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Erros na autodeclaração podem atrapalhar políticas públicas
Reportagem

Erros na autodeclaração podem atrapalhar políticas públicas

Cotas raciais
Edição Impressa
Tipo Notícia
GEÍSA Mattos, professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal GEÍSA Mattos, professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Esses desvios na autodeclaração de pessoas não-pardas como pardas, especialmente as brancas, pode resultar em inúmeras problemáticas sociais, dada a importância dos dados coletados no Censo Demográfico.

A professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Geísa Mattos, destaca os possíveis prejuízos a órgãos governamentais que se baseiam nesses dados para elaborar políticas públicas voltadas à população preta.

Neste caso, uma pessoa que diz ser negra por sua linhagem familiar, mas nunca sofreu racismo devido à cor de pele branca, pode figurar como uma pessoa negra que nunca foi vítima de violência racial, gerando uma interpretação irreal da sociedade.

"Por exemplo, quando você vai olhar os dados, pode parecer que pessoas negras moram na Aldeota, no Meireles. A gente até sabe que existem quadro de negros na Aldeota, como por exemplo ali a comunidade das quadras. É um enclave onde existe uma população negra dentro de um bairro de brancos. Mas a maior parte da Aldeota, do Meireles, dos bairros de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Fortaleza, é constituída por brancos", pontua a também coordenadora do do Núcleo de Estudo em Raça e Interseccionalidade da UFC (Neri-UFC).

Outro ponto apontado por Geísa como um problema gerado por esse erro na autodeclaração é o uso do sistema cotas para ingresso em universidades e concursos públicos.

A partir do momento em que uma pessoa branca e economicamente favorecida, que teve acesso a um nível de ensino mais elevado em comparação a uma pessoa fenotipicamente parda, se vale do sistema de cotas alegando ser negra, ela está inviabilizando a política nacional, que visa equiparar o acesso a esses espaços.

"Uma pessoa branca, de classe média, vai pro IBGE e se diz parda, ela vai entrar no somatório de negros. Isso vai correr no seguinte problema: uma pessoa que se diz parda, teoricamente poderia entrar em uma seleção para um concurso público, ingressando pela política de cotas raciais. Isso seria uma grave injustiça", conclui Mattos.

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