Os agricultores cearenses se prepararam para um "inverno ruim", mas o que chegou foi chuva. E muita. Essa chuva acima do esperado para alguns cultivos não é fator positivo. "Uma safra não muito boa, vamos perder. Teve muita chuva em fevereiro, março. E pouca em maio", resume Erinaldo Lima, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece).
Segundo ele, a safra da agricultura familiar deve ser abaixo da média em relação ao esperado para todo o Estado. Ele explica que muita chuva prejudica o enchimento da espiga de milho, "o caroço do milho não fica tão desenvolvido". "Houve excesso quando não deveria e falta quando precisava", diz. Outros cultivos foram satisfatórios, como o da macaxeira, arroz, jerimum, melancia, melão.
Na localidade de Sororô, no município de Itapipoca, localizado a 139,9 km de Fortaleza, a quadra chuvosa foi favorável para o feijão, mas não para o milho. "Quando o milho tava precisando de um pouco de sol, de perder a umidade, tava chovendo. Essa umidade atrapalhou um pouco o crescimento. Essa região aqui que a gente planta é um pouco baixa, passa perto de riacho", conta Rômulo Teixeira Oliveira, 28.
No caso do feijão, a safra está boa. "A gente plantou feijão no período da chuva. O feijão tardão (de ciclo mais longo), que demora cerca de 60 a 70 dias para começar a 'pajear', como a gente chama", relata o agricultor, que cultiva desde os 17 anos.
"Para mim, foi uma boa quadra. O milho serve muito para os bichos. O feijão serve mais para a nossa alimentação. Com um feijãozinho, a gente fica satisfeito. Ano passado foi boa no geral, milho, feijão e roça", avalia. "Roça" faz referência a plantios de macaxeira e mandioca, por exemplo.
"A gente plantou no seco na esperança que viesse bom tempo. Graças a deus veio. A gente escutava que ia ser seca", agradece Rômulo, que tira da agricultura, trabalho que aprendeu com a mãe e os avós, o sustento da família. (Ana Rute Ramires)