Logo O POVO+
"Economia a gente vê depois": Brasil é quem mais cresce entre os maiores PIBs do mundo
Reportagem

"Economia a gente vê depois": Brasil é quem mais cresce entre os maiores PIBs do mundo

Após quatro anos da crise sanitária, pesquisa revela que quem parou negócios na pandemia enfrentou impacto menor na retomada. Brasil e Índia foram os países com o maior avanço econômico, segundo o FMI
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
As pessoas caminham em uma rua comercial lotada em 19 de maio de 2021, enquanto cafés, restaurantes e outros negócios reabrem após o fechamento durante a pandemia do coronavírus (Foto: PHILIPPE LOPEZ / AFP)
Foto: PHILIPPE LOPEZ / AFP As pessoas caminham em uma rua comercial lotada em 19 de maio de 2021, enquanto cafés, restaurantes e outros negócios reabrem após o fechamento durante a pandemia do coronavírus

Quatro anos após o início da pandemia, o Brasil se consolidou como a economia que mais evoluiu dentre os grandes mercados calculados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Em valores nominais, o Produto Interno Bruto (PIB) alcançou US$ 2,17 trilhões, avanço pouco maior do que 40% desde 2020.

O desempenho brasileiro é similar ao observado na Índia, que hoje é a quinta economia do mundo, segundo o FMI. Os dois países foram os que mais cresceram, deixando para trás, em termos de aceleração, economias como dos Estados Unidos e China. A diferença entre esses dois países é que um evitou mais mortes no período pandêmico.

Dentro do contexto do impacto da pandemia sobre as economias no mundo, o estudo espanhol "Evolução epidemiológica e impacto económico da pandemia de covid-19 na União Europeia e no mundo e efeitos das estratégias de controlo sobre os mesmos: Um estudo ecológico", propagado na Elsevier, mostra que economias que decidiram adotar a estratégia "zero covid" foram mais eficazes para evitar a mortalidade e potencialmente tiveram um impacto menor no PIB no primeiro ano da pandemia, entre 2020 e início de 2021.

Naquele cenário, a economia se tornou a grande preocupação quando houve necessidade de lockdown para conter a evolução do vírus da Covid-19. Mas, o mantra "A economia a gente vê depois" parece fazer mais sentido agora, quatro anos após a pandemia. Economia é feita de gente (viva). E as estratégias adotadas por Índia e Brasil merecem uma análise.

O doutor em microbiologia e pesquisador Átila Iamarino, por exemplo, repercutiu a pesquisa publicada pela Elsevier, e destacou que a decisão de parar todas as atividades em prol do isolamento social, além das vidas salvas, permitiu com que houvesse condições de retomar bem a economia, pois são as pessoas que movem as atividades.

E criticou a postura do Brasil à época ao dar muito espaço para visões negacionistas: "O Brasil foi nem-nem. Nem poupou vidas - pelo contrário - nem a economia".

No discurso acalorado de meados de 2020 sobre uma virtual escolha entre vidas salvas ou economia, o debate era sobre a preferência ou não de que o Brasil adotasse a postura de poupar mais vidas. Exemplo disso é a Índia.

O Brasil liderou, juntamente com Estados Unidos, Reino Unido e Itália, os países em que a pandemia de Covid-19 foi mais mortal na lista do G20, com mais de 3 mil mortes por milhão de habitantes. E poderia ter evitado 346 mil mortes, caso o desempenho no combate à pandemia tivesse sido similar à média do G20, conforme estudo do Our World Data.

No caminho contrário, a Índia, além de Arábia Saudita, Cingapura, Japão e Coreia do Sul, destacou-se entre os países que menos perderam vidas por Covid-19, sendo 371 mortes por milhão de habitantes, praticamente dez vezes menos que o Brasil, mesmo contando com uma população praticamente sete vezes maior.

Ao O POVO, especialistas destacam que, apesar de amargo no curto prazo, o movimento de diminuir ao máximo a circulação de pessoas - e consequentemente de atividades econômicas em modo presencial, o mais utilizado até então - foi o mais acertado.

Além do PIB, outros indicadores brasileiros apresentam recuperações consistentes. A inflação segue trajetória de queda para patamar abaixo de 4% ao ano após alcançar 10% em 2021 quando o grosso das atividades econômicas retomaram.

