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Poder do esgotamento sanitário no desenvolvimento social
Reportagem

Poder do esgotamento sanitário no desenvolvimento social

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Tipo Notícia

A empresária e moradora da Granja Lisboa, Kelly Ramos, 44, sonha há anos que a rede de esgotamento sanitário chegue até sua casa, com quem vive com os filhos e o marido. Está há 15 anos no local e já teve problemas em função da ausência de uma estrutura de saneamento adequada na comunidade.

Chegou a deixar seu lar, quando seu filho mais velho tinha nove anos. Enquanto brincava de bola na rua com os amigos, apresentou problemas de inchaços nos pés, devido à falta de higiene nas vias públicas.

"Só voltei após o calçamento. Hoje temos fossa (escavação em que são despejados e acumulados dejetos de casas não servidas por rede de esgoto), mas as pessoas ainda jogam água suja na rua. Ter saneamento é um benefício maravilhoso porque tira toda essa mazela que está no meio da rua, que as pessoas jogam, porque não têm condição de fazer uma fossa", diz.

No Ceará, entre 2005 e 2021, exatas 594 mil pessoas passaram a ter acesso ao serviço de abastecimento de água tratada e quase 1 milhão de pessoas conseguiram acesso ao serviço de coleta de esgoto em suas residências, aponta o estudo Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento no Ceará, da Trata Brasil.

Há 16 anos, a rede de distribuição de água cearense tinha 9,6 mil quilômetros de extensão e passou para 22,3 mil quilômetros em 2021, um crescimento de 5,4%.

Já a rede de coleta de esgoto, por sua vez, passou de 3,5 mil quilômetros, em 2005, para 6,7 mil quilômetros em 2021, apresentando um crescimento de 4,1% ao ano.

Em relação ao volume de água consumida o aumento foi de 2% ao ano, indo de 200,2 milhões de m³ em 2005 para 272,7 milhões de m³ em 2021. Em termos per capita, o volume consumido de água passou de 24,7 m³ por habitante para 29,5 m³ por habitante ao longo desse período, crescimento de 1,1%.

Outro exemplo de quem aguarda os benefícios do saneamento é a costureira Elisângela do Nascimento, 42, moradora da Granja Lisboa há 21 anos, que conta que quando se mudou só tinha a casa dela e mais uma na rua.

"Era tudo mato, não tinha água nem nada aqui. Hoje, temos a fossa que recebe o que usamos no banheiro e a água da chuva que vai para fora por um cano. Fica tudo no meio da rua e nas portas das casas", conta.

A expectativa com a chegada da obra de saneamento e esgotamento é grande. "Porque a água no meio da rua atrai doença, rato, barata, essas coisas e com o saneamento não vai ter mais. Não vejo a hora, mesmo sabendo que a conta vai aumentar um pouco", diz.

Analisa-se, em todo o mundo, e o Brasil e o Ceará seguem a tendência, que as cidades se tornem cada vez maiores e mais populosas, segundo comenta o diretor-presidente da Ambiental Ceará, André Facó.

E isso tem um impacto direto nas cidades, pois um planejamento urbano inadequado interfere tanto no meio ambiente como na qualidade de vida das pessoas.

"Boa parte dos problemas de saneamento, pensando em abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem, vem exatamente pela ocupação inadequada de áreas que não poderiam ter residências. Vemos a ocupação de margens de rio, até aqui mesmo em Fortaleza, que inviabiliza muitas vezes ter estruturas de drenagem ou propriamente infraestrutura de esgotamento sanitário", aponta.

Segundo ele, essa ocupação inadequada gera problemas para as pessoas e impacta também no meio ambiente. Por isso, é necessário tanto um planejamento urbano, mas também o consenso das pessoas de que essas ações vão afetar diretamente não somente elas, mas os vizinhos também.

Para Facó, o desafio do saneamento, nas suas quatro vertentes - abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e a parte de resíduos sólidos - é tornar essa invisibilidade visível.

Diferentemente de um abastecimento de água, telefonia, eletricidade, que está ligado ao indivíduo, o esgotamento sanitário interfere em tudo.

Facó finaliza dizendo que o grande desafio é, realmente, conscientizar todos dessa importância e tirar essa invisibilidade de um setor que impacta na vida de todo mundo.

O desafio da parceria público privada entre Ambiental Ceará e Cagece é que, em 10 anos, a cada dez casas, nove tenham à disposição o sistema público de esgotamento sanitário.

Isso requer, apenas em 24 cidades do Ceará, um investimento da ordem de R$ 15 bilhões. Já em todo o Brasil a cifra sobe para R$ 900 bilhões para que se tenha implantação dessas infraestruturas em vários estados.

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