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Para onde caminha a Igreja
Reportagem

Para onde caminha a Igreja

| IGREJA | O novo papa Leão XIV busca continuar legado de Francisco, mas construir pontes e unidade na Igreja Católica que se dividiu no ambiente de reforma
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"Vocês me chamaram para carregar essa cruz e ser abençoado com essa missão, e sei que posso confiar em cada um de vocês para caminhar comigo, enquanto continuamos como Igreja", discursou o recém nomeado papa Leão XIV na na sexta-feira, 9, na primeira missa após ser escolhido pontífice.

A eleição do americano Robert Francis Prevost, no segundo dia de conclave, quinta-feira, 8, marca o início de um novo capítulo para a Igreja Católica, com as expectativas centradas na missão, no diálogo, na unidade e na forma como a Igreja enfrentará os desafios sociais e culturais contemporâneos.

"Necessitamos ser, juntos, uma igreja missionária, que constrói pontes e diálogos", disse Leão XIV, que, na contramão dos papas anteriores, fez um discurso longo e carregado de simbolismos ao fim do conclave. O novo papa proferiu palavras de diálogo, união e a vontade de viver uma igreja sinodal. "A paz esteja convosco. Esta é a paz de Cristo que ressurgiu. Uma paz desarmante, humilde e perseverante", declarou.

Considerado moderado, Leão XIV apresenta semelhanças com o antecessor, papa Francisco, falecido no fim de abril. "Um homem do diálogo, de pedir a paz e construir pontes, que foi o que marcou muito o pontificado do papa Francisco", explica o Padre Eliomar Ribeiro, sacerdote católico, teólogo, e autor do livro 365 dias com o papa Francisco: Orações diárias para serem feitas a partir de pensamentos do Papa Francisco.

Prevost é o primeiro papa na história a vir da ordem de Santo Agostinho. A formação, que incluiu estudos em matemática, filosofia e direito canônico, e a ligação com a espiritualidade agostiniana são vistas como influências centrais para o pontificado.

"Com vocês eu sou cristão, para vocês eu sou bispo", disse o papa emocionado em primeiro discurso. Seu lema episcopal, "In Illo uno unum" ("Naquele um, um"), uma frase de Santo Agostinho, aponta para uma ênfase na unidade dos cristãos em Cristo.

O padre Eliomar considera, contudo, que o novo pontífice é "mais introvertido" que o antecessor, "mas isso é característica de cada um, a preocupação de conduzir a Igreja continua igual".

Segundo ele, Leão XIV provavelmente trará no "coração de pastor" a necessidade de a Igreja de responder aos "desafios muito grandes" e questões "candentes" que não pode mais ignorar, como a questão do gênero. O novo pontífice nunca chegou a fazer uma declaração pública enfática sobre os direitos da população LGBTQIAPN e a bênção dada pela Igreja Católica a casais do mesmo sexo.

"A questão de gênero hoje aparece enormemente e nós temos de dar resposta a isso. Não podemos fingir que essas coisas não existem, porque estão aí", acrescenta.

Nascido nos Estados Unidos com nacionalidade peruana, Leão XIV falou italiano e espanhol no primeiro discurso como papa, decisão vista como forma de validar a experiência missionária e se aproximar das realidades da América Latina, com desafios econômicos e sociais. Já na primeira missa como chefe da Igreja, iniciou a homilia na língua materna.

Segundo o teólogo e filósofo Luciano Gomes, professor do UniArnaldo Centro Universitário, de Belo Horizonte, a escolha de Leão XIV em discursar na língua espanhola sinaliza a validação da experiência missionária e se aproxima das realidades da América Latina e chega "na contramão" da política dos Estados Unidos atualmente.

"Olhando todo esse contexto geopolítico, a questão do (Donald) Trump, com a ideia de levantar muros, de imigrantes, a eleição do papa Leão XIV vem na contramão. Mostrar tudo aquilo que a política do Estado americano, nesse caso Donald Trump, não deve realizar. Porque o vice-presidente (JD Vance) falava de uma hierarquização do amor, mas não existe hierarquia para você amar. O amor é algo que nasce de uma experiência, de uma vivência, de um diálogo", explica Luciano Gomes.

Três meses antes de ser anunciado papa, Robert Prevost compartilhou no X (antigo Twitter) um artigo de opinião publicado no National Catholic Reporter com o título "JD Vance está errado: Jesus não nos pede para hierarquizar nosso amor pelos outros", respondendo a fala do político.

"Então, a figura dele, não representando somente os Estados Unidos, mas toda a América. E representa a contramão de todas as ideias da política econômica americana dentro do mundo. Ele vem justamente mostrar um outro lado", esclarece o professor.

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