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Atentado contra Donald Trump deve mudar campanha nos Estados Unidos
Reportagem

Atentado contra Donald Trump deve mudar campanha nos Estados Unidos

Para especialistas ouvidos pelo O POVO, o ex-presidente ganha vantagem por oferecer uma narrativa de candidato forte em contraponto a Biden, pressionado por gafes
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Duas mortes são confirmadas após tiros em comício de Trump (Foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)
Foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP Duas mortes são confirmadas após tiros em comício de Trump

Apesar do atentado sofrido em evento no sábado, 13, o ex-presidente Donald Trump mantém os planos de participar da Convenção Republicana em Milwaukee, no estado de Wisconsin, que deve começar nesta segunda-feira, 15. O chefe da Casa Branca, Joe Biden, instruiu o chefe do Serviço Secreto dos EUA a rever as medidas de segurança para o evento para dar continuidade ao processo eleitoral após o ataque que deixou o republicano ferido e duas pessoas mortas, um apoiador do ex-presidente e o atirador.

A disputa, no entanto, já foi profundamente alterada com o atentado e deve repercutir na campanha de ambos. Especialistas ouvidos pelo O POVO destacam que a imagem de Trump sai fortalecida, especialmente com as fotos logo após os tiros, em que o ex-presidente, ainda ensanguentado, levanta o punho para cima. No domingo, 14, apoiadores de Trump já produziam camisetas, canecas e outros materiais de campanha com a foto estampada.

É um contraponto com a principal dificuldade que Biden apresentava e era pressionado, até por nomes de seu partido: fragilidade. O desempenho vinha baixo com a postura no confronto com Trump no debate, além de gafes. A dicotomia pode até atrair um eleitorado que nem sairia de casa, em um país com voto facultativo, como reflete Vladimir Pinto Coelho Feijó, analista internacional e doutor em Direito Internacional.

"Talvez agora vão fazer questão de sair de casa e votar para apoiar ele, não só como candidato, mas, talvez, o que ele represente, dentre outras, essa ideia de uma pessoa que está firme e forte na luta dos seus interesses, em contraponto à imagem do Joe, de pessoa decadente que anda rateando com sinais de fraqueza", destacou o também professor da Faculdade Arnaldo Jansen.

O resultado seria uma "folga" maior nos votos para Trump, em uma disputa que, assim como em 2020, dá sinais que pode ser apertada em muitos estados. O atentado, para o pesquisador, pode influenciar na postura do republicano, com a opção de vender a si mesmo com um tom mais "controlado".

"Ele pode inclusive maneirar, seconseguir controlar as emoções dele, esse discurso muito agitado e exacerbado, de uma pessoa sem muito temperamento. Talvez agora ele possa se projetar como uma pessoa temente a Deus, tradicional, uma pessoa preocupada com o futuro do país", avalia o professor.

A "superexposição" que Trump deve receber nos próximos dias aliada à "simpatia" gerada pela onda de apoios, de diversos espectros políticos, incluindo adversários, deve ajudar a "limpar" a imagem do ex-presidente e facilitar sua campanha. "Todo mundo vai ter uma visão simpática, enquanto no passado ele (Trump), estava com uma imagem negativa associada à invasão do Capitólio, associado a condenações criminais, escândalos sexuais", destaca o analista.

A primeira impressão da campanha de Trump também é um destaque para o mestre em relações internacionais, Uriã Fancelli. Foi uma publicação de solidariedades às vítimas e uma atualização do estado de saúde do ex-presidente. Defesas mais "ferrenhas" e até acusações foram deixadas para aliados de Trump, como o senador J.D. Vance, cotado a vice.

Mas a projeção é que o marketing do republicano aglutine a história na campanha. "O Trump vai acabar usando isso, talvez não nesse primeiro momento, mas ele vai usar. Já deu para ver, nos primeiros segundos após o ataque quando ele se levanta e faz aquele gesto, mostrando resistência, mostrando força. Dificulta a vida do Biden porque ele tem essa imagem de uma pessoa frágil, de uma pessoa de certa idade que não consegue dar conta do recado", avalia.

E a campanha de Biden vai ter que mudar a estratégia, na postura e nos temas que vai abordar. "Ele vai compensar isso condenando a violência, reforçando aquele compromisso que ele tem com a democracia e o estado de direito, se apresentando como uma pessoa responsável, que defende a estabilidade política, sinalizando quais os problemas e os perigos dessa polarização extrema que causam esse tipo de atentado também", apontou ainda Fancelli.

Repercussão Global

Líderes mundiais reagiram com choque ao ferimento de Donald Trump em uma tentativa de assassinato contra o ex-presidente dos Estados Unidos em um comício eleitoral. Presidentes e primeiros-ministros se pronunciaram contra a violência política e expressaram seu apoio às pessoas afetadas pelo tiroteio do sábado.]

