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Busca-se quem queira trabalhar sistemas antigos
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Busca-se quem queira trabalhar sistemas antigos

|LEGADOS| Mercado de trabalho lida com falta de profissionais qualificados para quem sabe operar linguagens tecnológicas antigas
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Problemas do mercado de trabalho em relação aos sistemas antigos de tecnologia. (Foto: Fábio Lima)
Foto: Fábio Lima Problemas do mercado de trabalho em relação aos sistemas antigos de tecnologia.

Em cenário no qual a tecnologia avança rapidamente, diversas empresas ainda continuam com sistemas legados, software antigo que permanece em operação em uma organização por muitos anos, para suas atividades diárias.

Entretanto, apesar de oferecerem estabilidade e capacidade de processar grandes volumes de dados, o mercado apresenta dificuldades para encontrar profissionais que consigam operar as linguagens de operação usadas nesses sistemas, que ainda estão significantemente em uso.

Para se ter ideia, nove em cada dez organizações ainda dependem do Common Business Oriented Language (Cobol), linguagem de programação com mais de seis décadas, de acordo com uma pesquisa global da Micro Focus. O levantamento foi realizado com mais de mil profissionais de 49 países.

O sistema tem grande foco em instituições financeiras, como Caixa, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú.

Por outro lado, a escassez de profissionais na área resulta em altos salários para aqueles que possuem conhecimento na linguagem utilizada e trabalham para fora do País, no caso da conversão do dólar ou euro para o real.

De acordo com o Glassdoor, site de vagas e recrutamento, os analistas programadores da linguagem Cobol no Brasil ganham entre R$ 3.796 e R$ 6.500, com uma média salarial de R$ 4.700.

Já para programadores que trabalham remotamente para o Exterior, a remuneração fica entre US$ 13.776 e US$ 19.286 por mês, equivalente a R$ 65.000 a R$ 99.000.

Também, muitas agências governamentais operam sistemas legados para serviços públicos essenciais, com registros civis, segurança pública e administração fiscal, frequentemente baseados em linguagem como o Delphi, lançada em 1995.

Em território brasileiro, programadores Delphi, muito utilizado no comércio, ganham entre R$ 8 mil e R$ 9 mil, enquanto nos Estados Unidos, trabalhando remotamente, podem ganhar cerca de US$ 6 mil mensais, em torno de R$ 36 mil.

Sistemas legados também estão no setor de saúde, usados para gerenciar informações de pacientes, agendamentos, além de dados médicos, desenvolvidos em linguagens mais antigas, mas que continuam funcionais.

Um exemplo é o Sistema Único de Saúde (SUS), que utiliza componentes da linguagem Mumps, criado em 1966.

Os sistemas legados, principalmente os que utilizam linguagens de programação consideradas arcaicas, continuam a oferecer vantagens em termos de confiabilidade, escalabilidade e segurança, elenca Pitágoras Martins, professor e coordenador de tecnologia da informação do Instituto Brasileiro de Educação Continuada (Inbec).

Em relação à escassez de trabalhadores qualificados para a área, o professor pontua que, além de limitar a capacidade das empresas de manter suas operações suaves e seguras, outro problema é a possibilidade de evoluir e se adaptar a outro ambiente tecnológico.

Pitágoras exemplifica que a ausência de especialistas na linguagem Cobol pode gerar dificuldades na manutenção regular e na atualização de sistemas essenciais.

"A falta de profissionais qualificados para sistemas legados complica essa integração, limitando a capacidade das empresas de modernizar sua infraestrutura tecnológica".

Acerca das vantagens em manter em sistemas dentro das instituições, o coordenador de tecnologia do Inbec elenca alguns pontos.

Segundo ele, os sistemas legados têm um histórico comprovado de operação estável, além de estarem integrados aos processos de negócios de uma empresa.

Outra questão citada por Martins é que, em alguns casos, as programações antigas podem suportar funcionalidades únicas que ainda não foram efetivamente replicadas por novas tecnologias.

Em um cenário de migração de grandes volumes de dados históricos para novos sistemas, há a possibilidade de riscos significativos, incluindo a perda de dados ou problemas de compatibilidade de dados.

Outra questão são os custos significativos de novos softwares e hardware, além de treinamento pessoal, pontua Pitágoras.

Tecnologia na gestão de empresas | O POVO Tecnologia

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Principais instituições que continuam com sistemas legados

1. Sistemas bancários e financeiros: muitas instituições financeiras continuam a depender de sistemas legados escritos em Cobol ou Natural/Adabas para processar transações, folha de pagamento, contabilidade e gerenciamento de estoque. Esses sistemas são valorizados por sua capacidade de lidar com grandes volumes de dados e realizar cálculos complexos com alta confiabilidade.

2. Sistemas de Gestão Empresarial (ERP): plataformas como a Totvs, empresa de tecnologia, utilizam linguagens como AdvPL e Delphi, que suportam processos empresariais críticos. Estes sistemas são essenciais para operações diárias e integração de várias funções empresariais.

