A eleição de 2024 em Fortaleza já tem um tema central, mesmo antes de começar: Segurança Pública. Embora não seja atribuição direta das prefeituras, são os municípios que sofrem diretamente com os efeitos da violência e dos gargalos existentes. Em suma, é na cidade que a população sente os efeitos práticos da criminalidade, tornando o tema num catalisador natural do debate eleitoral.
Em Fortaleza está a maior concentração populacional do Ceará. Com 2,4 milhões de habitantes (27,61% da população do Estado), a capital consequentemente está sujeita a uma maior incidência da violência, o que por fim mobiliza políticos a discutir o tema.
O POVO conversou com especialistas sobre o quanto o debate da Segurança Pública deve influenciar na campanha eleitoral e sobre como parte dos pré-candidatos já vem se apropriando da questão. Sobretudo num contexto em que casos de violência tiveram alta de registros no Estado.
Paula Vieira, pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política Eleições e Mídias (Lepem-UFC) avalia as movimentações dos postulantes à Prefeitura que o fazem a fim de gerar capital político.
"Em termos de confronto, o prefeito Sarto já puxa a pauta para si como forma de se colocar como opositor ao Governo do Estado. Ele não esclarece, discursivamente, que a segurança não é uma pauta a ser resolvida pela Prefeitura, ao mesmo tempo em que fala que vai armar a Guarda Municipal e, assim, aponta uma 'solução', dá uma resposta", explica.
Neste cenário, a pesquisadora projeta que o pré-candidato do governista, Evandro Leitão (PT), é quem mais deve sofrer com críticas, por conta da vinculação com o grupo à frente da gestão estadual. "Evandro será colocado no centro da crise porque é quem está vinculado ao partido do governador, que é o responsável", pontua.
Em contrapartida, o governador Elmano de Freitas (PT) deu recentes declarações fortes, argumentando que a esquerda precisa rever o discurso sobre segurança. Em meio à última crise na área, ele anunciou medidas como convocação de novos profissionais e melhorias de gratificações.
Com a eleição batendo às portas, uma leitura possível é de que essas ações, além de reforçarem que a segurança é prioridade, dão munição argumentativa ao pré-candidato governista para o período eleitoral que se avizinha.
Acrescenta-se ainda ao cálculo o fato de que, nos últimos anos, há uma maior dedicação de determinados grupos políticos à pauta. Mundo afora, agentes da direita se apropriaram do tema, muitas vezes utilizando o argumento do armamento, o que tem gerado crescente de candidaturas similares. Em Fortaleza, os pré-candidatos Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL) são parte da oposição, mais à direita, que deve se debruçar sobre o tema.
Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), aponta que Wagner tem sido cobrado nos últimos pleitos a "ampliar o discurso", mas que o contexto no qual se insere a eleição de 2024 pode fazer com que o pré-candidato recobre um discurso mais próximo da segurança.
"Quando Wagner disputou o governo em 2022, ele se sentiu mais à vontade para discutir segurança, porque é atribuição do Estado. Mas saindo da disputa, ele vai para a Secretaria da Saúde de Maracanaú para diversificar e forjar uma imagem de gestor experiente. Agora, em 2024, o cenário, favorece a colocação do discurso da segurança. Primeiro, pela onda de violência que toma conta do Estado e, segundo, porque o atual prefeito dá razão a essa ideia quando fala em armar a guarda".
Nesse contexto, Emanuel projeta que Wagner pode sentir-se "mais à vontade" para abordar o tema. "O gestor da cidade não pode ficar aquém do discurso. Com isso, ele pode apontar os erros do Governo do Estado, como alguém que tem ligação com a tropa, ao passo em que também aponta erros da Prefeitura".
Sobre Fernandes, o especialista reforça que o bolsonarista deve "nadar de braçada" na abordagem da pauta, mas reforça que há desafios que se colocam ao pré-candidato. "O grande desafio será mostrar como o bolsonarismo produziu segurança, ou não, no governo federal".