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Acordo de facções visa afrouxar regras em cadeias, compartilhar e ampliar negócios
Reportagem

Acordo de facções visa afrouxar regras em cadeias, compartilhar e ampliar negócios

| Regalias | Retorno de visitas íntimas nos presídios federais seria uma das pautas centrais
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O pacto que estaria emendando as siglas criminosas CV e PCC numa só, iniciando uma grande trégua pelos estados brasileiros, teria objetivos muito bem traçados. Se a guerra nas ruas entre as duas facções cessar de fato, sem grandes taxas de homicídios ou de crimes hediondos de maior monta, entre as pretensões dos dois grupos estão desde flexibilizar regras rígidas do sistema penitenciário federal a compartilhar estratégias, rotas e ações do crime e ampliar negócios.

No caso dos lucros, a regra antiga deve continuar como antes: cada um seguirá juntando os seus separadamente. CV e PCC têm expertises diferentes. Enquanto o Primeiro Comando da Capital tem o perfil mais "empresarial", de transações em maior volume e com o mercado internacional mais visado, o Comando Vermelho se concentra no controle territorial e no mercado nacional/local.

As informações e análises são de uma fonte ativa da segurança pública do Ceará, que conversou com O POVO sobre o assunto. As autoridades locais, segundo ele, ainda estão se inteirando dos fatos. É cenário recente, mesmo que o plano já venha sendo costurado desde 2019. "É conversa de antes da pandemia", disse outra, um advogado, procurado a falar e que pediu para não se estender. Também contatado, o promotor de justiça Adriano Saraiva, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), foi ainda mais breve na resposta: "Ainda estamos confirmando essa informação".

O vento dessa notícia já estaria percorrendo os xadrezes e alas de cadeias desde antes da pandemia. Agora foi soprado para o restante do País. No caso do policial ouvido pela reportagem, ele descreve que são visíveis as repercussões, a curto e médio prazos, que podem acontecer no mapa cearense do crime. O apalavrado, se durar de fato, é uma divisão estratégica, mas também dependerá de conexões com outros grupos em cada Estado. "No Ceará, o PCC é aliado da GDE. E o CV e a Massa vão continuar se matando. Tem que ver como isso ficará", descreveu, citando o cenário com as outras facções locais.

Uma motivação tida como central no acordo seria garantir a volta imediata da visita íntima nas cadeias federais. As vozes de comando dessas duas facções estão trancafiadas em prisões diferentes e teriam selado a trégua à distância. Marcinho VP (Márcio dos Santos Nepomuceno, do CV) está na penitenciária de Campo Grande (MS); Marcola (Marco Willian Herbas Camacho, do PCC) está em Brasília.

A ideia formatada é que se as taxas de homicídios forem reduzidas, na disputa territorial das facções, o argumento de bloquear as visitas será estremecido via lobbies. Aí o pacto terá feito sucesso. No caso do crime corporativo, ampliariam ainda mais as atuações em vendas de combustíveis, água, gás, bebidas, telefonia, internet, meios de hospedagem, transporte coletivo e contrabando.

As empresas de fachada de comércio e serviços de bebidas, ouro, cigarro e postos de combustíveis já estariam mais lucrativas que o tráfico de cocaína, segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgado no último dia 12. A receita movimentada ultrapassou R$ 146 bilhões em 2022, ante R$ 15 bilhões no período com a venda da droga. CV PCC deverá ser uma variável na próxima atualização dessa conta.

 

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