A profundidade para além da cena teatral é pautada neste sábado, 23, e domingo, 24, no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura com a palestra-performance "O Museu sem fim de 1976" da atriz, crítica e curadora, Daniele Avila Small.
Daniele Avila Small é diretora e produtora de teatro, doutora em Artes Cênicas pela UNIRIO, mestra em história social da cultura pela PUC-Rio e bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, autora do livro "O Crítico Ignorante", idealizadora e editora da revista "Questão de Crítica".
Além da atuação como crítica teatral, tem se dedicado à criação de espetáculos que investigam narrativas historiográficas no teatro e o lugar das mulheres na história da arte, como nas peças "Há mais futuro que passado" e "O museu sem fim de 1976".
O trabalho que será apresentado em Fortaleza é uma extensão das pesquisas da artista sobre a história do teatro a partir da narrativa feminina sob um teor crítico carregado nas obras do ano de 1976, em homenagem à data de nascimento da curadora.
"A ideia desse projeto é compartilhar como ter um olhar amorosamente crítico sobre as obras de arte e especialmente as criadas por mulheres, numa época em que a visibilidade feminina era ainda pior. Esse trabalho também é uma forma de reconhecer as obras que enfrentaram essa visão patriarcal da história da arte", explica a artista.
A peça tem o formato de palestra-performance, um gênero artístico que encontra ressonâncias nas artes visuais, na dança e no teatro. E cria a possibilidade de combinar diferentes recursos para colocar em cena o pensamento, o compartilhamento de vivências e a pesquisa do autor da obra. A proposta funciona como convite ao pensamento crítico voltado ao prazer artístico.
Para Daniele, esse trabalho é um estímulo à propagação do prazer em desenvolver concepções críticas sobre arte. Ideia que também enaltece o entusiasmo da curadora para compartilhar o conhecimento não apenas como crítica, mas enquanto a ocupação do espaço como artista teatral.
"Eu me pergunto na peça o porquê me dediquei a crítica de teatro durante tanto tempo, em vez de me dedicar à minha vida de artista.Uma das respostas é porque, se realmente é pensar sobre as obras de artes é a minha forma de pensar sobre o mundo. A minha experiência de estar no mundo é ampliada pela minha experiência de fruição das obras de arte”, detalha a curadora Daniele Avila Small.
O contexto cultural dinâmico e econômico ofusca as questões de teor crítico que uma obra pode carregar. A dificuldade ao acesso de conteúdos bem construídos e embasados em pesquisas histórico-sociais acendem com pouco financiamento e atenção que é cedido a obras e profissionais que abraçam esse viés, segundo pontua Small.
Também estende à classe artística a responsabilidade de difusão do questionamento da essência dos projetos teatrais. "A existência da crítica de teatro é parte da prática artística e deve partir dos próprios artistas, são esses profissionais que devem assumir essa responsabilidade pela fala e pela discussão pública sobre o teatro", salienta a atriz.
Diante de um cenário pós-pandêmico, com resquícios da gestão presidencial anterior, o setor artístico ainda tenta se reerguer no País. Ao longo dos quatro anos de governo, Bolsonaro cortou os recursos da Cultura. Em 2022, os investimentos da União no setor caíram 63% em relação a 2018, de acordo com dados do portal da transparência.
Sobre os movimentos da cena do teatro durante a pandemia e período sucessor, a carioca pontua a inovação a partir do momento de crise. "Se a gente puder pensar assim por um outro ponto de vista, eu acho que ficou visível também que o teatro tem um espaço para explorar que é a internet. Também pode estar nesse universo da comunicação via Internet como uma possibilidade de transição. Durante a pandemia eu via muitos espetáculos online de outras cidades e grupos plurais", destaca.
Assim como o cenário pandêmico trouxe à tona novas maneiras de comunicação e trabalho, Daniele Avila Small também apresenta um novo formato do seu trabalho "Questão de Crítica". Voltada a plataforma do Youtube, com a finalidade de democratizar o conteúdo e atingir novos públicos. O projeto consolidado no Rio de Janeiro em março de 2008 é uma premiada revista eletrônica focada em críticas, análises e estudos teatrais que contrapõe à visão predominante da crítica jornalística na cidade.
"Comecei a fazer ações no YouTube, é um espaço muito interessante para o teatro ocupar. Porque pode ter esse lugar do audiovisual, da comunicação, da gente ver a pessoa que fala que é diferente da escrita. Eu faço ações com pouco fôlego ainda, mas acho que para esse momento é importante para a Questão de Crítica, pois já tô fazendo uma última edição agora, porque ela vai deixar de ser uma revista."
A crítica teatral e artista passa pela na Capital com agenda lotada. Neste sábado, 23, às 20 horas acontece a performance de "O museu sem fim de 1976", na sala de Teatro da Porto Iracema. Já no domingo, 24, às 20 horas, apresenta-se no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Para dar continuidade às festividades do Dia Mundial do Teatro, na quarta-feira, 27, a curadora realiza às 9h30min palestra-oficina "Crítica teatral: uma escrita criativa" no auditório do Centro Cultural do Banco do Nordeste, no Centro.
"Museu sem fim de 1976"