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Quando o frevo começa ninguém segura
Reportagem

Quando o frevo começa ninguém segura

|TRADIÇÃO|Recife se mantém na preferência de foliões do Ceará e do País inteiro por respirar a festividade carnavalesca
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A tradição de Recife é vista em alegorias e fantasias espalhadas por espaços públicos (Foto: MAURÍCIO FERRY/PCR/DIVULGAÇÃO)
Foto: MAURÍCIO FERRY/PCR/DIVULGAÇÃO A tradição de Recife é vista em alegorias e fantasias espalhadas por espaços públicos

Escutei, ao passar pelo Marco Zero do Recife num domingo de Carnaval, um turista confessar que estava "doido para ir ao shopping". É muita música, muita gente, "frevo todo dia e em todos os lugares", disse, quase uma overdose de estímulos sensoriais. Foi como se, por um desaviso, tivesse caído no que parecia ser um dos melhores lugares para se estar nos próximos três dias.

Parecia mais um anseio pela volta da rotina, uma pausa dessa espécie de delírio coletivo que vivemos nacionalmente uma vez por ano. Tem quem prefira. A opinião se mostrava ser diferente da maioria das pessoas que estavam na capital de Pernambuco, milhões que formaram a multidão parte do frenesi.

De fato, é uma festa que acontece pela maior parte do dia, em sua maioria na rua e de graça - como o Carnaval deve ser. As marchinhas de frevo já soam pelo início da manhã e seguem madrugada adentro, em percursos que podem durar entre quinze minutos ou horas a pé, a depender do polo escolhido entre os mais de 50 espalhados na cidade pernambucana.

Andando um pouco pelos palcos dá para entender porque é tão grandiosa: em um deles, as crianças estavam sendo ensinadas alguns dos mais de 300 passos do frevo. Para fazer a tesoura, por exemplo, há que cruzar o pé atrás e descruzar com pequenos saltos à direita ou esquerda.

Em outros horários, estas mesmas plataformas recebem os maracatus e escolas de samba. Alguns passos para a rua dão para as troças e blocos que tocam desde as músicas do cearense Belchior - com o "Sujeito de Sorte" - com frevo, a percussão de grupos de jovens católicos ou um novo nome da música alternativa.

São apenas algumas percepções de uma curta volta. Minutos, talvez, entre os intervalos de atrações ou do encontro com figuras como as passistas e os caboclos de lança. No meio do percurso, outra conversa chamou atenção por mencionar o nome do "Concentra Mas Não Saí", bloco reconhecido em Fortaleza.

Quem falou foi um folião cearense com seus quase 80 anos, que explicava para a sobrinha pernambucana "como manter o pique" carnavalesco que se estendia até então. Explicou que tem que prestigiar "uma festa bonita dessas".

Foi assim que fez com que a filha tornasse uma carnavalesca e com que o neto tocasse frevo. "É bom demais", me disse enquanto mostrava o vídeo de um dos pré-Carnavais da Praça do Ferreira e falava de um bloco que aconteceria na manhã seguinte em Olinda.

A fala dá uma dimensão do Carnaval recifense: além da programação extensa, feita para todos os públicos, se tornou um símbolo por visibilizar a multiculturalidade. A cidade respira a festividade porque consegue, em certo recorte, representar e manter a tradição. Um movimento contínuo que só se torna possível pelo entendimento que Carnaval também deve ser ensinado e repassado.

*A repórter Lara Montezuma viajou a convite da Prefeitura de Recife.

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