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Eólica offshore: Estados do Nordeste demonstram seus potenciais
Reportagem

Eólica offshore: Estados do Nordeste demonstram seus potenciais

Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte se preparam para nova fronteira da energia eólica no País
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PECÉM planeja estaleiro para eólica offshore no Porto (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA PECÉM planeja estaleiro para eólica offshore no Porto

O POVO mostra no segundo episódio da série como Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí estão atuando para assegurar os projetos de geração de energia eólica no mar. Confira abaixo.

FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Pátio de pás eólicas. Porto do Pecém.
FORTALEZA, CE, BRASIL,03.05.2023: Pátio de pás eólicas. Porto do Pecém.

Ceará é principal alvo de offshores

Mais de 20 anos após a entrada em operação do primeiro parque eólico do Brasil - instalado nas areias da Praia Mansa (Fortaleza) -, o Ceará continua despertando o interesse dos investidores do setor e é o principal alvo dos projetos de eólica offshore no Nordeste. Ao todo, são 25 parques inscritos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), dos 48 projetados para a Região, que tem o mar cearense como foco.

A participação do Estado no debate nacional sobre a regulamentação da nova modalidade de geração, ouvindo o setor produtivo e contribuindo em fóruns, como o grupo de trabalho formado na Câmara Setorial de Energias Renováveis, explicam o interesse pelo Estado, segundo indica Adão Linhares, secretário executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria da Infraestrutura do Ceará.

Um atlas de energias renováveis, como o lançado há cinco anos, é outro fator que colabora com a atração de investimentos do setor para o litoral cearense, como destaca ao O POVO Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). A plataforma compõe, juntamente com o zoneamento ecológico-econômico costeiro feito pelo Estado há dois anos, uma série de informações estratégicas para os projetos.

Infraestrutura portuária

Mas é na infraestrutura portuária que está o maior motivo de o Estado se destacar no setor, diz. "O Porto do Pecém é o ideal. Está preparado, praticamente, para o que a gente chama de estaleiro para essas peças gigantes da eólica offshore", assegura, acrescentando ainda que acompanha de perto os projetos mais avançados no Ibama para dar suporte técnico ao licenciamento.

Ele observa que a logística de transporte para equipamentos como pás, torres, bases e geradores não admite o modal rodoviário e é ideal ter um terminal com uma retroárea capaz de comportar as indústrias e o fluxo desses equipamentos. O modelo porto-indústria, que tem um complexo industrial tem conexão direta com o terminal, é classificado pela Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica) como ideal para o segmento offshore e é justamente no qual o Pecém se enquadra.

Hugo Figueirêdo, presidente da Cipp SA e responsável pela administração do Porto do Pecém, já adiantou desde o ano passado os planos do "estaleiro" de offshore. Na época, ele estimou em R$ 300 milhões a construção, mas os números estão sendo revistos. "O segmento de eólicas offshore está no planejamento de longo prazo para o Porto do Pecém, que inclusive está sendo atualizado agora com apoio de uma consultoria contratada através de assistência técnica oferecida pelo Banco Mundial", revela.

Agentes atentos ao mercado

Ao mesmo tempo, os agentes que atuam no terminal cearense também estão se preparando para a demanda futura. A Tecer Terminais diz estudar o assunto há mais de dois anos. A iniciativa inclui contatos com a indústria, consulta a armadores locais, conhecer as experiências no Exterior e, agora, analisa os equipamentos capazes de fazer a operação das peças de eólica offshore.

"Vamos ter linhas de eixos auto propelidos (um veículo modular hidráulico) e um guindaste de 1,5 mil toneladas na ponta do cais, que tira a peça do navio e toda a movimentação de armazenagem vai ser feito com os eixos", detalha Carlos Alberto Nunes, diretor comercial da empresa, sobre como deve funcionar o manuseio.

Nunes ressalta que o objetivo é garantir uma operação com a maior quantidade de mão de obra brasileira possível - como acontece na eólica onshore, onde a participação nacional está acima de 70%, segundo ele. Dada a participação de muitas empresas estrangeiras, a Tecer trabalha para competir no mesmo patamar e já tem pessoal treinado.

Ele, assim como Adão Linhares, reforçam a competitividade cearense a partir do Pecém no setor de eólica offshore, uma vez que, dos quatro estados com projetos inscritos no Ibama, o Estado é o único com um porto vocacionado - e que continua reforçando a infraestrutura - para as energias renováveis.

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Piauí: A estratégia e o potencial do menor litoral do País

Entre os três maiores produtores de energia eólica do País, com 1.328 parques e 4,05 gigawatts de potência instalada, o Piauí gera cinco vezes mais energia do que consome e enfatizou as políticas de desenvolvimento voltadas às energias renováveis no último ano.

