Carros, ônibus, metrôs, bicicletas… Fortaleza hoje é uma metrópole com diferentes meios de locomoção para seus moradores e visitantes. Entre os muitos jeitos de circular pela Capital, as motos por aplicativo têm conquistado cada vez mais espaço nas ruas e na preferência de quem precisa ir de um ponto a outro da cidade.
Mais barato que o preço cobrado para carros e com agilidade que as quatro rodas não conseguem oferecer, a modalidade se tornou uma febre por todo o Brasil e em Fortaleza. Quem usa o serviço fala da praticidade de pedir uma moto por aplicativo como um dos grandes atrativos.
Entre os usuários está Caroline Sampaio, 23, que utiliza o serviço desde que ele chegou à Capital, em 2021. Ela conta que já costumava andar de moto, principalmente mototáxi, mas que com a chegada dos aplicativos, ficou mais rápido, fácil e barato pedir uma viagem.
“O principal motivo (da troca) é realmente o preço e a praticidade. É muito mais fácil solicitar uma moto por aplicativo. Por exemplo, mototáxi eu tinha que ligar para o motociclista, tinha que chamar. Pelo aplicativo é muito mais prático porque eu não preciso falar com ninguém”, relata a assistente administrativa.
Tradicionalmente, as motos costumam ser uma escapatória ao grande fluxo de carros no trânsito das grandes cidades. “Costurando” por entre os veículos de maior porte, os motociclistas têm oferecido uma economia — ou resgate — de tempo precioso para os usuários.
Lívia Levinsk, 24, conta andar de moto desde pequena, ainda na garupa do pai, e que a agilidade do veículo sempre lhe foi muito útil. Hoje, ela utiliza o serviço prestado pelos aplicativos como forma de escapar de atrasos provocados pelos enormes engarrafamentos vistos cotidianamente nos horários de pico em Fortaleza.
“Eu uso muito para sair à noite, já fui muito para o trabalho também. Porque é isso: é mais rápido, é mais fácil, você não fica preso no trânsito. Se o percurso é curto ou longo, por mim… continuo usando bastante”, diz a jovem, que afirma usar o serviço entre quatro e cinco vezes na semana.
Se as motos por aplicativo significam mais praticidade e baixo custo para quem pede, os que trabalham no ramo encontraram no transporte individual de passageiros uma forma de driblar as dificuldades impostas pelo desemprego ou pela insatisfação com as funções que desempenhavam.
Douglas Souza, presidente da Associação dos Trabalhadores por Aplicativo de Fortaleza (Ataf), pontua que a categoria é composta em boa parte por pessoas que ou perderam seus empregos, ou não conseguiram ingressar no mercado de trabalho formal.
Somado a isso, o atrativo de fazer seu próprio horário, ter ganhos diários com as viagens em vez de um salário no final do mês e a baixa burocracia para ingressar no aplicativo têm atraído cada vez mais pessoas a complementarem a renda com o serviço, ou fazer dele sua principal fonte de sustento.
“O que leva alguém a trabalhar informalmente é a falta de trabalho formal. Alguns ficam desempregados, têm uma motinha e enxergam a oportunidade. [...] É um trabalho muito bom, tanto por essa flexibilidade, quanto por todo dia você estar com dinheiro no bolso. Não é muito, mas ajuda demais dentro de casa. É uma renda de R$ 100 a R$ 150 líquido por dia”, afirma o também motociclista.
Esse reflexo pode ser visto não só na economia pessoal de cada profissional, mas também nos resultados econômicos do próprio Estado. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a categoria foi responsável pela geração de mais de 11 mil empregos no Ceará, só em 2023.
Ainda conforme dados da FGV, repassados ao O POVO pela 99 Moto, empresa de transporte individual de passageiros atuante em Fortaleza, as motos por aplicativo também geraram impacto superior a R$ 827 milhões em produção, R$ 403 milhões em PIB e R$ 166 milhões em geração de renda familiar no Estado durante o mesmo período.
O POVO também procurou a Uber Moto, que junto à 99 lidera a modalidade na Capital. Durante quatro dias de procura, a empresa não emitiu nenhuma resposta via e-mail ou telefone às demandas enviadas.
Trabalho e economia
>Motivação para trabalhar com motos por aplicativo é a falta de trabalho formal, flexibilidade de horários e baixa burocracia
>Motociclistas conseguem R$ 100 a R$ 150 de renda diária com apps
>Categoria teve impacto de R$ 166 milhões em geração de renda familiar em 2023
>Número de passagens pagas no transporte público de Fortaleza diminuiu 27% quando comparado 2021 e 2024
Saúde
>Acidentes com motos são a segunda maior causa de procura pela emergência do IJF, atrás apenas de quedas
>8.439 vítimas de acidentes de moto foram atendidas no IJF em 2024
>830 pessoas morreram em acidentes com motos no Ceará em 2023
Fontes: 99moto, Instituto Dr. José Frota (IJF), DataSus, Fundação Getúlio Vargas (FGV), Associação dos Trabalhadores por Aplicativo de Fortaleza (Ataf) e Sindiônibus.
Modalidade atua sem regulamentação em Fortaleza
Apesar de serem parte significativa do trânsito da Cidade, as motos por aplicativo não possuem regulamentação para atuar em Fortaleza. Segundo a Lei Municipal nº 10.751 de 2018, apenas os habilitados nas categorias B, C ou D, destinadas a carros, veículos de carga e aqueles para transporte acima de oito pessoas, podem exercer atividade de transporte remunerado na cidade.
Segundo o presidente da Ataf, os motociclistas atuam hoje com base em uma liminar expedida em 2021, autorizando o transporte de passageiros pela modalidade em Fortaleza. Entretanto, a categoria afirma seguir em busca de regulamentação dos seus serviços junto às plataformas e ao município.
"Nós buscamos uma regulamentação justa, que o trabalhador tenha a flexibilidade de continuar trabalhando no horário que ele tem disponibilidade, sem bloqueios indevidos. [...] Reajustes de seis em seis meses ou de acordo com a inflação, o salário mínimo, algum reajuste anual. Tem que ter reajuste. Há anos não tem em nenhuma das plataformas", pontua Douglas.
Questionada sobre qual embasamento legal utilizam para seguir prestando serviços na Capital, a 99 Moto afirmou que está credenciada junto à Etufor e que assinou a Carta de Intenções de Projetos, onde se compromete a desenvolver ações de segurança e mobilidade urbana, como compartilhamento de informações pertinentes e formações de segurança viária com motociclistas.
Também procurada, a Etufor ressaltou que não há regulamentação na cidade de Fortaleza quanto ao serviço de transporte de passageiros por moto por aplicativo, pois não há legislação federal para tal.
Em nota, a pasta informou que as plataformas de veículos por aplicativo estão credenciadas junto à Prefeitura para oferecer o serviço de transporte privado individual de passageiros por meio de automóvel e não por motocicleta.