Quando falamos de Covid-19, em geral, nos vêm à mente o período agudo da doença. Mas os efeitos do vírus no organismo podem ser observados até meses ou anos após a infecção. A Covid longa, ou síndrome pós-Covid, inclui uma gama de sintomas que atinge vários órgãos e sistemas.
Segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Covid longa ocorre quando os sintomas relacionados à infecção persistem por 12 semanas ou mais. Mais de 200 manifestações múltiplas e sistêmicas foram agrupadas. As mais frequentes são fadiga, falta de ar, tosse persistente, dor no peito e distúrbios cognitivos — confusão mental, esquecimento, dificuldade de concentração.
A entidade emitiu definição clínica oficial da condição pós-Covid-19 no fim de 2021. Embora a incidência varie conforme diferentes estudos e populações, estima-se que cerca de 10% a 30% dos pacientes infectados por SARS-CoV-2 desenvolvam alguma complicação prolongada.
A Covid longa é uma condição crônica associada à infecção e é um estado contínuo, recidivante ou progressivo, afetando um ou mais sistemas orgânicos, detalha Rodolfo Furlan Damiano, psiquiatra e pós-doutorando em psiquiatria (USP/FAPESP).
Segundo ele, não há atualmente um biomarcador específico que determine conclusivamente a presença da condição. O médico explica que a identificação dos sintomas relacionados à Covid longa baseia-se em dois critérios principais: o início dos sintomas após a infecção aguda pelo SARS-CoV-2 e a ausência de qualquer outra explicação clínica provável para justificar a ocorrência destes sintomas além da infecção prévia.
"O diagnóstico é clínico e de exclusão, baseado na história do paciente, exame físico detalhado e, quando necessário, exames complementares para descartar outras condições. A temporalidade também é importante: há uma relação cronológica entre a infecção aguda e o desenvolvimento dos sintomas persistentes", diz.
Estudo brasileiro desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM)com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do qual Rodolfo participou, avaliou pacientes com quadros moderados ou graves de Covid-19 e revelou conexões importantes entre inflamação persistente e problemas mentais/cognitivos. Os resultados foram divulgados na revista Brain, Behavior, and Immunity.
A investigação explorou o impacto de citocinas e quimiocinas - proteínas que controlam a resposta imunológica do corpo - nos sintomas neuropsiquiátricos. O estudo acompanhou 108 participantes por um período de dois anos após alta hospitalar pela infecção.
"Estas descobertas ajudam a explicar como a Covid-19 pode afetar o cérebro por meio de processos inflamatórios, o que pode orientar futuros tratamentos para pessoas com sintomas neuropsiquiátricos persistentes após a infecção, assim como o tratamento preventivo de pacientes com doenças infecciosas agudas", afirma.