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Isolamento prejudicou linguagem e socialização de crianças
Reportagem

Isolamento prejudicou linguagem e socialização de crianças

| Primeira infância | Tempo crucial para o desenvolvimento das crianças foi prejudicado. Efeitos ainda são notados
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BRINCADEIRAS ao ar livre, impedidas durante boa parte da pandemia, influenciam na coordenação motora e na socialização na infância (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves BRINCADEIRAS ao ar livre, impedidas durante boa parte da pandemia, influenciam na coordenação motora e na socialização na infância

Passar alguns dos anos formativos em isolamento social teve impacto no desenvolvimento cognitivo, motor e na socialização de crianças e adolescentes. A distância necessária nos momentos mais críticos da pandemia trouxe consequências que ainda geram desafios para famílias, educadores e profissionais da saúde mental.

Para crianças que atravessaram o período enquanto viviam a primeira infância, até os 6 anos, os principais danos reconhecidos por estudiosos foram nos campos da linguagem e da socialização.

"Principalmente as crianças menorzinhas, que nasceram na pandemia, tiveram um certo comprometimento no desenvolvimento da linguagem. Até porque, para desenvolver a linguagem, a gente precisa estar em relação com o outro, observando o comportamento dos outros, convivendo para ter vocabulário e para conseguir se comunicar", explica a psicóloga infantil Juliana Lima.

Na pesquisa Iracema-Covid, coordenada pela professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Márcia Machado, mais de 300 mães e bebês nascidos na pandemia em Fortaleza são acompanhados desde 2020.

Conforme Márcia, todos os marcos de desenvolvimento das crianças participantes foram afetados durante o isolamento. Ao destacar os prejuízos à linguagem, a pesquisadora afirma que o uso excessivo de telas no período também contribuiu para o cenário observado.

"O uso de telas, mesmo na população de baixa renda, foi muito elevado", relata. A pesquisa mostra que 68,58% das crianças de até 18 meses acompanhadas ultrapassavam o limite de uma hora por dia de telas recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A média de tempo diário de uso de telas era maior em famílias com menor renda: 5,44 horas por dia para aqueles que ganhavam menos de um salário mínimo.

O contato exacerbado com as telas e a falta de estímulos durante o lockdown também influenciou na coordenação motora fina, responsável pelos movimentos precisos dos menores músculos do corpo, como os dos dedos das mãos e dos pés.

"Essa ideia de tirar as telas das crianças em determinadas horas na creche e na escola é bem-vinda por isso, porque elas estão com dificuldade inclusive de pegar lápis, giz de cera. O dedo polegar está perdendo um pouco a função, porque as crianças apontam mais o dedo indicador", explica.

A falta de exercícios e acesso a ambientes espaçosos foi outro fator que interferiu no desenvolvimento da coordenação motora grossa, aquela necessária para movimentar os músculos grandes, como braços e pernas.

"Para o desenvolvimento motor, a criança precisa experimentar o mundo, correr, se sujar, cair, ela precisa aprender a levantar", diz Juliana.

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