se iniciado muito antes do Decreto Imperial de 1880, remontado pelo menos a meados do século XVII.
Autora da tese de doutorado "As divisas interestaduais brasileiras: uma análise sobre a permanência do litígio territorial entre o Ceará e o Piauí", publicada em 2020, Vládia conversou com O POVO.
O POVO: Sua pesquisa indica que o litígio entre os estados antecede em pelo menos dois séculos o decreto imperial de 1880. Qual seria, então, a origem dessa disputa?
Vládia Souza: As disputas pelas terras da Ibiapaba começam já no período colonial. O Ceará era uma capitania anexada à capitania do Maranhão, junto com o Piauí. Então, houve um desmembramento no século XVII: o Ceará se desmembra do Maranhão e é anexado à jurisdição da capitania de Pernambuco. Aí começa a disputa pelas terras da Ibiapaba.
OP: Como a senhora analisa os argumentos dos dois Estados no processo judicial?
Vládia Souza: Durante muito tempo o Piauí vem baseando sua defesa na perícia cartográfica, no conjunto de mapas que apresentam evidências de que a localidade de Amarração sempre foi do estado. Só que veio uma novidade. A defesa do Ceará encontrou evidências que provam que Amarração nunca foi do Piauí e que sempre esteve em território cearense.
OP: A senhora consegue vislumbrar um caminho para a resolução do conflito?
Vládia Souza: Pra resolver o litígio, o caminho mais justo é escutar essa população que está dentro da disputa, pra ver o que ela quer. Antes de qualquer decisão, deve haver um plebiscito, convocando e ouvindo essa população, já que ela está diretamente envolvida na causa.