Dona de uma das vozes mais notáveis da música popular brasileira, Amélia Claudia Garcia Collares, popularmente conhecida como Amelinha, vai se apresentar no Cineteatro São Luiz neste domingo, 24, com músicas de seu mais recente álbum, "Todo mundo vai saber".
O disco foi gravado por volta de 2012, mas lançado nas plataformas digitais em 2022. São 12 faixas inéditas de Caio Silvio e Ricardo Alcântara que foram guardadas por cerca de 10 anos. Produzido por Robertinho de Recife e com participação de músicos domo Pantico Rocha e Jorge Helder, "Todo mundo vai saber" coloca Amelinha cantando blues, baladas, reggae e outros estilos.
Relembrando sua ligação com a música, a cearense radicada no Rio de Janeiro vem de uma família muito musical e participou, desde a infância, de pastoril, autos de natal e saraus na casa da avó, Amélia Beleza, que tocava piano e bandolim.
E em 1970 ao se mudar para São Paulo para cursar comunicação, viu sua vida mudar por completo. Amelinha passou a frequentar shows do colega de vestibular, Raimundo Fagner, e lá conheceu outros nordestinos, que anos depois ficariam conhecidos no Brasil, como Ednardo, Belchior (1946-2017), Rodger Rogério e Teti. Juntos formaram o "Pessoal do Ceará".
Com essas novas amizades, Amelinha conta em entrevista ao Vida&Arte, que passou a conhecer um outro lado de Fortaleza. Lugares que ela não frequentava enquanto morava na Capital e canções que nunca tinha ouvido.
"Quando os conheci, eles já faziam festivais pelo Nordeste e daí nasceu uma grande amizade entre nós, com grande identificação. Fagner e Belchior me mostraram pela primeira vez o 'Mucuripe'. Antes, eu não frequentava nem um lugar que eles frequentavam. Costumava ir na Beira-Mar, Iate Clube, Náutico, Líbano, tertúlias, essa era minha onda", lembra.
Ela também conta que Fagner foi um dos grandes responsáveis por encorajá-la a subir nos palcos e enfrentar o público. "Ele sempre chegava me convidando para cantar em seus shows. Até que um dia ele falou: 'Como é, você não vai se decidir não? Vamos cantar profissionalmente?'. Eu não me dedicava muito à música, porque eu sentia falta de ter um repertório e não tinha composição pra isso. Eu nem me tocava que fazia música. Só depois, com essa convivência com muitos músicos, que isso aconteceu. Antes era uma coisa mais empírica e familiar mesmo", revela.
Sobre seu processo de criação, ela responde: "Pura intuição e vocação nata. É preciso conhecer a voz, como tratá-la, os tons ideais. Hoje trânsito mais no médio grave e sempre me utilizei bem do microfone. Sem precisar gritar, já que o equipamento amplia a voz e temos que descobrir a nossa equalização", sugere.
Em 1974, Amelinha começou a carreira profissional e três anos depois lançou o primeiro álbum, "Flor da Paisagem". No mesmo ano participou do primeiro disco do amigo Ednardo, "O Romance do Pavão Mysteriozo", que cantava nos shows universitários.
Em 1975, Fagner lhe apresentou a Vinicius de Moraes e Toquinho. "Desde que cantei com Vinícius de Moraes e Toquinho numa temporada de 40 dias em Punta del Este e Montevidéu, no cassino São Rafael e outras casas noturnas, faço uma avaliação sobre minha carreira. Então, o caminho é evoluir e aprender sempre", diz.
Em 1980, Amelinha ficou em segundo lugar no festival MPB-80, da Rede Globo, com a música "Foi Deus Quem Fez Você", que vendeu mais de um milhão de cópias e tocou, ao mesmo tempo, na AM e FM. Sua longa trajetória discográfica inclui 17 álbuns, um disco de platina e um de platina quádruplo. Para ela, essa trajetória evidencia que sua arte frutificou sem fronteiras e segue caminhos autônomos, sempre em dia com o seu tempo.
Amelinha destaca o Nordeste vem produzindo novos talentos que fazem a música local se manter viva, celebrando as tradições. "O Nordeste é sempre muito rico e com um panorama bastante diversificado. Com muitas vertentes e buscando evidenciar a ancestralidade em todas as suas modalidades. Com vários estilos dentro da música, concepção de vivência nordestina, absorvendo sons mundiais e tudo isso em um entrelaçamento cultural magnífico. Vem surgindo muitos nomes que estão fazendo coisas boas aí", opina.
Para ela, em termos culturais, muita coisa acontece de um estado para o outro e se afirmar nordestina é evidenciar suas raízes e mostrar as qualidades que existem na Região. "A nordestinidade ultrapassa muitas fronteiras. Ela é uma irmandade, uma forma de ser, de se comportar e pensar. Ela é visceral, cultural, comportamental e transmite um sentimento de pertencimento. O Ceará tem muita garra, gente com muita força, determinação e organizado. O Estado tem uma grande vocação ao progresso", diz empolgada.
Um repertório para chamar de seu
O trabalho mais recente de Amelinha, "Todo mundo vai saber", foi lançado em 2022 e gravado há cerca de doze anos em Fortaleza. No disco, Amelinha dá voz a 12 músicas, parcerias de Caio Silvio e Ricardo Alcântara. O álbum passa por baladas radiofônicas, reggae e jazz.
"Voltar a se apresentar em Fortaleza é algo bom e gosto de fazer", conta empolgada Amelinha, que se caracteriza como uma artista de repertório diverso e boa de roteiro.
"Eu não faço o mesmo show em cada lugar. Cada lugar é um lugar. O show no Cineteatro São Luiz vai ser único, repertório único. Todo mundo vai saber que vai ter uma centralidade de algumas músicas desse disco que eu fiz sobre as músicas de Caio Silva e Ricardo Alcântara", detalha.
E acrescenta: "Todos os meus shows têm uma história, cada lugar é uma narrativa. O show que faço na praia é diferente do que faço em um teatro. Já é outra coisa, outra pegada. O pessoal assiste a um história encantada", conta.
Amelinha - Todo mundo vai saber