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Cariri tem mais de 17 mil pessoas sem banheiro ou sanitário em casa
Reportagem

Cariri tem mais de 17 mil pessoas sem banheiro ou sanitário em casa

|esgotamento sanitário|Dados do Censo 2022 expõem a realidade de milhares de pessoas que vivem sob condições sub-humanas. Em cinco cidades do Cariri, o número de moradores sem sanitário em suas residências é superior a mil
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Mais de 17 mil moradores do Cariri vivem sem banheiro ou sanitário, segundo IBGE (Foto: fotos Guilherme Carvalho / O POVO CBN Cariri)
Foto: fotos Guilherme Carvalho / O POVO CBN Cariri Mais de 17 mil moradores do Cariri vivem sem banheiro ou sanitário, segundo IBGE

Imagine viver em uma casa onde não existe banheiro. Para tomar banho, realizar atividades fisiológicas ou escovar os dentes, é necessário ir para a parte externa da residência, expondo-se ao ar livre. O que para a maioria das pessoas parece ser algo inimaginável, para 17.035 pessoas que vivem sem acesso a banheiro ou sanitário em seus domicílios nos 29 municípios que compõem a região do Cariri, no interior do Ceará, é realidade.

O levantamento foi feito pelo O POVO por meio de dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em cinco cidades da região, o número de moradores que vivem sob essas condições é superior a mil.

Ao todo, 4.454 domicílios no Cariri apresentam falta de estruturas sanitárias adequadas. A cidade de Salitre apresenta o quadro mais grave da região do Cariri. De acordo com o IBGE, 3.029 pessoas não têm acesso a banheiro em suas residências. Proporcionalmente, a cidade apresenta o pior resultado entre os 184 municípios do Ceará. Das 5.367 residências, 983 não têm acesso ao cômodo ou ao aparelho, o que corresponde a 18,32% do total.

O índice negativo é seguido pela cidade de Jardim. Dos 27.411 moradores contabilizados no último censo demográfico, 1.934 vivem sem ter estruturas de banheiro em suas casas, o que representa 7,05% da população. Em seguida, Araripe com 1.871 pessoas sem sanitários. Do total de 19.783 moradores contabilizados no Censo 2022, 9,45% vivem nessa realidade.

Santana do Cariri aparece na 5º colocação dos municípios com pior acesso de moradores à sanitários em seus domicílios. Segundo o IBGE, são 1.215 moradores que não contam com banheiros nas casas, enquanto o número de residências sem a devida estrutura é de 400.

Uma das pessoas contabilizadas pelo Censo 2022 que vivem sem banheiro na região do Cariri é a agricultora Ediana Santana, 37, moradora do Sítio Serra do Catolé, na zona rural de Santana do Cariri. Ela vive com o esposo, o também agricultor José Santana, 50, e seus seis filhos, incluindo duas crianças de três e seis anos de idade. O dia a dia torna-se difícil pela ausência de infraestrutura na residência para realização de atividades fisiológicas.

Questionada sobre a falta de banheiro, Ediana explica que sua família realiza as necessidades em um buraco no mato: "É em céu aberto, nos matos, aqui é sítio. Tem uma basezinha lá fora que nós toma banho".

Ela afirma que gostaria de construir um banheiro em casa, mas devido à falta de condições financeiras, o desejo ainda não saiu do papel. "A dificuldade é grande porque são muitos filhos. A gente quer fazer, mas aí fica difícil", conclui.

O diretor-presidente do Instituto Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), Marcondes Ribeiro Lima, afirma que o problema também está ligado à dificuldade de implantar serviços de abastecimento de água para a população residente na zona rural.

"Quando a gente fala em banheiro na zona urbana, a gente pensa em um local que temos um sanitário, uma pia, um piso adequado. Na zona rural, onde é considerado que tem banheiro, muitas vezes é um banheiro muito precário", diz.

"Esse número de 17 mil (pessoas sem banheiro no Cariri) pode ser muito maior. Na zona rural, temos pouca adesão ao esgoto. Essa realidade não deveria existir em 2024. Pessoas fazendo suas necessidades ao ar livre também estão contaminando o solo, mas essa não é a maior preocupação. É a questão da dignidade do ser humano", defende.

No Ceará, 93.979 pessoas ainda vivem em um local sem estrutura sanitária de banheiro. O número representa 1,1% da população total do Ceará. O pior cenário no Ceará é observado no município de Granja, na região Norte. A cidade tem o maior número absoluto de moradores e domicílios sem banheiro. Ao todo, 6.934 pessoas vivem em 2.198 residências sem acesso a sanitário, conforme o Censo 2022.

Na capital Fortaleza, 464 aparecem sem acesso a banheiros, enquanto o número de domicílios sem essas estruturas marca 265.

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