A energia solar pode ser produzida de duas maneiras: a forma descentralizada, com pequenas usinas destinadas ao abastecimento de casas específicas, e a centralizada, com grandes usinas solares, também chamadas de fazendas solares.
Foi somente a partir de 2015 que a expansão solar realmente alcançou o Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a energia começou a ser democratizada no País após dez anos de atraso no desenvolvimento da matriz; atualmente é a maior em número de empreendimentos, mas a quinta em produção de energia, à frente apenas da potência das duas usinas nucleares de Angra (RJ). O Brasil já superou 40 gigawatts de capacidade de energia solar instalada da fonte.
"As usinas solares são parte da solução (da crise climática)", explica o biólogo Paulo Marinho, doutor em Ecologia e professor de Biologia na rede estadual do Ceará, "mas elas também têm sido parte do problema, por causa do desmatamento."
"Elas preveem a implantação de placas solares em grandes áreas, são centenas ou milhares de hectares", comenta. E é justamente por causa do desmatamento (também chamado de mudança do uso da terra) que o Brasil figura entre os maiores emissores históricos de gás carbônico no mundo.
Ao desmatar a área vegetal, o carbono estocado é emitido na atmosfera e perdemos os serviços de captura desse mesmo carbono. De acordo com relatório da plataforma MapBiomas, as energias renováveis solar e eólica são o terceiro maior vetor de desmatamento no bioma Caatinga entre 2020 e 2023. No ano de 2023, elas foram o principal vetor de supressão vegetal do bioma.
"Um dos principais impactos desse desmatamento é a perda e a fragmentação de habitat", prossegue Paulo. "Eu impeço o livre trânsito de espécies e as isolo também." Como a expansão das usinas solares ainda é recente, existem poucos relatos de casos do tipo relacionados às grandes fazendas solares, especialmente na América do Sul.
É o que reforça estudo publicado em junho na revista científica Conservation Letters. O estudo analisou mais de dois mil artigos da literatura cientifica, dos quais 180 tratavam de impactos das usinas fotovoltaicas sobre a biodiversidade ou medidas mitigadoras desses impactos. "O estudo reforça o pouco conhecimento que ainda temos sobre os impactos das usinas fotovoltaicas sobre a biodiversidade, e que esse conhecimento é ainda mais escasso no nosso continente, já que a maior parte dos estudos são focados nos Estados Unidos da América."
A pesquisa identificou relatos de impactos em plantas, insetos, aves, microrganismos, répteis, mamíferos terrestres e morcegos; além de as usinas fotovoltaicas afetarem algumas características climáticas do entorno, como umidade e temperatura, e os serviços ecossistêmicos. Outro efeito curioso das fazendas solares é o "efeito lago", no qual "aves e insetos aquáticos confundem painéis solares com corpos d'água, colidindo com a infraestrutura quando tentam pousar".
"Isso também pode resultar em mortalidade direta ou provocar ferimentos e aprisionamento. Esse efeito também pode ser observado em morcegos, já que os painéis também podem confundir a ecolocalização destes mamíferos voadores", comenta o biólogo.