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Selva Amazônica: como é se hospedar na maior floresta tropical do mundo?
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Selva Amazônica: como é se hospedar na maior floresta tropical do mundo?

Segundo levantamento divulgado pelo Governo do Amazonas, relativo ao 1º semestre de 2023, o turismo injetou mais de R$ 420 milhões na economia do Estado
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Registros da selva amazônica (Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Registros da selva amazônica

"O turismo é que vai salvar a Amazônia, não a agricultura". Esta foi a frase que escutamos de Chico Preto, como é conhecido por todos em Autazes, município do Amazonas, durante um passeio para visitar a sua casa. 

Segundo ele, antigamente havia muito desmatamento na região — não que os números tenham diminuído de lá para cá. Mas, na década de 1980, um gringo suíço trouxe o turismo para a região e fez diversas palestras na tentativa de conscientizar aquelas pessoas. Bom, funcionou para Chico Preto.

Ele não está errado: segundo o último levantamento divulgado pelo Governo do Amazonas, que diz respeito ao primeiro semestre de 2023, o turismo injetou mais de R$ 420 milhões na economia do Estado.

Registros da selva amazônica(Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Registros da selva amazônica

A visita à casa de Chico Preto foi o último dos passeios oferecidos pelo "Juma Amazon Lodge", hotel de selva fundado em 1998, em parceria com a Gol Linhas Aéreas e a Smiles Viagens.

Assim, os passeios são organizados pelo próprio hotel por meio de roteiros pré-definidos, que estão sujeitos a alterações, dependendo das condições climáticas. 

Ao longo dos três dias, O POVO pôde conhecer um pouco mais sobre a fauna, a flora, as tradições e as histórias que a selva amazônica, com aproximadamente cinco milhões de quilômetros quadrados (km²) de floresta, guarda. Confira um guia completo da viagem.

Caminho até o Juma Amazon Lodge

Mas como chegar ao Juma Amazon Lodge? Como a chegada em Manaus foi durante noite, foi preciso dormir na capital amazonese, no hotel Juma Ópera, onde fomos recebidos com um suco regional de cupuaçu.

No outro dia, pela manhã, começou a aventura para ir ao Juma Amazon Lodge, bem no meio da Floresta Amazônica, em Autazes. Para chegar lá, é preciso pegar duas vans e duas lanchas, sendo que o trajeto tem duração de cerca de 3h30min.

Durante o percurso é possível ver, ainda, o encontro das águas entre os rios Negro e Solimões, no qual há até uma diferença de temperatura. É um pouco depois desse momento que o sinal das operadoras começa a falhar, sendo que, no hotel, é possível acessar o Wi-Fi apenas em uma casa específica. A ideia, segundo a sócia-proprietária, Cida Ikeda, é realmente se desconectar.

Encontro das águas entre os rios Negro e Solimões(Foto: Fabiana Melo)
Foto: Fabiana Melo Encontro das águas entre os rios Negro e Solimões

O passeio pode parecer longo, mas é o primeiro contato que você terá com a natureza e, no fim, passa mais rápido do que o esperado. Então, a dica é: aproveite e sinta o visual.

Com isso, chegamos no Juma Amazon Lodge, que fica em uma reserva de quase sete mil hectares. O hotel possui apenas 20 bangalôs, com sua construção totalmente integrada à floresta. De fato, é uma experiência imersiva.

Por isso, foi construído em terra firme sobre palafitas, na copa das árvores. São seis bangalôs com vista para a floresta, dez com vista para o Rio Juma, dois especiais para famílias, um panorâmico e um presidencial.

Amanhecer no Rio Juma(Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Amanhecer no Rio Juma

De início, foram apresentados os guias nativos que nos acompanhariam durante os passeios por três dias na selva: Artêmio, Marcos e Nelson.

Em uma conversa com o Nelson, inclusive, o guia explicou que o trabalho deles geralmente é quinzenal, mas, na época de alta estação, a frequência aumenta. Além do mais, começou no turismo com 13 anos — hoje tem 30 — e conseguiu aprender inglês sozinho, apenas lendo e praticando, por causa do trabalho.

O pacote faz parte do roteiro Uirapuru, de cinco noites, da Smiles Viagens. O custo para realizar a viagem é a partir de R$ 11.840, com refeições inclusas, mas vale lembrar que o ponto de partida é Manaus e a passagem aérea não está inclusa no valor.

