No Ceará, conforme apurado pelo O POVO na série "Santificados", cerca de 17 mulheres são consideradas santas pelo povo. Destas, sete foram assassinadas por companheiros, noivos, "admiradores" e parentes. É o que aponta a análise de Daniele Ribeiro Alves, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
"É interessante que a maioria dessas santas têm características em comum e, apesar dos casos terem ocorrido há décadas, permanecem muito atuais. Na maioria das vezes eram pobres e jovens. São mulheres que disseram não, negaram o poder masculino, e, por conta disso, sofreram um feminicídio", aponta a socióloga.
Daniele explica que, nas narrativas das santas vítimas de feminicídio, o que desencadeou o processo de santidade foi o martírio, o sofrimento extremo que enfrentaram. No entanto, atualmente, é frequente limitar a lembrança delas apenas à perspectiva de castidade, negligenciando a crueldade dos atos que sofreram.
"Se exalta muito mais as características de virgindade, de feminilidade por uma lógica tradicional, do que a suas características de resistência. Vai se construindo uma história de uma idealização do feminino", conclui a especialista.