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Protocolos de atendimento rápido diminuem sequelas de AVC
Reportagem

Protocolos de atendimento rápido diminuem sequelas de AVC

Hospitais do Ceará
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Tipo Notícia

A partir do momento em que o telefone do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) toca avisando que há um paciente com AVC chegando de algum município da região, todo o setor fica em alerta.

A "janela" entre o início dos sintomas e a aplicação do trombolítico - um remédio que ajuda a "dissolver" o trombo ou coágulo sanguíneo - precisa ser menor do que quatro horas e meia. É com uma intervenção dentro desse período que o paciente tem a maior chance de recuperação completa após o AVC.

"A cada minuto em que a irrigação da sanguínea do cérebro é prejudicada, a pessoa pode perder quase 2 milhões de neurônios. Então, quanto mais rápido se consegue restabelecer o fluxo sanguíneo no cérebro, melhor vai ser o resultado", explica Thais Melo, diretora médica da Boehringer Ingelheim, farmacêutica responsável pelo medicamento.

Da chegada do paciente até o momento em que recebe a medicação para diminuir os efeitos do AVC são em média 20 minutos. A média mundial recomendada é de menos de 60 minutos. Cada segundo conta para evitar uma vida com sequelas motoras e cognitivas. Esse tempo, chamado de porta-agulha, é um dos indicadores que faz o HRSC se destacar.

Localizado em Quixeramobim, a 212,24 km de Fortaleza, o HRSC atende cerca de 630 mil habitantes dos municípios da região, mas também recebe pacientes de cidades ainda mais distantes da Capital.

Para o neurologista Vitor Abreu, a proximidade e o fácil acesso para os moradores do Interior são as maiores vantagens da unidade de AVC do hospital, inaugurada em 2018.

"Antes, a maioria dos pacientes tinha que ir para o Cariri ou para Fortaleza. Com isso, a maioria já chegava fora da janela, abarrotando principalmente o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que é o único hospital [da Capital] que recebe pacientes neurológicos desse jeito", conta.

Em um estudo feito pela equipe do HRSC, foram analisadas as mortes por AVC da macrorregião do Sertão Central de 2013 a 2023. No primeiro ano após a abertura do serviço no hospital, o número de mortes caiu de 262 para 216, representando uma queda de 17%. Na década analisada, a diminuição foi de 37%, com 2013 apresentando 293 mortes e 2023 com 183.

O treinamento para identificar o AVC e acionar o alerta para atendimento rápido vai desde o porteiro até o médico neurologista. Fabrício Lima, neurologista chefe da unidade de AVC do HGF, explica que o protocolo é adotado internacionalmente.

"Quando o vaso entope, nosso cérebro não morre imediatamente. Tem uma rede de circulação que ainda mantém durante alguns poucos minutos, até poucas horas, a atividade. Então, quanto mais cedo você tratar, menor é a sequela do AVC", diz.

Outro procedimento que depende da procura rápida por uma unidade especializada é a trombectomia mecânica. No Ceará, o HGF é o único a realizá-lo. Por meio de um cateter na virilha, é possível localizar e desobstruir o vaso cerebral afetado.

"É semelhante ao cateterismo do coração, mas é feito no cérebro. Através desses tratamentos você consegue desentupir o vaso e preservar o cérebro", explica Fabrício.

O HGF também é o único hospital do País a contar com um núcleo dedicado exclusivamente a casos hemorrágicos, com 15 leitos exclusivos para pacientes em tratamento intensivo. Neste ano, a Unidade de AVC do equipamento completa 15 anos.

Além dessas duas unidades especializadas, que funcionam 24 horas, o Ceará conta ainda com serviço de atendimento de AVC no Hospital Regional Norte, em Sobral, e no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte.

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