E o nível de empregabilidade ganha força, quase num patamar de pleno emprego, alcançando os melhores resultados desde 2014. Atualmente, o indicador de desemprego está abaixo de 8%, enquanto na pandemia chegou a alcançar 14,2%.

O Ceará foi um dos exemplos de estados que adotaram regimes de restrição anti-covid. Flávio Ataliba, então secretário executivo do Planejamento (Seplag), foi o coordenador do projeto de retorno do Ceará.

Após praticamente três meses de lockdown, em que apenas atividades essenciais puderam funcionar com restrições, iniciou em 1º de junho de 2020 a execução da primeira fase do Plano Responsável de Abertura das Atividades Econômicas e Comportamentais, com a retomada de 17 setores.

Ataliba lembra que esse foi o período mais desafiador de sua vida, o que deve render um livro de memórias no futuro, planeja. Ele enfatiza que o principal desafio era lidar com a necessidade de fechar os negócios e o impacto que isso gerava entre os empresários, mas ressalta que tudo foi feito com diálogo e "entendendo a dor do outro".

"O comitê foi criado junto das medidas mais duras de lockdown. Evidentemente, nunca passamos por tal situação, não havia nada nos manuais de Economia. Por isso, ressalto a liderança do governador Camilo Santana e do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, pela união fundamental".

Economia: PIB do Brasil cresce 2,9% em 2023, aponta IBGE | O POVO NEWS

Mais notícias de Economia

Colheita de soja. Governo retoma Programa de Estoque Público de Alimentos. Foto: Wenderson Araujo/Trilux
Colheita de soja. Governo retoma Programa de Estoque Público de Alimentos. Foto: Wenderson Araujo/Trilux

Recuperação do Brasil após a pandemia supera potências, mas existem desafios internos

Com os efeitos da pandemia e também de recessões nos anos de 2015 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve a pior década em 120 anos ao fim de 2020. Ainda assim, a economia brasileira conseguiu uma recuperação que propiciou sua escalada no ranking das maiores economias do mundo, saindo de 14º para a 8º.

Não só o saldo das riquezas produzidas, puxadas principalmente pelo agronegócio, mas outros indicadores importantes também evoluíram, tais quais os de inflação e desemprego.

Após atingir um cenário de inflação acumulada em dois dígitos ao fim de 2021 (10,06% no acumulado), o índice arrefeceu para um nível abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central e está atualmente prevista para fechar 2024 em 3,96%.

Já o cenário de mercado de trabalho atingiu o melhor desempenho desde 2014. Após alcançar 14,2% de desemprego em 2020, o indicador caiu pela metade ao fim de 2023, com 7,4%.

Thomaz Bianchi, da M7 Investimentos, destaca que o desempenho geral da recuperação pós-pandemia dos indicadores do mercado brasileiro são mais positivos do que economias ricas, como a dos Estados Unidos, que ainda não conseguiram controlar a inflação e mantêm patamar histórico de taxa de juros.

Ele lembra que 2020 foi um ano de incertezas para as empresas e a retomada das atividades no "novo normal" foi marcada por choques nas cadeias de abastecimento. Alguns mercados se recuperaram melhor, outros nem tanto.

Lauro Chaves, doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acrescenta que o movimento de recuperação dos países ainda foi influenciado com o início de conflitos internacionais que impactam cadeias importantes da economia, como na guerra entre Rússia e Ucrânia.

No caso do Brasil, Lauro destaca que o desafio do momento é conciliar crescimento do PIB com distribuição de riquezas e redução de desigualdades, já que muito do avanço da economia nacional se deve ao crescimento do consumo, influenciado principalmente pelo aumento do valor médio pago nos programas sociais desde a pandemia.

Ainda assim, as Perspectivas Econômicas Globais, estudo produzido pelo Banco Mundial, apontam que o crescimento global se manterá estável em 2,6% neste ano, mas que, regionalmente, na América Latina e Caribe, o Brasil vai adquirir um papel de liderança regional junto de México e Colômbia.

O Banco Mundial estima que a melhoria do cenário interno de juros a partir do crescimento econômico deve propiciar a recuperação do consumo e dos investimentos privados.

