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Bicicletar: projeto se destaca por praticidade, mas falha na manutenção do serviço
Reportagem

Bicicletar: projeto se destaca por praticidade, mas falha na manutenção do serviço

Usuários destacam agilidade e baixo custo como principal benefício, mas alertam para problemas de marchas, freios e de distribuição das bikes
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Estações do Bicicletar. Bezerra de Menezes. (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Estações do Bicicletar. Bezerra de Menezes.

Lançado em dezembro de 2014, o projeto Bicicletar, da Prefeitura de Fortaleza, se tornou parte do dia a dia de milhares de moradores da Capital. Com mais de 7 milhões de viagens ao longo dos últimos 9 anos, a plataforma passou a ser sinônimo de agilidade e economia para os usuários, ao mesmo tempo que enfrenta longínquos problemas na manutenção do serviço.

A fim de conhecer o estado em que se encontra a iniciativa, O POVO visitou 15 unidades do Bicicletar no Meireles, Centro, Barra do Ceará, São Gerardo e Benfica, que ficaram entre os dez bairros com maior número de usuários em 2024.

Durante o circuito, duas características ficaram perceptíveis: a vasta oferta de bicicletas, com apenas uma estação vazia, e as avarias nos meios de locomoção, como celas rasgadas e correntes caídas ou enferrujadas.

Quem utiliza o serviço atesta essa dualidade, do projeto que oferece uma saída eficiente e saudável para o caos do trânsito em Fortaleza, mas por vezes não garante as condições adequadas. Usuário do Bicicletar há dois anos, Francisco Ribamar, 41, diz enfrentar problemas frequentes com a marcha das bicicletas, que nem sempre funcionam nos três níveis projetados.

“Essa aqui [bicicleta que ele usava no momento da entrevista] tá ótima, mas tem algumas que deixam a desejar. A marcha fica só deslizando. O freio é bom, só a marcha [que causa problemas]”, conta o motorista de ônibus.

Como todo serviço público, as bicicletas do projeto são um bem compartilhado por inúmeras pessoas ao longo dos dias. Funciona assim: ao retirar uma bicicleta, o usuário tem até uma hora para usufruir do meio de transporte e deixá-la em outra estação, ficando esta disponível para mais cadastrados no projeto. Nos fins de semana, esse período é de 90 minutos.

Junto a esse compartilhamento, vem também o dever de manter o bom estado de conservação das “magrelas”, que de acordo com alguns usuários, nem sempre é cumprido.

Para a ciclista Márcia Ribeiro, os problemas encontrados nas bicicletas são em parte fruto da má utilização dos ciclistas. Usuária do projeto há mais de um ano, ela relata já ter presenciado momentos de descuido de quem está pedalando com as bikes.

“Os usuários não têm cuidado e estragam. Eu acho que deveria haver mais conscientização dos usuários para que tenham mais cuidado com o que a gente vai usar”, diz a cientista política.

Para saber mais sobre o processo de manutenção das bicicletas, O POVO procurou a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), responsável pela implementação do projeto, que afirma acompanhar continuamente as reclamações feitas pela população.

A gestão também pontua que a Serttel Soluções, empresa responsável pela manutenção do Bicicletar, realiza manutenções diárias nas estações, a partir de reclamações recebidas através dos canais de atendimento da AMC e do Bicicletar.

“A empresa nos passa essas informações mensalmente e a gente vai preenchendo para montar um certo histórico. A gente sabe as estações que têm mais vandalismo que outras, que sofrem com furto de peças, que a quantidade de vagas é insuficiente porque ela é muito demandada, e vamos ajustando à medida que vamos acompanhando esses dados”, explica a técnica de gestão cicloviária de Fortaleza, Germana Nunes, que também indica a existência de uma equipe voltada a testes das bicicletas.

“A nossa equipe do núcleo Bicicletar é bem grande e constantemente nós utilizamos a bicicleta ou no dia a dia, ou para fazer vistorias de obras, por exemplo. A gente tem uma rotina de usar o Bicicletar e reportar isso junto à empresa. Por exemplo, esses problemas com a marcha são algo que a gente já vem conversando desde o início do ano, porque também foi uma percepção nossa de que não está boa”, acrescenta.

