Logo O POVO+
Primeiro pontífice norte-americano é também peruano
Reportagem

Primeiro pontífice norte-americano é também peruano

PERFIL. Prevost passou um terço da vida nos Estados Unidos. O restante entre a Europa e a América Latina, uma das periferias do mundo
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Robert Francis Prevost no balcão da Basílica de São Pedro, após ser anunciado papa Leão XIV
 (Foto: Alberto PIZZOLI / AFP)
Foto: Alberto PIZZOLI / AFP Robert Francis Prevost no balcão da Basílica de São Pedro, após ser anunciado papa Leão XIV

O cardeal americano Robert Francis Prevost chegou ao Peru como um jovem missionário agostiniano e, do país andino, partiu como bispo para o Vaticano para se tornar uma figura central na administração do papa Francisco. Nesta quinta-feira, dia 8, foi escolhido papa Leão XIV.

Dos cardeais do continente americano, Prevost, que também possui nacionalidade peruana, era considerado o que tinha mais chances de ser eleito papa, na avaliação dos especialistas. Sua inclinação pastoral, a reputação como moderado e a abertura ao diálogo foram consideradas cruciais no conclave realizado em um momento em que a Igreja parece profundamente dividida.

Prevost passou um terço da vida nos Estados Unidos. O restante entre a Europa e a América Latina, uma das periferias do mundo, de onde também era natural o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco.

Devido à forte atuação missionária no Peru durante os anos 80, Prevost ficou conhecido como o "pastor de duas pátrias". Edison Farfán, bispo de Chiclayo, cidade peruana que o novo papa citou em seu primeiro discurso, afirmou que Prevost "se apaixonou pelo Peru" e por ceviche quando era missionário e prelado no país. "Gostava muito de cabrito, arroz com pato e ceviche, eram seus pratos preferidos", disse Farfán, que lembrou o contato próximo de Prevost com os mais pobres.

O bispo mencionou a passagem de Prevost por Chulucanas, onde foi missionário após concluir seus estudos nos Estados Unidos. Depois, viajou para Trujillo, onde "montou" uma escola de formação agostiniana, e chegou à cidade litorânea.

Também o descreveu como um guia espiritual das "periferias", próximo "do povo" e "sempre atento ao valor da religiosidade popular"."É um irmão nosso, um irmão que passou por estas terras. Deu toda a sua vida à missão no Peru, é sensível ao tema da pobreza", acrescentou Farfán.

O jornal italiano La Repubblica o chamou de "o menos americano dos americanos" pela moderação de suas palavras. A ideia de um papa americano foi descartada durante séculos em Roma, seja pela distância — estavam tão longe que geralmente chegavam atrasados aos conclaves — ou por decisões geopolíticas.

Segundo o site especializado Crux, ter um pontífice da primeira potência mundial levantou temores de que a CIA pudesse colocar as mãos na Igreja.

Arcebispo emérito de Chiclayo, cerca de 750 quilômetros ao norte de Lima, Prevost obteve a nacionalidade peruana em 2015. Deixou o Peru para se juntar ao governo do Vaticano, onde chefiou o Dicastério para os Bispos, que tem a importante função de aconselhar o papa sobre a nomeação de líderes da Igreja.

Após a morte de Francisco, Prevost disse que ainda havia "muito para fazer" na transformação da Igreja. "Não podemos parar, não podemos retroceder. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã, porque o mundo de hoje, em que a Igreja vive, não é o mesmo que o mundo de 10 ou 20 anos atrás", disse ele, no mês passado, ao Vatican News. "A mensagem é sempre a mesma: proclamar Jesus Cristo, proclamar o Evangelho, mas a maneira de alcançar as pessoas de hoje, os jovens, os pobres, os políticos, é diferente", acrescentou.

Foi um dos cardeais mais próximos de Francisco, cujo pontificado gerou resistência nos setores mais conservadores. Mas, ao mesmo tempo, sua sólida formação em direito canônico tranquiliza aqueles círculos que buscam uma abordagem mais focada na Teologia.

Prevost nasceu em 14 de setembro de 1955, em Chicago, e frequentou um seminário menor da Ordem de Santo Agostinho, em St. Louis como noviço, antes de se formar em Matemática na Filadélfia.

Poliglota, estudou Direito Canônico em Roma, onde também obteve o doutorado. Ele se juntou aos agostinianos no Peru, em 1985, para a primeira de suas missões no país andino. Ao retornar a Chicago em 1999, foi nomeado prior provincial dos agostinianos naquela região americana e, posteriormente, prior geral da ordem em todo o mundo.

Ele retornou ao Peru em 2014, quando Francisco o designou administrador apostólico da Diocese de Chiclayo. Quase uma década depois, ele se juntou à Cúria, substituindo o cardeal canadense Marc Ouellet, que foi acusado de agredir sexualmente uma mulher e renunciou devido à idade. Então, o falecido pontífice também o nomeou presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina.

Durante a internação de Francisco, Prevost foi o responsável por liderar uma oração pública no Vaticano pela saúde do então pontífice. (AFP)

 

O que você achou desse conteúdo?