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Glória Diógenes reflete sobre a pluralidade feminina em novo livro
Vida & Arte

Glória Diógenes reflete sobre a pluralidade feminina em novo livro

Primeiro livro de contos da autora cearense Gloria Diogenes põe em evidência o poder feminio e leva o leitor a criar distopias sobre sua realidade
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 21.03.2024: Gloria Diogenes lança livro AVARIAS. (Foto: Aurélio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 21.03.2024: Gloria Diogenes lança livro AVARIAS. (Foto: Aurélio Alves/ O POVO)

Avarias, "Há várias de nós": esse é o trocadilho que Glória Diógenes, antropóloga urbana e professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, descreve sobre seu primeiro livro de contos. Cenários do sertão à capital urbana são retratados de maneira que levam o leitor a criar distopias sobre sua realidade e refletir acerca da sociedade que se vive.

O livro “Avarias”, publicado pela editora Urutau, é composto por 28 contos, com narrativas permeadas por "muitas marcas de força" e que põem a figura feminina em evidência. O lançamento acontece em Fortaleza no próximo dia 27 de março, na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece).

Na publicação, as palavras carregam histórias ou são vislumbres do que não chegou a acontecer. "Essa mulher que escreve espera ainda a outra que nunca chegará", diz a narradora de "Carta à filha que não nasceu", um dos contos do livro, cuja prosa lança o leitor ora ao silêncio, ora à fulguração luminosa das palavras.

Para Glória, a vontade de escrever um livro sobre contos surgiu após a pandemia da covid-19, quando sentiu a necessidade de dialogar com ela mesma a respeito das suas dimensões simbólicas de existência.
"Depois da pandemia, eu me dediquei a fazer o que chamo de arquivo de palavras interessantes com anotações e pensei que dali eu poderia fazer meu livro de contos. Fui convocada a dialogar comigo, meu inconsciente, imaginário e aí a necessidade da escrita veio", revela.

Como sua nova obra é toda composta por contos, a autora detalha que durante a construção das histórias muitas vezes nem ela mesma sabia que rumo iria tomar, nem o título a ser usado.

"Escrever não é um ato mecânico, programado, preconcebido, é um exercício, um caminhar, uma forma de experimentação do caminho a se tomar. Eu gosto de sentir que, ao escrever, estou também criando para mim um acontecimento. Criando algo novo, se é um inesperado até para mim, deverá ser para o leitor", expõe.

A mulher em evidência nas histórias é algo que Diógenes viu como necessário para abordar todas as mulheres que existem dentro dela e de tantas outras, muitas vezes silenciadas e apagadas da história.
"Eu perdi uma filha com 19 anos. Esse livro tem muita conexão com ela, a Raquel. Foi minha cena inaugural, eu era uma menina que tinha acabado de perder uma menina. E eu tive um relacionamento muito complexo com minha mãe, então essas várias personagens que eu abordo no livro não estão só em mim, elas podem estar em outras mulheres com problemas com a mães, que perderam seus filhos, que estão partidas à beira do cais", declara.

Glória teve uma infância marcada pela diversidade de vida e cultura, na mudança de uma metrópole como o Rio de Janeiro, cidade que nasceu, para a pequena Russas, no interior do Ceará, de onde tirou inspiração para as várias histórias do seu novo trabalho. Morou na cidade dos três aos oito anos, até mudar-se para Fortaleza.

Atualmente, a socióloga enxerga como rico o cenário da arte para mulheres da capital cearense, mas que, ao mesmo tempo que isso acontece, também existe um cenário heterogêneo.

"Fortaleza é uma cidade que fervilha e pulsa arte. É uma cidade que é interessante porque ela é muito contraditória, desigual e múltipla também. Captura mentes e corações, que fala com a linguagem marcadamente local e fundamentalmente universal. Então há uma arte entre mulheres que ultrapassa muito o que se espera delas, rompe as estruturas normativas, ela é teimosa, ela é rebelde e muitas das mulheres têm essa ‘fortaleza’ nas artes, na literatura", opina a professora.

Para a antropóloga, com a recente demolição do Edifício São Pedro, um dos símbolos da Praia de Iracema, fica evidente que a Capital é um local com fome de novidade e que possui fascínio pelo novo, mas que também dá as costas para sua história e seus marcos de lembrança.

"Fortaleza e seu relicário de ruínas condensam uma história urbana cujo mote é a novidade. Uma cidade em constante 'mostra' de reconstrução, imagens de uma decantada modernidade. Ela vai acabando, apagando seus laços de memória e quando apaga esses laços ela se apaga. É uma cidade que se apaga para acender de novo", expõe a antropóloga.

E continua: "Fortaleza possui lugares que contam a história da cidade e nem sempre são monumentos, às vezes são lugares invisíveis, lugares que contam a vida daquelas pessoas que habitam aquele lugar, que fazem sentido para aquelas pessoas".

Lançamento do livro Avarias

Quando: quarta-feira, 27 de março, às 28 horas

Onde: Biblioteca Estadual- Av. Pres. Castelo Branco, 255 - Moura Brasil

Programação gratuita; o livro será vendido por R$ 48

 

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