Com 253 estações dispostas nas 12 Secretarias Regionais de Fortaleza, o Bicicletar ainda está ausente nos bairros Castelão, Lagoa Redonda e Sabiaguaba. Para o primeiro, a previsão é de que novas estações sejam instaladas até metade de 2025 na avenida Paulino Rocha, que deverão atender a localidade e também o bairro do Passaré.

Já para Sabiaguaba e Lagoa Redonda ainda não há previsão da chegada do Bicicletar, devido à falta de conexão com o atual sistema de estações do projeto. Germana explica que esse é um dos requisitos necessários à instalação, para que caso a estação esteja fora do ar ou sem bicicletas, o usuário tenha outra opção próxima onde buscar o meio de transporte.

“A gente trabalha aqui com um raio de 350 metros em média de uma estação para a outra. Para a gente chegar na Sabiaguaba e na Lagoa Redonda a gente precisaria colocar muitas estações ali pela Praia do Futuro. Tem uma área ali mais ambiental que é um pouco mais deserta, então teria que ter mais investimentos”, afirma a Técnica.

 

 

ERRAMOS: Diferente do que foi publicado, o projeto Bicicletar foi lançado em dezembro de 2024.

Atualizada às 12h24

Agilidade, economia e lazer são motivos para uso do projeto

Considerada mais barata e ágil que os transportes coletivos, a plataforma do Bicicletar ganhou espaço principalmente entre estudantes e jovens de 21 a 40 anos inseridos no mercado de trabalho, que somam 67% dos usuários.

Segundo dados da AMC, mais da metade dos deslocamentos feitos na Cidade têm como destino os locais de trabalho ou estudo de quem se vale do aplicativo, em especial durante as tardes de segunda a sexta-feira.

Recortes de labor e renda trazidos pela pesquisa anual da pasta, 57% dos usuários estão empregados, 22,1% são estudantes, enquanto 14,2% são autônomos. Desempregados e aposentados somam 6,7% dos adeptos a duas rodas.

Com opções de passes diários no valor de R$ 5 mensais de R$ 20 e anuais de R$ 80, o baixo custo também é uma das razões que levaram à popularização da plataforma. Para quem possui Bilhete Único ou carteirinha de estudante ainda pode utilizar o serviço que é ofertado de forma gratuita, mediante cadastro do documento no aplicativo.

Matteus Mouta, 24, conta que durante três anos se valeu dessa combinação de praticidade e economia na locomoção. Morador da rua João Cordeiro, ele fazia o trajeto até a praça José de Alencar de 2021 a 2022 e até o Shopping Aldeota em 2023, sempre de Bicicletar.

Mesmo diante de problemas para locomoção como falhas de marchas, falta de bicicletas nas estações e os próprios riscos de ser um ciclista no trânsito, ele optava pela plataforma devido à gratuidade e ao curto percurso.

"O maior motivo de eu usar o Bicicletar naquela época era justamente a questão de ele ser gratuito. Usava no bilhete único. Muitas vezes eu enfrentava alguns problemas com a utilização, alguns problemas que não tinham tanto com o Bicicletar em si, mas com a própria mobilidade de Fortaleza, como também a questão das próprias bicicletas. Já tive problemas constantes com estação offline, que não tinha bicicleta, que quando tinha bicicleta ela tava com algum problema, principalmente corrente [caída] e pneu [furado]", conta o designer gráfico.

Aliada ao menor custo, a agilidade para se mover em Fortaleza é um dos principais benefícios do Bicicletar. Com faixas exclusivas para bikes, pedalar na Capital se tornou uma alternativa para fugir do estresse gerado pelos trânsito.

Para o estudante de Publicidade, Yuri Kaue, 22, as mais de 200 estações espalhadas pela Cidade ajudam nessa locomoção, garantindo que o usuário tenha onde pegar a bicicleta na origem e deixar no destino final. Somado a isso, os 495 quilômetros (km) de malha cicloviária dispostos por Fortaleza garantem segurança e fuga dos longos engarrafamentos.

