Neide Oliveira é atriz, diretora e autora da peça ‘As Margens - A Paixão de Cristo’ sentia a vocação pelas artes cênicas desde os cinco anos de idade, quando se apresentava na escola. No decorrer dos anos, a dramaturga se especializou em Arte e Educação pela Faculdade Vale do Jaguaribe e atuou como professora de teatro infantil e educadora musical.
Em 2015 a diretora concluiu o Curso de Princípios Básicos (CPBT) do Theatro José de Alencar, e em 2017 a partir da parceria entre os formandos deu origem à fundação do Grupo Avia de Teatro. São mais de 13 espetáculos desenvolvidos e produzidos pelo grupo, sendo referência na apresentação da peça da Paixão de Cristo.
Ao O POVO, Neide Oliveira, diretora e produtora teatral, afirma que a ideia de desenvolver a peça surgiu com o objetivo de apresentar uma nova perspectiva da história religiosa e democratizar o acesso de pessoas em situação de rua à cultura.
Neide Oliveira - A pesquisa desse espetáculo surgiu em 2017 junto com a fundação do grupo Avia de Teatro. Eu queria montar uma Paixão de Cristo diferente, o grande desafio de se montar esse tipo de peça porque todo mundo já sabe o enredo. Então eu disse: Preciso de uma figura diferente para ser Jesus. Durante esse processo a gente já ensaiava no José de Alencar outra peça, um dia fui atravessar a praça do Ferreira e vi uma criança recém-nascida em um colchão sujo, sem ninguém olhando por ela, embaixo de uma árvore bem rala. Aí eu vi para aquilo e observei as pessoas passando indiferente, então eu disse: E se Jesus nascesse hoje como ele nasceu vulnerável naquela época? E se ele vivesse em Fortaleza, no Ceará? Ele seria uma pessoa em situação de rua? Estaria aqui na Praça do Ferreira? A gente iria reconhecer? Aí pronto, me deu aquele estalo para fazer a Paixão de Cristo como se Jesus fosse uma pessoa em condição de rua. Decidi em adaptar para essa linguagem de juntar o sofrimento de Cristo ao sofrimento dessas pessoas e não só mostrar Paixão de Cristo, mas acordar o público que acha que essas pessoas são invisíveis, colocando nelas um personagem que é amado por várias pessoas, de diversas religiões e também mostrar todos têm o direito ao acesso à cultura, levando a peça para a rua.
Neide - Muitas vezes o público em situação de rua não conseguem entrar no teatro porque não tem uma roupa adequada, e existe um estereótipo que intimida, mas quando a pessoa entende que ela tem acesso à cultura, ela pode começar a entender que tem ter acesso a outras coisas básicas também como educação, saúde, moradia e respeito. Enfim, esse tipo de peça no espaço público e a ‘As Margens - A Paixão de Cristo’ surgiu com esse sentimento de fazer a diferença, assunto importante para falar no ciclo Pascal, mas também tem a ideia de mostrar a realidade dura das ruas e apresentar para essas pessoas em situação de vulnerabilidade que a cultura É sim o direito delas e trazer um impacto.
Neide Oliveira: Eu acredito que esse projeto todo ano cria mais robustez, fica mais conhecida, não para pelo grupo, mas pela causa. Acho que é essas que essa cultura de enxergar o próximo a cultura de entender que é importante ter acesso a própria cultura. Desejo que ela possa crescer e ser encontrada pelas pessoas de todas as idades, situações e raças, porque a cultura ela leva dignidade e faz você pensar sobre si, a sociedade e o outro. Então, a minha expectativa para o ciclo Pascal é que essas pessoas possam ser enxergadas e que possamos dar continuidade nessa tradição que carrega empatia em nossa cidade.
Neide - Há algum tempo a gente está passando em alguns editais de fomento à cultura, esse ano estamos sendo apoiados pela Secretaria de Cultura do Governo do Ceará e também pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Fortaleza para apresentar a Paixão de Cristo. Todo ano a gente altera algo no roteiro da peça, a gente muda coisas de cena, adiciona o que vamos vivendo na temporada daquele ano e vemos o que seria interessante trazer para essa realidade. Começamos os ensaios gerais em fevereiro, com preparação vocal para contagem da peça, entre a produção, a divulgação das redes sociais, a confecção de panfletos, a contratação das pessoas que se envolvem no projeto, o frete e alimentação de todas essas coisas o maior desafio é como um grupo independente uma carcaça todas essas coisas de pensar desde o café até a chuva que vai cair. Então basicamente nós fazemos tudo, né? Esse é o grande desafio dos grupos independentes.