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Duas faces do Benfica: um bairro com problemáticas acentuadas por um conflito geracional
Reportagem

Duas faces do Benfica: um bairro com problemáticas acentuadas por um conflito geracional

Som alto e desordem pública estão entre as principais reclamações de moradores da região, mas os habitantes também passam por um choque cultural que acentua embate com frequentadores
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Movimentação noturna no bairro Benfica, no trecho entre a Residência Universitária da UFC, a Praça da Gentilândia e a rua João Gentil (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Movimentação noturna no bairro Benfica, no trecho entre a Residência Universitária da UFC, a Praça da Gentilândia e a rua João Gentil

Enquanto as casas comportam moradores em sua maioria mais velhos, que cresceram junto ao bairro, as ruas são tomadas a noite em grande parte por jovens que alimentam a fama de "boêmio" do local— principalmente aos finais de semana. O Benfica, em Fortaleza, vive um conflito geracional que tem agravado problemáticas locais e atuado como uma linha fina e invisível, dividindo o território em dois. 

Reduto cultural da Capital, o bairro ainda mantém algumas das residências antigas que são como resquícios físicos do que um dia ele já foi. É em meio a esse vislumbre do passado que funciona uma intensa movimentação de bares e outros estabelecimentos. Locais que atraem tanto universitários, que estudam nas instituições da região, como pessoas vindas de outros lugares da Cidade. 

O vaivém de pessoas que ocupam as ruas da localidade fica mais intenso aos finais de semana e, nos últimos anos, tem se tornado um problema para moradores— principalmente para aqueles que habitam em ruas próximas de onde o movimento é mais intenso, como ao entorno da Praça da Gentilândia. 

A ocupação das vias e calçadas por vezes é tanta que dificulta a passagem de transeuntes pelo espaço. É como conta Vânia Bezerra, 77, que mora há seis décadas no bairro e já precisou ser escoltada pela polícia para conseguir entrar em casa— um imóvel que foi herança de família.

Segundo relata, o episódio aconteceu quando voltou de um compromisso a noite e encontrou a rua onde mora "lotada". Pediu passagem, mas "ninguém deu". Foi então que acionou uma viatura que passava perto para conseguir passar pela via e entrar em casa, cuja calçada também estava ocupada por terceiros.

A ocupação traz outros problemas como som alto. Vânia relembra que, em tempos remotos, o barulho do Estádio Presidente Vargas em dia de jogo era o único incômodo sonoro por ali. Agora, a música alta de bares da região e os paredões de som que ficam ligados na área são o que lhe tiram o sono a noite.

"Quando a gente pede pra parar o som a gente tem que implorar, dizer 'meu filho, pelo amor de Deus, eu quero dormir' (..) Ninguém consegue nem assistir a televisão porque a televisão ninguém escuta. Eles botam o som de frente pra minha casa (...) Eu tenho pressão alta e pra mim é desgastante, a gente não poder nem entrar na casa da gente, pra descansar. Se eu quiser dormir um final de semana melhor eu tenho que ir lá pra casa da minha filha (...) Sem falar que se a gente sair pra entrar é mais complicado, a gente tem que ficar presa", relata a aposentada. 

O desabafo é compartilhado por sua vizinha, Vera Bezerra, 58. Moradora do Benfica desde 1987, ela pontua ainda que o consumo de drogas no local tem se intensificado e que esse fator é um dos responsáveis por aumentar o fluxo de pessoas, o que traz problemáticas como o som alto. 

"São pessoas que vem de várias regiões da Cidade, mas muitos universitários. Eles fazem uso de paredão a noite, durante a madrugada. A gente fica sem dormir, principalmente na sexta e no sábado. A grande maioria (dos moradores) são pessoas de mais idade, moradores antigos. Quando chega fim de semana é uma verdadeira tortura. Quando chega na sexta e no sábado a gente já fica aguardando, já dá ansiedade, fica assim uma aflição, porque a gente já vai se preparar pra passar a noite em claro", diz. 

Vera ainda destaca o som dos bares da localidade e relata que os vizinhos "fazem rodízio pra fazer denúncia", mas nem sempre funciona. "As vezes eles (policiais) fazem é descaso, muitas vezes a gente liga e eles desdenham, dizem 'olha, se a gente for atender ai a gente vai ter que atender a população da cidade inteira (...) Então eles nem vem e quando vem geralmente chegam já tardiamente e as coisas já tem acontecido", dispara. 

 

Como fazer denúncias

As denúncias de poluição sonora e perturbação do sossego alheio podem ser feitas para a Agefis, pelo número 156, pelo aplicativo Fiscalize Fortaleza, disponível nas plataformas Android e IOS, ou pelo site denuncia.agefis.fortaleza.ce.gov.br.

Queixas também pode ser encaminhadas para a SSPDS por meio do telefone 181 ou pelo WhatsApp (85) 3101 0181, onde vídeos e imagens podem ser enviadas.

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