O limiar dos 25 anos é também um meridiano do antes e do depois, sobretudo quando o quarto de século que passou contém o 11/9 como episódio deflagrador e uma pandemia que matou milhões como ponto de chegada.
Mais de duas décadas depois da queda das torres, o ar se contaminava com um patógeno facilmente replicável, tal como os "memes" compartilhados nas redes, combinando mentira e verdade, do qual se aproveitaram os necropolíticos em rápida ascensão.
Nesse hiato, a Covid se inscreveu na fisiologia e no imaginário. O muro voltou a frequentar o vocabulário político, definindo-se como paradigma do populismo.
Irrompeu então a gramática da exaustão: guerras, emergência climática, onda antidemocrática, neomessianismo e uma nova ordem global marcada pelo refluxo e pela insularidade.
Trump, Bolsonaro e de novo Trump, a despeito das sucessivas acusações que recaíam sobre ambos. Mais que perda de fôlego, a democracia foi sendo solapada em sua legitimidade desde dentro, como se vê no Brasil.
Enquanto isso, Elon Musk abriu a caixa de Pandora com suas traquitanas tecnológicas que mesmerizavam o mundo, retomando uma corrida espacial capitaneada pelo bilionário-bufão alçado a "homem forte" do novo governo.
Não longe dali, o céu desabava sobre as florestas e os povos originários. Amazônia em chamas, modos de vida em colapso, indígenas caçados na floresta como num reality sangrento, na reedição da invasão colonizadora.
Da pirotecnia dos lançamentos de foguetes aos estímulos viciantes das plataformas de captura da atenção, a consequência imediata não poderia ter sido outra: adoecimento físico e psíquico.
Daí que Oxford, nesse exercício premonitório, tenha escolhido como palavra do ano uma expressão que designa o consumo excessivo do lixo digital: "cérebro apodrecido", em tradução livre para o português. Já não é somente a Terra que perece, mas o corpo, reduzido a suporte de uma máquina de interações cujo funcionamento começa a falhar.
Na esteira dessas mudanças, o humano foi posto à prova por IAs treinadas para fazer avançar a obsolescência. A exigência de rendimento e de performatividade constantes é cada vez mais um imperativo das relações, tendo como subproduto uma epidemia de ansiedade.
Afinal, o que significa a marca dos 25 anos?
Por inércia, tendemos a considerar todo intervalo como progresso, e quase sempre é. É difícil escapar da ideia de que a linha evolutiva é o princípio que rege a passagem do calendário, mesmo quando os tempos emitem sinais preocupantes, como os de agora.
Para evitar o esgotamento, contudo, é preciso conjugar o "otimismo da vontade e o pessimismo da razão" - um como motor da ação, o outro como medida profilática.
Os ensaios aqui reunidos exercitam essa capacidade de conciliar um olhar crítico para as mazelas do início deste século com o gesto esperançoso que remete a esse futuro que já é presente, seja pela pressão da existência virtualizada, seja pela necessidade de respostas que recuperem a centralidade da agência da coletividade.