Europa

O primeiro-Ministro britânico, Keir Starmer, disse que estava "horrorizado com as cenas chocantes" no comício." A violência política de qualquer forma não tem lugar em nossas sociedades", disse o premiê.
Referindo-se a "essas horas sombrias", o líder nacionalista da Hungria, Victor Orban, ofereceu seus "pensamentos e orações" a Trump.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, disse que estava "acompanhando com apreensão" as atualizações da Pensilvânia e desejou a Trump uma rápida recuperação.

Américas

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o atentado "deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política". O que vimos hoje é inaceitável".
O presidente da Argentina, Javier Milei, culpou a "esquerda internacional". "Com medo de perder nas urnas, recorrem ao terrorismo para impor agenda retrógrada e autoritária", disse.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, expressou sua "condenação incondicional" ao atentado.
Na Bolívia, o presidente Luis Arce disse que "apesar de nossas profundas diferenças ideológicas e políticas, a violência, venha de onde vier, deve ser sempre rejeitada por todos."

Ásia-Pacífico

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, afirmou estar "profundamente preocupado" pelo atentado contra Trump."Eu condeno veementemente o incidente. A violência não tem lugar em democracias", acrescentou.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, se manifestou contra ataques políticos, dizendo que "devemos nos manter firmes contra qualquer forma de violência que desafie a democracia.
Anthony Albanese, da Austrália, descreveu o tiroteio como "preocupante e perturbador", expressando seu alívio pelo fato de Trump estar seguro.

Oriente Médio

O Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que ele e sua esposa Sara "ficaram chocados"."Rezamos pela sua segurança e rápida recuperação", disse Netanyahu.

Uma história de violência e atentados

Tiros foram disparados durante um discurso de comício de Donald Trump, em um incidente que os investigadores estão tratando como tentativa de assassinato do ex-presidente. Incluindo Abraham Lincoln e JFK, aqui estão alguns exemplos notáveis de tiroteios envolvendo presidentes ou candidatos à presidência dos EUA:

Ronald Reagan (1981)

O presidente Reagan foi baleado e gravemente ferido ao sair de um evento no hotel Hilton em Washington. O agressor foi John Hinckley Jr., que recebeu libertação incondicional em 2022. Reagan passou doze dias no hospital. O incidente aumentou a popularidade de Reagan, pois ele demonstrou humor e resiliência durante sua recuperação.

Gerald Ford (1975)

O presidente Ford saiu ileso de duas tentativas de assassinato separadas por mulheres em setembro de 1975, ambas na Califórnia e em um intervalo de apenas 17 dias.

George Wallace (1972)

Enquanto fazia campanha pela indicação presidencial democrata, Wallace foi baleado quatro vezes e paralisado para o resto da vida em um shopping em Laurel, Maryland. A tentativa de assassinato de Wallace, que era conhecido por suas opiniões segregacionistas e apelo populista, destacou as tensões políticas contínuas nos EUA e o potencial para violência doméstica na era da Guerra do Vietnã.

Robert F. Kennedy (1968)

O irmão do presidente John F. Kennedy, Robert, que estava concorrendo à indicação presidencial democrata, foi baleado e morto no hotel Ambassador em Los Angeles, Califórnia. O assassinato teve um impacto profundo na corrida presidencial de 1968 e ocorreu apenas dois meses após o assassinato do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr., adicionando à turbulência política do final dos anos 1960.

John F. Kennedy (1963)

Andando em sua carreata com sua esposa Jackie, o presidente Kennedy foi assassinado em Dallas, Texas, por Lee Harvey Oswald. A Comissão Warren, que investigou o assassinato, concluiu em 1964 que Lee Harvey Oswald, um ex-fuzileiro naval que havia vivido na União Soviética, agiu sozinho. Muitos americanos acreditam que a morte de JFK iniciou um período mais violento na política e na sociedade americana, com a escalada da Guerra do Vietnã e a luta pelos direitos civis como pano de fundo.

Franklin D. Roosevelt (1933)

Como presidente eleito, FDR foi alvo de uma tentativa de assassinato em Miami, Flórida. Ele saiu ileso, mas o prefeito de Chicago, Anton Cermak, foi morto no ataque.

Theodore Roosevelt (1912)

Assim como Trump, Teddy Roosevelt estava concorrendo à Casa Branca como ex-presidente quando foi baleado em Milwaukee, Wisconsin. A bala, que permaneceu alojada em seu peito pelo resto de sua vida, foi desacelerada pelas 50 páginas dobradas de seu discurso e o estojo de óculos de aço em seu bolso do peito. Famosamente, Roosevelt decidiu continuar seu discurso apesar de ter sido baleado.

William McKinley (1901)

O presidente McKinley foi baleado e morto pelo anarquista Leon Czolgosz em Buffalo, Nova York.7

Abraham Lincoln (1865)

Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth, um ator conhecido e simpatizante confederado, enquanto assistia a uma peça chamada "Our American Cousin" no Ford's Theater em Washington. O ataque de Booth, apenas dias após a rendição confederada na Guerra Civil, fazia parte de um plano maior que incluía tentativas de assassinar o vice-presidente Andrew Johnson e o secretário de Estado William.

 

 

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