Mais do que uma luta por saúde e dignidade humana — os Anacé do Cauipe também demandam saneamento básico, água encanada nas casas e ampliação dos serviços públicos na região —, a comunidade denuncia o prejuízo do complexo à cultura indígena.
O rio Cauipe é o fornecedor de água para o Complexo Industrial do Portuário do Pecém. Nas usinas termelétricas, a energia é produzida pela queima do carvão mineral (já moído) em uma fornalha para aquecer água, gerando vapor, que por sua vez movimenta as pás de uma turbina, ligada a um gerador de eletricidade. Após voltar ao estado líquido, essa água vai para as torres resfriadoras das caldeiras.
São 800 litros de água diários retirados do Cauipe para o funcionamento das termelétricas. "O rio é sagrado. O rio Cauipe é onde caminha o Grande Espírito", diz Marcelo. "Então tem uma espiritualidade. Assim como tem o nosso cemitério, que é de 1630, e que quiseram derrubar. A gente fez uma zoada na época e tá lá, não tiraram o nosso cemitério. A gente tem que pelo menos conseguir segurar o que ainda restou."
O impacto socioambiental da alta demanda hídrica das termelétricas é agravada no semiárido, já que faz com que a população acabe "competindo" água com os empreendimentos.
A transição energética é a solução não apenas para a crise climática, como também para diversos pontos de tensão sociais envolvendo acesso a direitos básicos e à saúde. Isso se a implementação dos empreendimentos for responsável; caso contrário, as usinas renováveis podem provocar tantos conflitos quanto aquelas à base de combustíveis fósseis.