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A força do Microcréditosaldo cresce no País e potencial de empreendedores é cobiçado
Reportagem

A força do Microcréditosaldo cresce no País e potencial de empreendedores é cobiçado

| Desenvolvimento | Modalidade movimentou R$ 124,631 bilhões no ano passado e já chega a R$ 30,336 bilhões em 2024
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Horizonte, CE, BR 24.05.031 - Microcrédito - Na foto Chiquinho da Gula e esposa (Fco Fontenele O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Horizonte, CE, BR 24.05.031 - Microcrédito - Na foto Chiquinho da Gula e esposa (Fco Fontenele O POVO)

A perda do emprego em uma fábrica de calçados e a falta de expectativas de conseguir um novo trabalho de carteira assinada motivou, há 20 anos, o casal Francisco da Mata Ribeiro Neto e Maria Edilene Santos Ribeiro a investir no sonho de um negócio próprio. Eles engrossaram as fileiras dos informais à época e, logo depois, fizeram parte das primeiras experiências do microcrédito orientado no Ceará - modalidade que, apenas no último ano, movimentou R$ 124,631 bilhões em todo o País e já chega a R$ 30,336 bilhões em 2024.

Com instruções de como desenvolver a lanchonete que montaram na esquina da igreja matriz de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), eles fundaram a Gula Mania - a segunda tentativa de empreender, depois de um fracasso vendendo roupas por dois anos. "Tivemos a ideia de trabalhar no ramo alimentício. Como eu trabalhei a minha vida inteira em lanchonete, peguei a manha de fazer salgado e essas coisas. Começamos na calçada de casa, fritando um pastelzinho até alugar uma 'gurita' perto da igreja", relembra Chiquinho da Gula Mania - apelido pelo qual ficou conhecido na cidade e redondezas.

Equipamentos para a cozinha industrial, estrutura para o atendimento, automóvel de transporte dos alimentos para as duas unidades e até placas solares foram comprados via Crediamigo - o programa de microcrédito orientado do Banco do Nordeste (BNB), a instituição com a qual Chiquinho e Edilene se relacionam desde a fundação da lanchonete.

"A gente foi até o limite que o banco permitia. Juntando tudo, dá um investimento de R$ 600 mil (ao longo dos 20 anos)", conta Chiquinho, com a modéstia de quem calcula um faturamento anual de R$ 3 milhões e tem planos de chegar a dez lanchonetes em três cidades nos próximos anos. O progresso do negócio dele demonstra ainda a evolução dessa modalidade de crédito no País. Dados do Banco Central (BC) apontam que, desde a pandemia de Covid-19, o saldo do microcrédito saltou 51,06% no Brasil ao mesmo tempo que as concessões de novos empréstimos cresceram 12,98%.

Uma das explicações para a ampliação dessa modalidade, analisa a professora Eveline Carvalho, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é a baixa taxa de juros. Ao ano, indica o BC, os juros cobrados anualmente no microcrédito saltaram menos de 10 pontos percentuais. Mais do que isso, diz a especialista que estudou a experiência cearense do Ceará Credi - programa de microcrédito orientado do governo cearense voltado a camadas excluídas das faixas dos bancos, como egressos do sistema penitenciário -, a baixa inadimplência tornou a modalidade atraente e alvo de várias instituições, o que fez o cliente do microcrédito ser cobiçado por bancos públicos e privados.

"Eu já recebi visita de Santander, Bradesco, Itaú... Todos querem que eu vá ser cliente deles", conta Chiquinho da Gula Mania, acrescentando que analisa minuciosamente as taxas até escolher a instituição com quem vai se relacionar. Um dos dois filhos, Natan Ribeiro, inclusive, já acompanha o negócio de perto enquanto faz a faculdade de Ciências Contábeis e deve ficar à frente das contas da Gula Mania, segundo conta orgulhosa Edilene.

"Isso (essa evolução) gera um dinamismo para esse núcleo da economia que não estava sendo atendido (pelos bancos). É um grupo que, aparentemente, podemos pensar que é pequeno, mas um microempreendedor desse gera entre dois e três empregos. Vai gerando uma cadeia de expansão de empregos e renda na economia como um todo e desempenha um papel importante em regiões como o Nordeste, no qual o nível de renda é muito baixo", analisa João Mário de França, professor do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (Caen-UFC).

O Chiquinho da Gula Mania, por exemplo, começou só ele e a esposa e, atualmente, emprega 30 pessoas nas duas unidades da Gula Mania, em Horizonte. A expectativa é ampliar com as novas unidades. "O nosso objetivo é abrir um total de dez lojas por Cascavel, Chorozinho, Pacajus… Recebemos clientes dessas cidades e eles ficam chamando a gente pra lá", conta Edilene.

Silvana Parente, diretora de Economia Popular e Solidária da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), coordenadora do Programa Ceará Credi e ex-coordenadora de implantação do Crediamigo no BNB, observa ainda que o microcrédito orientado desempenha um papel essencial para o desenvolvimento econômico e social de localidades carentes, onde a população não tem acesso a crédito e orientação de como gerir um negócio.

 

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