"Eu já fiz até um teste uma vez. Saindo do meu trabalho às 17 horas e pegando o ônibus que eu deveria pegar, ir para o terminal e voltar para casa, eu demoro por volta de 1h, 1h30, no máximo. Voltando de bike eu demoro 40 minutos, porque todo o trajeto da minha casa até o trabalho e do trabalho até minha casa, 95% é de ciclofaixa", conta o social media.

Objetivo é atingir 10% dos fortalezenses

Criado antes mesmo do Pedala Mais, o Bicicletar hoje integra o programa que visa duplicar o número de ciclistas na Cidade. Em números, a iniciativa tem como objetivo principal fazer com que 10% dos fortalezenses usem a bicicleta como um meio de transporte.

Entre os grupos prioritários para serem esses novos adeptos estão as pessoas que não possuem uma bicicleta. O recorte também atinge mulheres e idosos, que de acordo com a pesquisa anual realizada na plataforma, são as que menos utilizam o serviço.

"O Bicicletar acaba sendo uma forma de essas pessoas que não têm uma bicicleta poderem utilizar a bicicleta de forma gratuita utilizando o Bilhete Único. A expansão do Bicicletar nesse último ano foi muito alinhada a essa política cicloviária, para chegar mais nas periferias e tentar alcançar de fato um público que ainda não tem a bicicleta ou não se sente seguro para usá-la na cidade", comenta Germana.

Quem usa o serviço em Fortaleza

Os dados cedidos pela AMC ainda descrevem quem são os usuários do projeto na Capital. Em recorte de sexo, o predomínio é masculino, com os homens representando 61% dos ciclistas cadastrados na plataforma, frente 39% de mulheres.

A faixa etária que mais utiliza as estações é de pessoas entre 21 e 25 anos, que somam 23,5% dos inscritos. Em seguida vêm os públicos entre 26 e 30 anos, com 19% e de 31 a 35, com 14,2%. As crianças e adolescentes até 15 anos são as que menos usam o Bicicletar, com participação de 0,1%.

Ainda de acordo com a pesquisa, 41% dos percursos têm como origem ou destino o local de trabalho dos ciclistas. Os grandes polos comerciais da Cidade, como Meireles, Centro e Aldeota, concentraram os maiores números de viagens em 2024, com respectivamente 140.241, 86.927 e 43.558 itinerários.

Entretanto, não só de trabalho vive o Bicicletar da Cidade. A pedalada para fins de lazer é a segunda mais recorrente na Capital, com 40% das viagens. Boa parte dessa porcentagem pode ser atribuída à prática de atividades físicas na orla da Capital, o que explica a disparidade do Meireles em relação aos outros bairros.

Nestes nove anos de atuação do programa, as estações Náutico, Aterro Praia de Iracema e Aterrinho da Praia de Iracema, todas no Meireles, foram as únicas a ultrapassar a marca de 300 mil viagens, e juntas, somam mais de 1 milhão de usos.

Os usuários do Bicicletar Matteus Mouta e Yuri Kaue estão entre essas pessoas que, além do trabalho, usam as bicicletas também para o lazer. O primeiro inclusive diz encontrar bastante tranquilidade para a prática de esportes na região, tendo como maior dificuldade apenas a lotação do calçadão com pedestres e corredores.

"O grande problema ali é o convívio com os pedestres e corredores que é um pouco confuso às vezes. Tirando isso acho que é bem tranquilo. Acho que é uma via tranquila, poucos problemas de buracos e em questão de tirar bicicletas, ter bicicletas disponíveis", conta.

Canais de comunicação

Canais para a solicitação de novas estações do Bicicletar ou manutenções:

Whatsapp da AMC:
9 8814-8300

Telefone do Bicicletar:
(85) 98513-3673

E-mail: ouvidoria@amc.fortaleza.ce.gov.br

Portal da AMC: https://amctransito.com.br/#online

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