A discussão envolvendo a atriz Luana Piovani e o jogador de futebol Neymar Jr. mobilizou as plataformas digitais, tendo como pano de fundo a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a possibilidade de cessão dos terrenos de Marinha para um único dono, a chamada PEC das Praias. A treta entre os famosos começou com uma troca de farpas virtual e acabou mobilizando usuários das plataformas, políticos e imprensa a olharem mais atentamente para um assunto que até então não era pauta.
De forma resumida, o movimento começou quando Luana compartilhou vídeo de uma comunicadora socioambiental que falava sobre a PEC. A atriz chamou a atenção contra projeto que poderia "privatizar" as praias. Neymar foi parar na história após ter uma de suas empresas associadas a uma incorporadora que pretende executar um projeto de "Caribe brasileiro", com imóveis de alto padrão no litoral do Nordeste. Luana criticou Neymar por, supostamente, apoiar a PEC.
Fato é que a treta jogou luz sobre o projeto que já havia sido aprovado pela Câmara e caminhava na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Mais que isso, com a má repercussão pública a partir da mínima referência à "privatização de praias", o texto deve ser engavetado no Senado, segundo informou o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por não ser prioridade e por não ter sido totalmente discutido.
Paula Vieira, cientista política e professora do Centro Universitário Christus, explica a relação entre o tamanho da mobilização a partir de uma análise sociológica da prática da fofoca.
"Quando me perguntam sobre o porquê da treta e da fofoca mobilizarem tanto, lembro logo da perspectiva sociológica da existência da fofoca, que é a criação de vínculos. Nem que seja para se diferenciar de um outro grupo. As pessoas aderem à fofoca, que se torna uma forma de socialização e também um elemento de distinção de um grupo para o outro", diz.
Vieira considera curioso que o alvo deste caso tenha sido um projeto de privatização. "Quem é esse outro que está dentro desse projeto e que foi motivo de posicionamentos públicos? Mas é essa a dinâmica. Nela a fofoca tem muito mais aderência pelos elementos de quem é um e de quem é o outro, de para quem vai a torcida do que necessariamente para a publicização da pauta que estava sendo discutida", comenta, acrescentando que o próprio alimentar da treta é uma forma de posicionamento estratégico dos envolvidos.
"Teve todo esse burburinho, conversa, criação de vínculos porque é por onde as pessoas se conectam e constroem afetos, afetos no sentido de mexer com as emoções. A treta traz isso, muito mais do que simplesmente se colocar a favor ou contra um projeto", conclui. (Vítor Magalhães)