Com isso, o menor litoral do País, com 66 quilômetros, despertou o interesse de seis investidores em eólica offshore já cadastrados no Ibama e mais um, da japonesa Shizen Energia, que assinou memorando de entendimento com o governador Rafael Fonteles (PT) no ano passado, mas ainda não formalizou o projeto.

Outro resultado da iniciativa estadual foi a entrada na corrida pelo hidrogênio verde - com o destaque de ser a única unidade da federação com recurso garantido pela União Europeia - e o reconhecimento de que deve precisar de ainda mais energia em um médio prazo.

"O Piauí não vai ficar só na indústria que vai produzir hidrogênio verde e amônia. Vai ter indústrias alavancadas por esse setor, como aço verde, fertilizante e essas vão precisar de mais energia eólica onshore e também offshore", considera Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí - empresa criada pelo Estado para atuar na atração de investimentos.

Ele conta ao O POVO que a estratégia é a formação de um ambiente atrativo, no qual a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) - a segunda do País em operação e já com investidores em H2V interessados - assume o papel principal na política de industrialização enquanto os investimentos no Porto de Luís Correia são executados.

O vice-presidente revela que ao ir ao mercado buscar informações sobre o setor offshore, já foi abordado por investidores da cadeia produtiva do setor, que começaram a provocá-lo e a agenda de encontros promete ser intensa nas próximas semanas.

A demanda, acredita, é um resultado da assertividade da estratégia desempenhada pelo Estado. "A atração para essas empresas no Piauí foi um entendimento do governador de que chegou a vez de focar o Estado nas energias renováveis e aí onde se insere as offshore, para casar com ideia do hidrogênio verde, da transição energética e de um estado realmente verde", destacou.

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Área em que o SENAI-RN faz medições no offshore e planeja instalar planta-piloto de parque eólico
Área em que o SENAI-RN faz medições no offshore e planeja instalar planta-piloto de parque eólico

RN: o maior produtor de energia eólica do País sai na frente

Líder em número de parques eólicos onshore (3.413) e de maior capacidade instalada (9,9 gigawatts) do Brasil, o Rio Grande do Norte é o único dos estados do Nordeste com um projeto-piloto de usina offshore inscrito no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), além de outros 13 projetos de investidores. Os estudos envolvem toda a cadeia produtiva do setor e garantem pioneirismo ao Estado na nova modalidade.

Capitaneado pelo Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), o projeto dá seguimento ao foco destinado à área há mais de dez anos, quando o primeiro atlas offshore foi desenvolvido, apontando os melhores locais de vento e profundidade para se instalar as torres.

Chamado de Sítio de Testes, o projeto-piloto estima entre 7 MW e 15 MW a potência unitária das duas torres. Inscrito desde janeiro de 2023, foi o único a receber o termo de referência para dar entrada na licença ambiental na última rodada do Ibama.

"Nós estamos concluindo a documentação de impacto ambiental ainda neste mês e acreditamos que no início do segundo semestre o Ibama pode estar liberando a nossa licença, que é voltada a experimento e voltada ao modelo simplificado", estima Rodrigo Mello, diretor do ISI-ER.

Modelo para parques comerciais

O objetivo, diz ele, é que o projeto-piloto sirva de modelo para o licenciamento dos parques comerciais. Sobre o investimento necessário, Mello afirma que o cálculo está sendo feito e avalia usar recursos de fundos para pesquisa e desenvolvimento, mas adianta que boa parte dos equipamentos (geração, cabos, torres, etc) são negociadas com parceiros que compõem a cadeia produtiva do setor eólico e tem interesse em participar das offshores.

Sobre prazos, o diretor observa que quer "assegurar a licença ambiental, conferir se as principais decisões técnicas são definidas neste ano, ver quais pontos precisamos desenvolver nas condições brasileiras após experiências no Exterior. "Acho que, com isso, até o fim do ano, esse projeto possa estar pronto para iniciar o processo de negociação do financiamento."

Mapa da margem equatorial

Também em parceria com indústrias, empresas de equipamentos acessórios ao setor eólico e investidores, o ISI-ER desenvolveu uma estratégia mais ampla, com a qual visa gerar informações sobre toda a costa equatorial do País.

"Nós temos, atualmente, vários equipamentos para medição do offshore montados aqui no Rio Grande do Norte e em outros pontos do Brasil para consumo nosso, do Senai, e alguns clientes (entre eles a Petrobras). E estamos construindo o atlas offshore brasileiro da margem equatorial. Instalamos equipamentos em abril em toda a área, de Fernando de Noronha (PE) ao Amapá", conta, ressaltando que o ISI-ER é o maior centro de pesquisa para eólicas no Brasil.

