Maior multiplicidade de linguagens, corpos e poéticas, além de navegar por discussões em torno da terra, do corpo e da espiritualidade: essas são algumas das características presentes na 75ª edição do Salão de Abril, importante evento voltado às artes visuais no Ceará. Em exibição até junho, a mostra homenageia o pintor cearense Descartes Gadelha.
Formada por 38 obras de artistas nordestinos, a nova edição reúne trabalhos de nomes como Fernanda Siebra, Amanda Nunes, David Felício & Jorge Silvestre, Dhiovana Barroso, Pedra Silva, Rodrigo Lopes e VORS. A mostra é sediada novamente no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim e reúne instalações, fotografias, pinturas, ilustrações e performances.
Algumas das obras são a pintura "Ato I: Brasileirismo", de Vors; a instalação "Breu Febril", de Wallace Douglas; a escultura "Oferendas de Tanayu'ra", de Pedra Silva; o videoarte "Comigo Mais de Mil", de Larissa Ribeiro; e a colagem "Êxodo", de Fernanda Siebra. Os trabalhos foram selecionados pelos curadores Aldonso Palácio, Cecília Bedê, Junior Pimenta e Lucas Dilacerda.
Segundo Dilacerda, as questões e os pensamentos que rondam a exposição nascem “das próprias obras”. Assim, estão presentes nesta edição discussões em torno da terra, do corpo e da espiritualidade “em suas infinitas camadas e elaborações”.
Como aponta o curador, houve uma busca por uma “maior multiplicidade de linguagens, corpos, gêneros, raças, etnias, gerações e poéticas”. Para Dilacerda, em todas as obras é possível perceber “um desejo de transformação”, seja de estruturas sociais ou de estruturas que limitam a percepção, imaginação, o corpo e a sensibilidade.
“O ensinamento deste salão é que o desejo é signo de transformação. Desejo não é vontade, nem falta. Desejar é criação, invenção, fabulação. Desejar a transmutação do corpo e do mundo”, compreende.
A exposição destaca Descartes Gadelha, pintor conhecido por ter uma obra com “lirismo singular” que retrata a sensibilidade do comportamento humano e representa de forma autêntica personagens populares nordestinos, a partir da observação do cotidiano. Uma de suas obras expostas é “Côrte Mascarada, Maracatu Flor da Senzala", da série “Covid-19”, pertencente à coleção “Fé e Esperança”.
Para Luís Costa, ator e Diretor de Ação e Produção Cultural do Instituto Cultural Iracema, o Salão de Abril tem se modernizado ao levar diferentes tipos de artes ao seu espaço, não se “resumindo a quadros pintados, mas com ações performáticas onde o artista faz parte da própria obra com a utilização de seu corpo”. “O Salão de Abril é um marco importante para a arte não só em Fortaleza, mas no Brasil todo”, acrescenta.
Secretário da Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira concorda e acrescenta: “O Salão de Abril tem sido muitas vezes uma porta de entrada na vida cultural da Cidade e do País para artistas que mostram seu trabalho na exposição. É uma política cultural estabelecida em Fortaleza e responsabilidade de todo gestor que chegar na Secretaria da Cultura para mantê-la, pois não é à toa que o Salão chega à 75ª edição com todo o brilho que tem”, analisa.
Pelo segundo ano consecutivo, o Salão de Abril é realizado em abril, algo que, segundo Elpídio Nogueira, não foi possível em anos anteriores devido à pandemia. A ideia, agora, é que o evento tenha definitivamente esse período marcado no calendário: “Nossa ideia é consolidar a exposição sempre iniciando no mês de abril e com dois a três meses de duração. Deixaremos isso como política já estabelecida na Secultfor para que os novos gestores saibam, ao chegarem, que já há essa agenda cultural em abril”.
Artistas do 75º Salão de Abril
Evento
Pelo segundo ano consecutivo, o Salão de Abril é realizado em abril. Em outras edições, o evento chegou a ser promovido até em setembro, como em 2017, quando foi realizado sem apoio da Prefeitura.
75º Salão de Abril