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Quem comeu ovo e manga hoje aproveita o filé
Reportagem

Quem comeu ovo e manga hoje aproveita o filé

Vinte e cindo anos mudaram completamente o cenário do futebol cearense, que conseguiu uma hegemonia regional e até mostra força nacional e internacionalmente
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Fortaleza, CE, BR 18.12.20 Jogadores do Ceará e Fortaleza   (FCO FONTENELE/O POVO) (Foto: Fco Fontenele)
Foto: Fco Fontenele Fortaleza, CE, BR 18.12.20 Jogadores do Ceará e Fortaleza (FCO FONTENELE/O POVO)

Saudosismo à parte, o futebol hoje exibido em 4k nas telas gigantes ou nos smartphones é um produto melhor do que aquele visto há 25 anos com alguma dificuldade nas TVs que, por vezes, precisavam do auxílio de uma esponja de aço na antena para captar a imagem sem oscilações.

Você pode até questionar a qualidade técnica dos atletas que hoje jogam na moderna Arena Castelão em comparação àqueles que atuavam no "PVzim de açúcar", de arquibancada sem assentos, mas o esporte — dentro e fora das quatro linhas — evoluiu mais nos últimos 25 anos do que em todo o século passado: incorporação da tecnologia, novas regras, profissionalismo absoluto, inovações táticas, maior preparo físico dos atletas, mais estudo, menos empirismo.

E o futebol cearense seguiu esta esteira. Uma metamorfose, sobretudo para Ceará e Fortaleza. Quem viveu os Clássicos-Rei da primeira década deste século não esquece das provocações nas arquibancadas em que os tricolores seguravam caixas de ovos e os alvinegros exibiam marmitas ou imagens de manga. Nas ruas ou na ainda incipiente Internet, os torcedores do Vovô eram os "come ovo" e quem torcia para o Leão recebia a alcunha de "come manga".

Não que torcidas rivais precisem de muitos argumentos para tirar sarro uma da outra, mas os apelidos tinham fatos por trás — temperados por um tanto de folclore. Também já estão no passado. Hoje, Ceará e Fortaleza estão na mesa principal do futebol brasileiro e podem desfrutar do filé, em termos financeiros e esportivos. A era do amadorismo ficou para trás e as Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs) já ganham espaço.

Se há duas décadas o Campeonato Cearense era o objetivo mais cobiçado, hoje alvinegros e tricolores podem sonhar bem mais alto: disputar a hegemonia regional, marcar presença na Primeira Divisão nacional, jogar competições internacionais nos países vizinhos. E também ampliar a estrutura física, ter profissionais gabaritados, adotar softwares e ferramentas para acompanhar jogadores do mundo todo que poderão desembarcar futuramente no Pici ou em
Porangabuçu.

Apesar dos problemas financeiros que o Ceará teve ao longo de 2023 e 2024, muito em razão do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, as notícias de salários atrasados são coisa do passado. E os vencimentos mensais de jogadores e treinadores atingem cifras antes inimagináveis para os clubes locais, vários na casa das centenas de milhares de reais.

As arrecadações também cresceram, naturalmente, superando os R$ 200 milhões por ano. São dezenas de compras e vendas milionárias de atletas feitas por Vovô e Leão, que há poucos dias vendeu um jogador por quase R$ 30 milhões. Há 25 anos, este montante bancaria uma temporada inteira do clube — quiçá, com sobras.

Trocar o ovo e a manga pelo filé demandou anos de trabalho, organização e bons resultados esportivos. Brigar com as principais potências do País e do Continente, no início do século, era um sonho distante para Ceará e Fortaleza. Os torcedores se contentavam em assistir pela TV e imaginar quando chegaria a vez do time de coração. Hoje é realidade.

 

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