3. Sistemas de Saúde: no setor de saúde, sistemas legados são usados para gerenciar informações de pacientes, agendamento, e dados médicos, muitas vezes desenvolvidos em linguagens mais antigas que continuam funcionais apesar de suas interfaces e arquiteturas serem consideradas desatualizadas.

4. Sistemas governamentais: muitas agências governamentais operam sistemas legados para serviços públicos essenciais, como registros civis, segurança pública e administração fiscal, frequentemente baseados em linguagens como Cobol e Delphi.

Fonte: Pitágoras Martins, professor e coordenador de tecnologia da informação da faculdade Inbec

Linguagens utilizadas nos sistemas legados

1. Cobol: linguagem de programação desenvolvida na década de 1950, projetada primeiramente para negócios, finanças e sistemas administrativos para empresas e governos. É conhecida por sua robustez, capacidade de manipular vastas quantidades de dados e por ser altamente portável entre diferentes plataformas de computador.

2. Delphi: linguagem de programação e um ambiente de desenvolvimento integrado (IDE) usado principalmente para desenvolver aplicações desktop, web e móveis. O Delphi é baseado na linguagem de programação Object Pascal e foi desenvolvido originalmente pela Borland na década de 1990. Desde então, tem sido mantido e atualizado pela Embarcadero Technologies, que adquiriu o produto em 2008.

3. Fortran: abreviação de "Formula Translation", é uma das linguagens de programação mais antigas que ainda estão em uso. Foi desenvolvida pela primeira vez nos anos 1950 pela IBM para uso em aplicações científicas e de engenharia. Fortran é conhecida por sua capacidade de realizar cálculos numéricos e manipulação de matrizes de forma eficiente, o que a torna uma escolha popular em campos como a meteorologia, simulações físicas, computação científica, e engenharia.

4. AdvPL: linguagem de programação proprietária desenvolvida pela TOTVS, uma empresa brasileira líder em sistemas de gestao empresarial (ERP). AdvPL é utilizada principalmente para o desenvolvimento e customização do software de ERP Protheus, que é amplamente adotado por empresas em toda a América Latina.

5. Natural/Adabas: é uma linguagem de programação de alto nível criada pela Software AG, projetada principalmente para banco de dados Adabas, também da Software AG. Natural é uma linguagem que facilita o acesso e manipulação de dados em Adabas, e é especialmente forte em ambientes de grandes volumes de transações.

Fonte: Pitágoras Martins, professor e coordenador de tecnologia da informação da faculdade Inbec

Novas tecnologias

1. Inteligência artificial: é uma área de informática que se dedica a criar sistemas capazes de realizar tarefas que, quando executadas por seres humanos, são associadas à inteligência. São sistemas capazes de aprender, raciocinar, perceber o ambiente, tomar decisões e resolver problemas de forma autônoma, sem intervenção direta de humanos.

2. Machine Learning: Machine Learning, ou aprendizado de máquina em português, é um subcampo da inteligência artificial que se concentra no desenvolvimento de algoritmos e modelos computacionais que permitem aos sistemas aprenderem e melhorarem a partir de dados, sem serem explicitamente programados para isso. Os algoritmos são projetados para analisar dados, identificar padrões e fazer previsões ou tomar decisões nesses padrões identificados.

No contexto empresarial, o Machine Learning é amplamente utilizado em áreas como análise de dados, reconhecimento de padrões, previsão de tendências, otimização de processos, personalização de serviços, entre outras aplicações que se beneficiam da capacidade dos sistemas de aprender e se adaptar a partir dos dados disponíveis.

3. Blockchain: é uma tecnologia de registro atribuída que visa criar um banco de dados compartilhado e seguro, no qual as transações e registros são armazenados em blocos encadeados de forma cronológica e imutável. Uma das características mais importantes do blockchain é a segurança e a integridade dos dados, uma vez que a rede descentralizada de computadores é válida e registra cada transação de forma consensual, tornando extremamente difícil a alteração ou falsificação dos registros.

4. Internet das coisas: a ideia por trás da IoT é criar um ambiente onde objetos e dispositivos possam se comunicar e interagir de forma inteligente e automatizada, sem a necessidade de intervenção humana direta. Na prática, a IoT possibilita que objetos comuns, como eletrodomésticos, veículos, dispositivos de monitoramento de saúde, sensores de ambiente, entre outros, se

5. Cibersegurança: conjunto de práticas, tecnologias e medidas adotadas para proteger sistemas, redes, dispositivos e dados contra ataques cibernéticos, ameaças e vulnerabilidades. O objetivo da segurança cibernética é garantir a confidencialidade, integridade e disponibilidade das informações e recursos digitais, evitando o acesso não autorizado, a modificação indevida ou a interrupção dos serviços.

6. Computação em nuvem: trata-se do oferecimento de mecanismos relacionados à tecnologia da informação disponibilizados de forma online, ou seja, é a oferta de produtos voltados para programação e TI de maneira totalmente digital, por um custo menor e com mais agilidade. As plataformas que viabilizam e oferecem hoje, toda segurança e infraestrutura para armazenamento de dados nas nuvens, são os Data Centers.

Fonte: Delano Gadelha, presidente da Assespro Ceará

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