A cada dois anos, vivemos eleições no Brasil, com a definição de projetos em escala municipal, estadual e federal. Acredito que nada tem animado mais os debates eleitorais, pelo menos nos últimos vinte anos, do que os problemas de segurança pública vividos pela sociedade brasileira.
Refletir sobre a situação da segurança pública, em um momento eleitoral, deveria ser uma oportunidade para esclarecer a população dos problemas e discutir propostas para uma sociedade menos violenta. Não obstante, a cada nova eleição, assistimos estarrecidos a deterioração do debate sobre segurança pública, com políticos ávidos por votos propondo soluções absurdas, apelando para os sentimentos de medo e insegurança da população.
Nos debates, as instituições de segurança são usadas como mercadorias político-eleitorais, com políticos profissionais definindo programas, inventando projetos e prometendo usar as forças policiais de acordo com interesses do seu governo. Desta maneira, policiais de todas as forças assistem suas instituições serem vendidas e prometidas em pacotes anunciados por políticos em campanha eleitoral.
Candidatos se aproveitam de cenários de violência para defenderem violações de direitos como estratégia de segurança pública, esquecendo que, nos últimos dez anos, estados como o Ceará expandiram suas forças policiais, investiram em tecnologia, realizaram prisões em grande quantidade, aperfeiçoaram o controle do sistema carcerário e não resolveram problemas graves da área.
Isto porque esquece-se do básico, não se soluciona problemas relacionados à violência e ao crime sem pensar, conjuntamente, as condições sociais que geram tais problemas. Cada crime conta uma história que, em diferentes escalas, envolve uma série de acontecimentos anteriores à ocorrência e ele não termina com o enfrentamento ou prisão, mas envolve toda maneira como as instituições de justiça se comportam para garantir a responsabilização das pessoas que causaram dano à sociedade.
Infelizmente, pensar a complexidade de problemas de segurança pública não gera voto e pesquisadores dessa área são solenemente ignorados, enquanto equipes de marketing auxiliam políticos profissionais por meio dos indicadores do que gera engajamento nas redes sociais. Propor mais violência em uma sociedade amedrontada gera voto e se optou por isso em detrimento da responsabilidade de se pensar segurança pública como projeto de Estado.