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PORTUÁRIO
O Complexo do Pecém, sempre citado como o principal ponto do traçado atual da Transnordestina, também se diz atento e preparado para o início das operações da ferrovia. André Magalhães, diretor comercial da Cipp SA, que administra o Complexo, recorda que o Porto deve duplicar a movimentação anual com a ferrovia - o que implica 36 milhões de toneladas por ano. Mas o Pecém despeja atenção especial às cargas que o gerente do Observatório da Indústria e a TSLA apontaram como de maior relevância para a operação da Transnordestina: os granéis vegetais. Ou seja, os grãos produzidos na região do Matopiba. "Tem reuniões acontecendo, inclusive, nossa com clientes e outras envolvendo a Transnordestina, e assinamos acordos confidenciais de prospecção", revela. Quando o assunto é granel vegetal, uma possível integração da Transnordestina com a Ferrovia Norte-Sul é mencionada por Muchale e está no raio de atenção do Pecém nos planos de captar a produção de grãos do Centro-Oeste. O entendimento da Cipp SA, explica o diretor comercial, é de que o Porto de Santos, por onde é embarcada a maioria da soja brasileira, está perto do limite de movimentação, além de apresentar gargalos operacionais que tornam o Pecém mais atrativo. Viabilidade econômica também é observada pelo Pecém no retorno dos vagões para o Interior. A produção de fertilizantes a base de amônia verde produzida no futuro hub de hidrogênio verde do Pecém e ainda os combustíveis (gasolina, diesel e gás liquefeito de petróleo, GLP) se mostram como as principais cargas a serem enviadas ao Interior no retorno dos trens. Outro setor no radar da Cipp SA é o automotivo, pois as peças devem ser desembarcadas no Pecém. Além disso, com o parque de montagem de veículos a ser desenvolvido em Horizonte, a 43 quilômetros de Fortaleza, o transporte dos carros para outros estados do Nordeste ou mesmo o Sudeste do País teria na Transnordestina um modal viável, segundo ele.
INDÚSTRIA QUÍMICA
De olho numa integração dos modais marítimo, rodoviário e ferroviário, o Sindicato das Indústrias Químicas do Estado do Ceará (Sindquímica-CE) iniciou conversas com a TLSA, segundo adiantou ao O POVO o vice-presidente da entidade, Marcos Soares. "Nós realmente tivemos uma reunião com a gerência da diretoria da Transnordestina e mostramos para eles os polos industriais de Guaiúba e de Maranguape. Eles têm interesse, dependendo da demanda da gente, de até montar um ramal da Transnordestina para esses polos", revelou. "Mas o nosso maior interesse hoje está em Quixeramobim", diz Soares, apontando para a futura demanda da região por produtos químicos. Da mesma forma, ele aponta o Sul do Piauí e o Centro-Oeste brasileiro como possíveis novos mercados.
ELETROMETALMECÂNICO
O Polo Industrial de Maranguape, assim como o Complexo do Pecém, abriga outra indústria que diz estar atenta às movimentações da Transnordestina: o eletrometalmecânico. "Teremos um canal de exportação/importação de nossos produtos de base (aço), além de manufaturados, máquinas e equipamentos", afirma César Barros, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará (Simec). Ricardo Petral, diretor do Simec, complementa que a ferrovia "será um catalisador de desenvolvimento pro segmento metalmecânico". Ele destaca ainda a atuação da siderúrgica ArcelorMittal Pecém e aponta a baixa nos custos logísticos como estratégica para que "o aço de qualidade produzido no Pecém" seja distribuído no País. "A gente vai ter diminuição de custo logístico, acesso a novos mercados, desenvolvimento da cadeia produtiva e facilidade para escoar produto e insumos e, principalmente, o entorno todo deverá ter um 'up' rápido e seguro. Afinal, o modal ferroviário é um dos mais baratos, eficientes e seguros", avalia.
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INDÚSTRIA CALÇADISTA
Visão compartilhada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), como ressalta ao O POVO, o presidente da entidade, Haroldo Ferreira. Ele projeta um impacto da Transnordestina em patamar nacional. A explicação está no peso do Nordeste para a produção de calçados do Brasil. Mais da metade (53%) tem origem em fábricas nordestinas. São 458 milhões de pares de um total de 865 milhões. Além disso, a Região é responsável por metade das exportações do setor, enviando 60 milhões de pares para o Exterior. "A relevância da obra se dá pela diversificação dos modais de transporte, sendo uma opção viável para que produtores possam chegar com menores custos logísticos até portos importantes", destaca.
AGRONEGÓCIO
Segundo avalia Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), pode-se aliar a demanda pelos grãos do Piauí pelos agropecuaristas cearenses e o retorno de fertilizantes para a área do Matopiba. Além disso, ele acredita que a fruticultura nordestina também deve colaborar com a estruturação dos negócios da ferrovia com a produção de mangas, uvas e demais frutas do Vale do São Francisco e que já são exportadas via Porto do Pecém. Amílcar acredita que o próximo foco da Federação poderá ser fortalecido. Ele se refere à movimentação dos grãos que são utilizados pelos criadores de aves no Ceará. "Isso vai dar suporte na nossa nova empreitada que é fazer um polo de avicultura no Sertão", adiantou ao O POVO.
PREPARAÇÕES
O especialista da Fiec cita que o setor produtivo também prepara estratégias de negócios e quer impulsionar o potencial da ferrovia desde agora. Os mais atuantes são justamente aqueles apontados por Guilherme Muchale como os principais beneficiados pela Transnordestina: indústrias química, de calçados e moda, metal mecânico, mineral e agronegócio.