Além disso, existe uma diferença entre os períodos do ano (seca ou cheia). Por exemplo, na seca o período de pesca é mais atrativo, já que fica mais fácil de visualizar os peixes. Na cheia, é possível fazer também, só que comum pouco mais de dificuldade. Assim, o roteiro pode ser realizado em qualquer época, mas, talvez, com experiências diferentes.

Quais passeios podem ser feitos?

Pesca de piranha

Logo no primeiro dia, saímos em um barco para pescar a famosa piranha e também outros peixes da região amazônica.

Fomos em três locais diferentes para tentar achar algo e, na segunda tentativa, o guia encontrou um tucunaré, peixe muito conhecido na região que pode chegar a 92 centímetros.

Já a piranha foi encontrada no terceiro local, depois de muita busca. É importante destacar que todos os animais retornam para o rio. Além disso, a pesca é mais fácil na época da seca, pois na cheia os peixes se escondem nos igapós e o acesso é mais difícil.

Pesca de piranhas(Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Pesca de piranhas

Escalada na árvore

O Juma tem uma parceria com a Amazon Tree Climbing, uma empresa especializada em escalada em árvores, o que possibilita outra perspectiva da floresta.

Nesta, foi possível escalar uma castanheira de mais de 40 metros. É claro, com os equipamentos necessários.

Os guias são atenciosos e explicam como funciona o processo da subida, o que pode aliviar o medo que alguém possa sentir ao tentar. No fim, a sensação de ver a floresta por outro ângulo é inexplicável.

Contudo, é importante destacar que o passeio não é recomendado para quem tem medo de altura ou possui algum problema na coluna.

Sumaúma

Outro passeio foi a visita a uma enorme Sumaúma, de aproximadamente 100 anos. A Sumaúma é considerada a maior árvore da Floresta Amazônica tanto em altura (atingindo até 40 metros), quanto em diâmetro do tronco.

A que visitamos, o guia Marcos afirmou que possuía cerca de 200 a 250 anos. É possível também passar por debaixo dos buracos que existem na árvore e realizar um pedido. Durante o caminho, vários botos — tanto o rosa quanto o cinza — deram as caras no meio do rio.

Torre de observação

Com 31 metros de altura, a estrutura é exclusiva para quem se hospeda no hotel, com vista para a mata e o Rio Juma a partir de uma outra perspectiva — ideal para os que não conseguirem fazer a escalada.

O local também é atrativo para os fãs de birdwatching, pois conseguem avistar diferentes espécies de aves.

E, assim como outras áreas do Juma Amazon Lodge, a torre de observação foi projetada e construída de forma sustentável. Sua estrutura é feita com ferro e madeira de manejo, retirada dos mais de sete mil hectares de propriedade do hotel.

Focagem noturna

Durante a noite, saímos de barco para observar jacarés, sapos e pássaros durante 1 hora. Para conseguir vê-los, o guia utiliza apenas uma lanterna.

A partir dela, o guia Artêmio explicou que é possível localizar os animais noturnos por causa do olho, que brilha quando a luz foca nos animais. O passeio é feio praticamente às cegas, já que não é possível enxergar quase nada na escuridão amazônica.

Amanhecer no Rio Juma

Durante o amanhecer, consegue-se observar as mudanças de cor do céu amazônico sob o canto dos pássaros dentro do rio.

A saída aconteceu ainda no escuro para chegar em um local que desse para ver o nascer do sol. Porém, só quando chegamos perto do hotel foi possível ver algo.

Caminhada na floresta com churrasco

Neste passeio, feito sempre em trilhas pouco exploradas, os guias passam noções de sobrevivência na floresta, explicações sobre a vida selvagem amazônica e também mostram plantas que são comestíveis, medicinais e úteis para várias outras necessidades.

No total, foram duas horas e meia de caminhada. Logo após, foi servido um churrasco na floresta, baseado na culinária regional e feito na brasa. Assim que o almoço acabou, havia a opção de armar redes para descanso em meio à floresta.

Passeio de canoa a remo

Este passeio é um feito de canoa a remo pelos igarapés (riachos) e igapós (floresta inundada, mais visível durante o período da cheia dos rios). Durante o percurso, é possível ouvir os barulhos misteriosos da floresta.

Plantio de árvore

É disponibilizada uma muda de árvore nativa para plantio na própria floresta. A atividade é uma ação de conscientização para entender a importância da preservação.

