Caro novo prefeito, de antemão, uma máxima precisa ser incorporada, de vez, pela gestão municipal: cultura não é só festa. Claro que um grande evento como o Réveillon é fundamental para o turismo da Cidade - e também um presente importante para o fortalezense. Uma celebração única, porém, não pode ser o carro-chefe de uma capital tão culturalmente rica como a nossa.
Se não houver uma política pública continuada para quem movimenta o setor o ano inteiro, ficaremos presos a uma sazonalidade que corrói qualquer avanço nesse segmento. A cultura é motor de economia criativa, é ocupação urbana qualificada no combate à violência, é ferramenta para uma educação afirmativa e é também bem-estar, por consequência, saúde pública.
Outro ponto tem de ser reavaliado: equipamento cultural não é salão de festa para coquetéis institucionais do Município. Os espaços culturais precisam de programação estruturada e focada na formação de plateia (de crianças a idosos). Para citar apenas um monumento: o Teatro São José é tão pouco aproveitado, a Cidade precisa desse espaço vivo.
Avancemos. A arte em Fortaleza não mora só no corredor Centro-Praia de Iracema, a Rede Cuca tem um trabalho fundamental que vem minguando em potencial de alcance com a estrutura mais enxuta vigente. Não dá para recuar com esse trabalho construído a tantas mãos nas periferias. Em entornos dominados por facções, os Cucas são faróis de possibilidades de outros futuros para os jovens fortalezenses.
Quanto ao orçamento para a cultura, ele precisa ser garantido e, mais do que isso, executado. A gestão que se encerra falhou na condução da destinação dessa verba tão imprescindível para que os editais e dispositivos de distribuição de recurso tenham real impacto social para a Cidade. O montante tem de ser executado para se converter em ação cidadã.
Somente por meio do amadurecimento do debate, extrapolando qualquer leitura pouco eficaz de que os artistas drenam dinheiro público, é que a Cidade, capital de um Estado pioneiro nas políticas públicas culturais, vai avançar na missão (muito possível) de ser um polo protagonista da cultura em âmbito nacional.