Passeando pelas ruas e avenidas da capital cearense, o fortalezense poderá se deparar com um som destoante dos ruídos caóticos do trânsito: a melodia de um saxofone. "É sobre trazer essa felicidade para quem às vezes não está tendo um dia legal", conta o músico Reginho Sax - como prefere ser chamado. Em dezembro, o artista tem se apresentado nos espaços urbanos da Capital com repertório natalino e, em meio a desafios, tem descoberto novos caminhos com a música.
Régis Alcantara, de 36 anos, nasceu em Itapiúna, interior do Ceará. Com cinco irmãos, ele cresceu numa família que vivia imersa na arte em, aos oito anos, iniciou sua trajetória na flauta doce. Depois expandiu para diversos instrumentos, como requinta, clarinete, violão e saxofone.
Na escola de música de Itapiúna, Reginho conta que ouviu muitos "não" até que conseguisse ter sucesso com os instrumentos. Seu irmão mais velho foi um grande incentivador para que ele aprendesse o "sax", o "sim" para esse objeto foi muito comemorado.
Com o correr dos anos, Reginho foi adquirindo experiência e talento, logo se tornando professor de violão e flauta para jovens na Casa da Criança e do Adolescente (CCA). "Eu não sabia se ia dar certo, mas eu consegui ensinar as crianças e em poucos meses elas já tinham aprendido", relata.
Entre diferentes bandas e premiações, como Campeões de Forró, a carreira de Reagindo Sax prosseguiu. Mas, em 2020, ele e toda classe artística tiveram seus eventos interrompidos pela pandemia de covid-19 e o consequente isolamento social. "Naquele momento eu pensei: 'Poxa, não vou ficar parado. Eu tenho que comer, pagar o aluguel, tem a pensão do meu filho...'", pontua. Foi nesse contexto que o músico passou a tocar saxofone nas ruas para ganhar dinheiro e divulgar seu trabalho.
Régis narra várias histórias que tem vivido nesse período, incluindo uma abordagem policial que o fez “tremer de medo” enquanto trabalhava na avenida Humberto Monte. "Eu fiquei meio nervoso quando a viatura parou do meu lado, pensei que algum morador da região poderia ter reclamado do som. Mas não. Eles me abordaram e perguntaram se eu tinha interesse em ingressar para a polícia", conta.
Respondendo sobre não ter interesse em cargo militar por já se considerar velho para o ofício, o músico fala que os policiais insistiram na ideia. "Eles então ficaram se olhando e comentaram um com o outro: 'Ele toca pra caramba, né?'. Foi aí que me falaram que um tal tenente ia gostar muito se eu fizesse parte da banda da PM", continuou.
Ainda nesse episódio, o músico relata - com orgulho - que os policiais afirmaram que ele tem uma "voz humana", uma "voz do bem que representa o povo".
Em outubro, o Reginho também testou suas habilidades como ator ao ser contratado para fazer surpresas. Segundo ele, um “homem apaixonado” o contratou para fazer um mimo musical para a namorada enquanto ela estava na academia.
Neste dia, o musicista vestiu-se com roupas de entregador de aplicativo para entrar no estabelecimento e surpreendeu a todos que malhavam com a apresentação musical repentina.
No retorno dos eventos presenciais entre 2021 e 2022, Reginho viu-se ainda numa situação complicada financeiramente. Ele lamenta que seu trabalho não retornou junto ao calendário artístico da mesma forma como esteve financeiramente antes da quarentena.
"Hoje tem muitas novas bandas e os cachês estão mais baixos, mas a gente continua tendo conta para pagar: aluguel, energia, roupa, comida… a gente ainda tem que viver", afirma.
Confiante, ele afirma que atualmente toca em aniversários, casamentos e festas em geral. "Deus me deu esse tom maravilhoso e eu o agradeço muito. As pessoas falam que eu sou um maestro sem faculdade, mas eu tenho sim o meu diploma em música, eu sou formado", destaca o músico.
Transitando entre bairros como Centro, Aldeota e Messejana, Reginho também conta um pouco sobre seu trajeto no dia a dia. "Tem bairros que eu nem conheço, mas paro por lá. Todo dia que eu saio de casa, peço que Deus me ilumine porque eu nem sei para onde eu vou quando estou saindo, só coloco o 'sax' na garupa da minha motinha e sigo meu destino", elabora.
A arte, presente na vida de Reginho, nasceu também nas influências de sua família. O irmão mais velho do saxofonista também vive de arte e, durante a entrevista para o Vida&Arte, foi citado diversas vezes por seu nome artístico: Leãozinho dos Teclados, uma inspiração para Régis.
"É um dom de família, minha família vive muito da música, da arte no geral". Reginho fala que, mesmo sabendo tocar inúmeros instrumentos musicais, hoje o seu foco é o saxofone porque é incomum de ser visto. Ele afirma que gosta muito de violão e, em bandas de forró, se engajou em diferentes instrumentos. Mas, "nas ruas, o que impressiona é o sax, pois é mais chamativo", desenvolve o músico.
Emocionado, Reginho fala sobre as conquistas e experiências em tocar nas ruas de Fortaleza: "Com 26 anos só de saxofone, eu tenho muito orgulho de tudo o que fiz até aqui. Muita gente vê o meu trabalho e me elogia, eu fico muito feliz com isso, com esse reconhecimento".
Ele finaliza a conversa com perspectivas para sua carreira: "Para o futuro, eu sempre penso em gravar um CD, sabe? Não é que seja uma ambição minha…. mas eu penso grande. Eu quero fazer um álbum só com as minhas músicas. Eu tenho muitas composições de forró, samba e românticas também. Tenho certeza que vou conseguir realizar".
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