A iniciativa, acrescenta, garante o interesse de missões estrangeiras por ano em média às instalações do Instituto para tratar da geração de energia eólica no mar brasileiro e outros assuntos relacionados, como hidrogênio verde.

Estado trata de leis para viabilizar projetos

Simultaneamente aos trabalhos técnicos do ISI-ER, o governo do Rio Grande do Norte diz estar agindo para garantir uma legislação estadual apta a impulsionar os projetos que têm o Estado como foco dos investimentos. E isso envolve diversas frentes, como pontua Hugo Fonseca, coordenador de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte.

Ele ressalta que só um estudo levou quase dois anos, quando foram analisadas as áreas que serão destinadas na faixa costeira para receber os cabos de transmissão, as subestações e toda a infraestrutura de conexão do sistema elétrico.

Os dados, acrescenta, serão acrescentados ao projeto de lei estadual que visa uma lei de zoneamento ecológico e econômico do Estado. A expectativa é de que o trâmite leve mais um ano e meio na Assembleia Legislativa potiguar.

Neste tempo, o coordenador ressalta que o governo prepara regulamentação para o licenciamento da infraestrutura de apoio em terra para as eólicas no mar. Além disso, mira políticas públicas voltadas para as comunidades pesqueiras e tradicionais que podem ser impactadas pelos projetos offshore.

"Tudo isso requer muito tempo, muita preparação, muito planejamento, desenvolvimento de recursos técnicos e jurídicos que vão dar todo o arcabouço regulatório para que a atividade funcione na perspectiva estadual", observa.

Porto em vista

Em outra frente, Hugo Fonseca conta que os planos do porto-indústria verde de Caiçara do Norte, com o qual o Governo do Rio Grande do Norte visa dotar o Estado de um terminal competitivo tanto para a eólica offshore quanto para os planos de hidrogênio verde.

Cálculos iniciais apontam a necessidade de R$ 5 bilhões nos primeiros dez anos de construção do Porto e já conta com um acordo de cooperação técnica assinado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Aqui, no Rio Grande do Norte, tudo isso está bem evoluído, bem maduro", resume Rodrigo Mello.

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Maranhão quer ampliar oferta de energia para parque industrial

Único estado com infraestrutura portuária equiparada ao do Ceará entre os quatro estados-alvo dos projetos de eólica offshore, o Maranhão tem na nova modalidade de geração de energia renovável uma das estratégias de zerar a emissão de carbono do parque industrial em crescimento acelerado.

De olho nas oportunidades que surgem com o hidrogênio verde, o Estado observa a crescente demanda por energia no mundo e no próprio território, indica Raimundo Fraga, superintendente de Minério-Metalúrgica Petróleo e Gás do Governo do Maranhão.

"Agora mesmo, eu participei de uma conferência com um investidor internacional que pretende produzir hidrogênio no Maranhão com a potência de 10 gigawatts (GW), mas vai precisar de uma potência de cerca de 14 GW de energia eólica ou solar", disse quando concedeu entrevista ao O POVO em maio.

Fraga conta, ainda, que a Universidade Federal do Maranhão está com um projeto de mapeamento dos 640 quilômetros de costa para indicar o potencial offshore, assim como fizeram Ceará e Rio Grande do Norte. Estimado em R$ 5 milhões, o levantamento tenta angariar recursos para ser concluído e dar mais segurança aos investidores do setor que procuram o Estado.

Para completar a infraestrutura e dar maior competição na offshore, o superintendente conta que a Zona de Processamento de Exportação atrelada ao Porto de Itaqui está em fase de desenvolvimento há dois anos e meio e já desperta interesse de investidores em hidrogênio verde. O objetivo é fazer uso das duas linhas férreas que acessam o terminal, além das rodovias.

Itaqui, em São Luís, tem na exportação de milho e soja e no recebimento de combustíveis e fertilizantes as principais cargas. Reflexo direto dos itens que fazem a economia do Maranhão girar, mas sem conexão com as renováveis.

"Nós temos água, minério da Vale, energia renovável eólica onshore, solar e vamos ter a offshore para atender esse parque industrial e produzirmos aço verde, exportarmos com maior valor agregado", cita sobre mais um projeto que negocia com investidores suecos e forma o "objetivo verde" do Estado.

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Dia 3

Confira na próxima quinta-feira, 13, a terceira parte da série sobre eólica offshore, na qual o PL da regulamentação e seus jabutis vão ser tratados

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