Visita à casa de um caboclo

Neste passeio, um caboclo passa conhecimentos sobre plantas medicinais e demonstra, dentre outras coisas, como é feita a farinha de mandioca, principal atividade econômica da região.

Lá, também deu para provar o beiju feito na hora, além de tomar um caldo de cana. Além disso, o guia Nelson nos deu Jambu, planta nativa da região amazônica, para provar. A iguaria, inclusive, é famosa por deixar a região da boca dormente.

Casa de moradores da região integram percurso turístico (Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Casa de moradores da região integram percurso turístico

O que levar na mala para curtir a Floresta Amazônica?

Uma recomendação do hotel é que o turista leve pouca bagagem, por exemplo, uma mala de até 10 quilos (kg). Isso porque tem muitas trocas de meios de locomoção para chegar ao hotel. 

Para não carregar tanto peso, é melhor calcular um conjunto de peças para o dia e outro para à noite, considerando o número de dias que você ficará hospedado na floresta.

Além disso, roupas leves, que sequem rápido e que sejam respiráveis são as que combinam melhor com o clima da Amazônia.

Outro ponto importante sobre as roupas são as cores, visto que as neutras (verdes claros, nuances de cinza, bege) são mais indicadas por facilitarem que você se camufle com a floresta.

Dessa forma é mais difícil de espantar animais que você pode encontrar pelo caminho. Veja abaixo os itens recomendados pelo hotel:

  • Atividades ao ar livre
  • Camisetas leves (dry-fit)
  • Camisetas de manga longa
  • No mínimo duas calças (Cargo, tactel, polyester, nylon…)
  • Tênis confortáveis ou botas de trekking
  • Boné ou chapéu
  • Meias compridas e confortáveis que você possa usar sobre a barra da calça
  • Capa de chuva
  • Binóculos
  • Óculos de sol
  • Protetor solar (ou mesmo protetor solar à prova d'água
  • Repelente (porém é importante saber que na região do Juma o nível da acidez da água é alta e os mosquitos não se reproduzem)
  • Câmera
  • Mochila ou uma boa pochete
  • Lenço ou echarpe (Protege do sol, de insetos e você pode molhá-lo e depois usá-lo para ajudar a abaixar a temperatura)
  • Sacolas impermeáveis para proteger os equipamentos eletrônicos

Gastronomia amazônica é uma experiência à parte

O Restaurante do Juma, assim como o restante do hotel, foi construído sobre palafitas e tem vista para o Rio Juma. Mas a alimentação é uma experiência tão única que merece um destaque à parte.

Para o café da manhã e o almoço, a comida é servida em buffet, enquanto, no jantar, existe um cardápio à la carte para o hóspede escolher a entrada, o prato principal e a sobremesa.

Restaurante do Juma oferta cardápio regional, sem abrir mão da gastronomia internacional(Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol)
Foto: Fernanda Guimarães/Marketing Gol Restaurante do Juma oferta cardápio regional, sem abrir mão da gastronomia internacional

Por isso, é possível encontrar tanto a culinária típica local quanto cozinha internacional. A decoração é rústica, com longas mesas e bancos esculpidos em madeira.

No café da manhã, tem diversas opções disponíveis para consumo, mas o destaque é da tapioca feita na hora e das frutas amazônicas — que podem ter gostos diferentes dos outros locais por conta da colheita —, além do açaí.

Já no almoço, alguns pratos, é claro, são da cozinha tradicional brasileira como arroz e feijão, mas também tem a opção de se aventurar por sabores diferentes você pode experimentar a gastronomia local da Amazônia.

Durante os dias hospedados, o almoço sempre contava com opções de peixes, como o pirarucu, famoso por ser o maior peixe de água doce do mundo e o tambaqui, além da carne vermelha. Para a sobremesa, havia a opção de bolos, assim como um pudim de cupuaçu.

Em relação ao jantar, os pedidos sempre eram feitos assim que o almoço terminava. Por isso, foram oferecidas diversas opções, por exemplo, o filé de pirarucu com crosta de castanha e purê de banana picante ou rosbife com molho de açaí acompanhado de batatas ao murro e farofinha de alho.

Durante a sobremesa, o hóspede pode provar os mousses de cupuaçu, assaí ou maracujá, a depender do dia. É possível, ainda, escolher provar as frutas laminadas.

Para casos de restrição alimentar, o hotel recomenda que entre em contato antes da hospedagem para resolver a questão.

*A jornalista viajou a convite da Gol Linhas Aéreas e Smiles Viagens

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