FORTALEZA-CE, BRASIL, 25-04-2023: Maia Junior, Ex-Vice-Governador, Entrevista para Paginas Azuis Jornal O POVO. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 25-04-2023: Maia Junior, Ex-Vice-Governador, Entrevista para Paginas Azuis Jornal O POVO. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)

Maia Júnior: Projeto de desenvolvimento econômico do Ceará não parou mesmo na pandemia

Líder da economia cearense na época da pandemia no Ceará, o ex-secretário do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, Maia Júnior, conta como foi sua experiência na pandemia e como foi a lida do Governo do Estado com o desafio de organizar o fechamento e a reabertura da economia cearense.

O POVO - No período da pandemia se criou um debate sobre economia versus saúde. No Ceará foi feito todo um plano para evitar o contágio fechando atividades...

Maia Júnior - Independentemente de qualquer outro aspecto, a vida vem em primeiro lugar e isso tinha de ser priorizado, a vida das pessoas. Era um momento de muita desinformação sobre todos os processos, a sociedade desconhecia com profundidade os efeitos e o resultado que poderiam ter por consequência da Covid-19. Além dos problemas enfrentados pela própria ciência, que ainda não tinha vacina. Houve muitas interrogações no processo, mas muito aprendizado e eu acho que o estado do Ceará fez uma opção correta de primeiro priorizar a vida e depois se estruturar.

OP - Como um dos líderes da gestão estadual na área econômica, o senhor teve de tratar com empresários. Como foi lidar com eles naquele momento tão crítico, já que para o empresário seu negócio é uma "vida" também?

Maia - A opção do lockdown foi exatamente para garantir a vida em primeiro lugar e, na medida em que a gente dominasse os efeitos da doença, fomos liberando aquelas atividades econômicas de menor risco, administrando isso paulatinamente e com muita transparência e participação dos envolvidos numa mesa sob a liderança do governador Camilo Santana. O Ceará, logicamente, teve um impacto muito grande na economia no primeiro ano, mas a surpresa foi que no PIB de 2020 a prévia do resultado mostrava uma queda em torno de 12% a 15%, mas caímos menos, entre 4% e 5%. E conseguimos retomar rápido já no ano seguinte.

OP - Passados quatro anos, como o senhor analisa o atual momento econômico?

Maia - No primeiro ano de pandemia, nossa economia encolheu 4% e no ano seguinte cresceu 6%. Depois retomamos o curso normal do que sempre foi nossa economia. No Governo, sempre preguei muitas ideias de ruptura para que a economia do Ceará pudesse evoluir e se modernizar. Temos muito espaço para crescer no agronegócio, partir para novas cadeias econômicas de alto valor agregado, através do hub de tecnologia, das energias renováveis e do hidrogênio, assim como velhos sonhos, como a instalação da refinaria e a produção mineral. No último governo vivemos uma reestruturação da economia, introduzindo um corpo técnico qualificado e diversos programas definindo um planejamento estratégico para as próximas décadas, como o Ceará Veloz e o Ceará 2050, que projeta duplicarmos nosso PIB em 25 anos.

PIB - Ranking das 10 maiores economias, segundo o FMI (em US$ tilhões)

  1. Estados Unidos – US$ 26,95 trilhões
  2. China – US$ 17,7 trilhões
  3. Alemanha – US$ 4,43 trilhões
  4. Japão – US$ 4,23 trilhões
  5. Índia – US$ 3,73 trilhões
  6. Reino Unido – US$ 3,33 trilhões
  7. França – US$ 3,05 trilhões
  8. Itália – US$ 2,19 trilhões
  9. Brasil – US$ 2,13 trilhões
  10. Canadá – US$ 2,12 trilhões

Ainda segundo o cálculo do FMI

  • As maiores quedas do PIB em 2020: Peru (-11,1%); Espanha (-11%) e Reino Unido (-9,9%)
  • Os únicos países que tiveram crescimento econômico em 2020: Taiwan (3,1%); China (2%) e Turquia (1,6%)
    Fonte: FMI

EVOLUÇÃO DO PIB BRASILEIRO ATÉ A PANDEMIA E APÓS

2013: 3%
2014: 0,5%
2015: -3,8%
2016: -3,6%
2017: 1,3%
2018: 1,8%
2019: 1,4%
2020: -4,1%
2021: 4,8%
2022: 3%
2023: 2,9%
2024*: 2,08%
*Previsão de crescimento, segundo o Banco Central

O que você achou desse conteúdo?